11/03/2018

1. friendship


Dois anos, sete namoradas, dois namorados,
nove términos e uma amizade
ainda mais forte depois.

Assisti a um documentário sobre tortas.

Passei duas horas da minha vida sentado em frente a uma televisão pequena, assistindo a
um DVD da locadora sobre a história das tortas. As tortas remontam à época dos antigos
egípcios. A primeira de que se tem registro foi criada pelos romanos, foi feita com queijo de cabra e mel e coberta com centeio. Parecia ser muito nojenta, mas, de alguma forma, no final do documentário, tudo que eu queria era comer aquela maldita torta.
Eu não era muito de comer tortas, gostava mais de bolos, mas, naquele momento, eu só
conseguia pensar em comer aquela massa folheada e crocante.
Eu tinha todos os ingredientes necessários para prepará-la. A única coisa que me impedia
de fazer isso era Shay, minha agora ex-namorada, para quem mandei algumas indiretas nas últimas horas.
Eu era péssimo em terminar relacionamentos. Na maioria das vezes, enviava mensagens
de texto com um simples “não está dando certo, desculpe” ou dava um telefonema de cinco segundos, mas Demi havia me dito que terminar com alguém pelo telefone era a pior coisa que uma pessoa poderia fazer.
Então, eu tinha que me encontrar com Shay. Péssima ideia.
Shay, Shay, Shay. Quem me dera não ter transado com ela. Três vezes. Depois que eu terminei com ela. Mas agora já passava de uma da manhã e...
Ela. Não. Ia. Embora.
Também não parava de falar.
Nós estávamos em frente ao meu prédio, e caía uma chuva fria. Eu só queria ir para o meu quarto e relaxar um pouco. Era pedir muito? Fumar um baseado, ver outro documentário e fazer uma torta. Ou cinco tortas.
Queria ficar sozinho. Ninguém gostava mais de ficar sozinho do que eu.
Meu celular apitou e vi o nome de Demi aparecer na tela.
Demi: Já fez a boa ação?
Sorri, sabendo que ela se referia ao término com Shay.
— Sim.
Vi os três pontinhos aparecerem no meu telefone, indicando que ela estava respondendo.
Demi: Mas você não transou com ela, transou?
Mais pontinhos.
Demi: Meu Deus, você transou com ela.
Mais pontinhos.
Demi: O que houve com as indiretas?
Não pude deixar de rir, porque ela me conhecia melhor do que ninguém. Nos últimos dois
anos, eu e Demi nos tornamos melhores amigos, apesar de sermos o extremo oposto um do outro. A irmã mais velha dela estava namorando meu irmão Nicholas, e, no começo, nós
achávamos que não tínhamos nada em comum. Ela ia à igreja, enquanto eu fumava maconha na esquina. Ela acreditava em Deus, enquanto eu enfrentava meus próprios demônios. Ela tinha um futuro, enquanto eu, de alguma forma, parecia preso no passado.
Mas tínhamos, sim, algumas coisas em comum, e, de um modo estranho, elas davam
sentido à nossa amizade. A mãe dela apenas a tolerava, a minha me odiava. O pai dela era um idiota, o meu era satanás em pessoa.
Quando percebemos as pequenas coisas que tínhamos em comum, passamos mais tempo juntos, e nossa amizade se fortaleceu ainda mais.
Ela era a minha melhor amiga, o ponto alto dos meus dias de merda.
— Transei com ela uma vez.
Demi: Duas vezes.
 Sim, duas vezes.
Demi: Três vezes Joseph? Meu Deus!
— Com quem você está falando? — choramingou Shay, e meu olhar se desviou do telefone.
— Quem poderia ser mais importante do que a nossa conversa agora?
— Demi — respondi sem rodeios.
— Sério? Ela simplesmente não consegue largar do seu pé, não é? — reclamou Shay. Isso
não era novidade, todas as garotas com quem eu saí nos últimos dois anos tinham ciúmes de Demi e do nosso relacionamento. — Aposto que você transa com ela de vez em quando.
— É — eu disse.
Essa foi a primeira mentira. Demi não era fácil e, mesmo se fosse, não seria fácil comigo.
Ela tinha padrões, padrões aos quais eu não correspondia. Além disso, eu também havia
estabelecido padrões para os relacionamentos dela, padrões aos quais nenhum cara
correspondia. Ela merecia o mundo, e a maioria das pessoas em True Falls, Wisconsin, tinha apenas migalhas para oferecer.
— Aposto que ela é o motivo de você estar terminando comigo.
— Sim, é.
Essa foi a segunda mentira. Eu fazia minhas próprias escolhas, mas Demi sempre me
apoiava, independentemente de qualquer coisa. No entanto, ela nunca deixava de dar sua
opinião e sempre me dizia quando eu estava errado em meus relacionamentos. A sinceridade dela era dolorosa às vezes.
— Ela nunca levaria você a sério. Ela é uma boa menina, e você... Você é um merda! —
gritou Shay.
— Você está certa.
Essa foi a primeira verdade.
Demi era uma boa menina, e eu era o cara que nunca teria a chance de ficar com ela. Às
vezes, eu até olhava para aquele cabelo liso e pensava em como seria abraçá-la e saborear seus lábios lentamente. Talvez, em um mundo diferente, eu fosse bom o suficiente para ela. Talvez, em um mundo diferente, eu tivesse uma vida melhor e não fosse um merda.
Eu faria faculdade e teria uma carreira, algo que me daria muito orgulho. Então, eu a
convidaria para sair, a levaria a um restaurante chique e diria a ela que pedisse qualquer coisa no cardápio, porque dinheiro não era um problema.
Eu poderia dizer a ela que seus olhos sempre sorriam, mesmo quando ela franzia o
cenho, e que eu amava o modo como ela mordia a gola da camisa quando estava ansiosa ou entediada.
Eu poderia ser digno de ser amado, e ela me permitiria amá-la também.
Em um mundo diferente, talvez. Mas eu só tinha o aqui e agora, e Demi era minha melhor amiga.
Eu tinha sorte de tê-la dessa forma.
— Você disse que adorava ficar comigo! — as lágrimas de Shay rolavam por seu rosto.
Há quanto tempo ela estava chorando? Aquela garota era uma chorona profissional.
Olhei para ela e enfiei as mãos nos bolsos da minha calça jeans. Meu Deus. Ela estava
péssima. Ainda estava meio chapada, e a maquiagem, borrada, manchava o rosto todo.
— Eu não disse isso, Shay.
— Sim, você disse! Mais de uma vez! — jurou ela.
— Você está imaginando coisas.
Rastreei minha memória em busca do instante em que eu teria pronunciado aquelas
palavras, mas eu sabia que isso não havia acontecido. Eu não adorava ficar com ela, não a
amava, mal gostava dela. Meus dedos massagearam minhas têmporas. Shay realmente
precisava entrar no carro e ir para bem longe.
— Não sou idiota, Joseph! Eu sei o que você disse! — pelas suas palavras, ela acreditava
mesmo naquilo. Isso era muito triste. — Você disse isso hoje cedo! Lembra? Você disse que
adorava ficar comigo.
Hoje?
Ah, droga.
— Shay, eu disse que adoro trepar com você. Não que eu adoro ficar com você.
— É a mesma coisa.
— Acredite, não é.
Shay pegou a bolsa e me atacou, e eu permiti que ela me batesse. A verdade era que eu
merecia aquilo. Ela girou a bolsa de novo, e eu deixei que me atingisse mais uma vez.
Quando ela estava prestes a me atacar pela terceira vez, agarrei a bolsa e puxei-a. Pousei a mão na parte inferior de suas costas, e ela estremeceu ao meu toque. Pressionei seu corpo contra o meu. Sua respiração era pesada, e as lágrimas ainda rolavam por seu rosto.
— Não chore — sussurrei, usando meu charme para tentar fazê-la ir embora. — Você é
bonita demais para chorar.
— Você é um idiota, Joseph.
— E é exatamente por isso que você não deve ficar comigo.
— Nós terminamos há três horas, e você se tornou uma pessoa completamente diferente.
— Que engraçado — murmurei. — Porque, pelo que lembro, foi você que ficou diferente
quando saiu com Bradley.
— Ah, nem vem. Foi um erro. Nem rolou sexo. Você é o único cara com quem transei nos
últimos seis meses.
— Humm, estamos saindo há oito meses.
— Quem é você, um guru da matemática? Isso não importa.
Shay foi o meu relacionamento mais longo dos últimos dois anos. Na maioria das vezes,
meus casos duravam apenas um mês, mas fiquei com ela durante oito meses e dois dias. Eu não sabia exatamente por que, além do fato de sua vida ser praticamente idêntica à minha. A mãe dela também não era nada estável, e o pai estava na prisão. A irmã foi expulsa de casa pela mãe porque engravidou de um idiota. Ela não tinha ninguém.
Talvez a escuridão dentro de mim tenha se identificado com a escuridão que existia dentro dela. Nossa relação fazia sentido. Mas, à medida que o tempo passava, percebi que era justamente por causa das semelhanças que não dava certo. Nós éramos muito confusos. Estar com Shay era como olhar para um espelho e ver todas as minhas cicatrizes me encarando.
— Shay, vamos acabar com isso. Estou cansado.
— Certo. Eu esqueci. Você é o Sr. perfeito. Todo mundo toma decisões erradas na vida.
— Você saiu com o meu amigo, Shay.
— É isso mesmo: saí! E só fiz isso porque você me traiu.
— Eu nem sei como responder a isso, porque nunca traí você.
— Talvez não com sexo, mas emocionalmente, Joseph. Você nunca esteve cem por cento
nesse relacionamento. É tudo culpa da Demi. Ela é o motivo de você nunca ter se entregado a essa relação. Ela é uma vad...
Levei meus dedos à boca de Shay, interrompendo o fluxo de palavras.
— É melhor parar por aqui. — abaixei a mão, e ela permaneceu em silêncio. — Você sabia
como eu era desde o primeiro dia. É culpa sua pensar que poderia me mudar.
— Você nunca vai ser feliz com ninguém, e sabe por quê? Porque está obcecado por uma
garota que nunca vai ser sua. Você vai acabar triste, sozinho e amargurado. Então vai sentir falta de quando estava comigo!
— Você poderia ir embora?
Suspirei e passei as mãos pelo rosto. Aquilo era tudo culpa da Demi.
“Termine com ela pessoalmente, Joe. É assim que um homem de verdade deve agir. Você
não pode terminar com alguém pelo telefone.”
Ela tinha péssimas ideias de vez em quando.
Shay não parava de chorar.
Meu Deus, quantas lágrimas.
Eu não conseguia lidar com aquilo.
Depois de fungar algumas vezes, ela baixou os olhos. Pareceu ter recuperado a
autoconfiança, pois logo ergueu a cabeça novamente.
— Acho que deveríamos terminar.
Fiquei chocado.
— Terminar? Mas nós já terminamos!
— Acho que estamos seguindo caminhos diferentes.
— Ok.
Ela pousou os dedos em meus lábios para me silenciar, apesar de eu não estar falando
nada.
— Não fique tão chateado. Sinto muito, Joseph, mas não vai dar certo.
Eu ri por dentro, por Shay querer dar a impressão de que o rompimento era ideia dela. Dei
um passo para trás e cruzei as mãos na nuca.
— Você está certa. Você é boa demais para mim.
Por que você ainda está aqui?
Ela se aproximou de mim e tocou meus lábios com a ponta dos dedos.
Você vai encontrar alguém. Sei disso. Quero dizer, talvez ela seja meio desajeitada, mas, ainda assim...
Shay finalmente foi até o carro, abriu a porta e entrou. Quando o veículo começou a
andar, senti um aperto no estômago e percebi que havia cometido um erro. Comecei a correr debaixo de uma chuva torrencial, gritando seu nome.
— Shay! Shay! — berrei, acenando na escuridão.
Corri por pelo menos cinco quadras, até que ela parou em um sinal vermelho. Bati na
janela do motorista, e ela deu um grito, assustada.
— Joseph! O que você está fazendo? — perguntou ela, abrindo a janela. A expressão
confusa logo se transformou em um sorriso orgulhoso, e ela estreitou os olhos. — Você quer voltar, não é? Eu sabia.
— Eu... — bufei. Eu não era um atleta, isso era mais com o meu irmão. Tentei normalizar
minha respiração apoiando as mãos na beirada da janela. — E-eu... preciso de...
— Você precisa de quê? De que, meu bem? Do que você precisa? — perguntou ela,
acariciando meu rosto.
— Torta.
Ela recuou, confusa.
— O quê?
— Torta. As compras que eu fiz. Estão no banco de trás do carro.
Você está de sacanagem comigo? — gritou Shay. — Você correu atrás do meu carro por várias quadras por causa dos ingredientes de uma torta?
Arqueei uma sobrancelha.
— Humm, sim?
Ela esticou a mão até o banco de trás, pegou a sacola e atirou-a em meu peito.
— Você é inacreditável! Aqui está seu lixo, idiota!
Eu sorri.
— Obrigado.
O carro arrancou, e não pude deixar de rir quando a ouvi gritar:
— Você me deve vinte dólares pelo queijo de cabra!
Assim que subi os degraus e cheguei ao meu apartamento, peguei o telefone celular e
enviei uma mensagem de texto.
— Da próxima vez que eu terminar com uma garota, vou mandar uma mensagem de texto.
Demi: Foi tão ruim assim?
— Terrível.
Demi: Eu me sinto mal por ela. Ela realmente gostava de você.
— Ela me traiu!
Demi: E ainda assim você transou com ela três vezes.
— De que lado você está?
Pontinhos.
Demi: Ela é um monstro!
Estou tão feliz por ela não fazer mais parte da sua vida.
Ninguém merece ficar com uma pessoa tão psicótica.
Ela é nojenta.
Espero que ela pise acidentalmente em peças de Lego pelo resto da vida.
Essa era a resposta de que eu precisava.
Demi: Amo você, melhor amigo.
Li as palavras dela e tentei ignorar o aperto em meu peito. Amo você. Eu nunca dizia essas coisas para as pessoas, nem mesmo para minha mãe ou Nicholas. Mas, às vezes, quando Demetria Devonne Lovato dizia que me amava, eu meio que desejava poder dizer o mesmo.
Mas eu não amava ninguém.
Eu nem gostava de ninguém.
Pelo menos essa era a mentira que eu dizia a mim mesmo todos os dias para não me
machucar. A maioria das pessoas acreditava que o amor era uma recompensa, mas eu sabia que não. Tinha visto minha mãe amar meu pai durante anos, e nada de bom veio desse sentimento. O amor não era uma benção, era uma maldição, e, uma vez que você o deixava entrar em seu coração, ele o queimava por completo.

eu estou muito animada para postar esta história aqui pois acho que vai ser uma das melhores.
demorei mais voltei e aí o que acharam do capítulo?
ainda bem que o Joseph mandou a Shay ir embora hahaha.
Demi e Joseph não escondem o que sentem mesmo.
os próximos capítulos prometem.
me digam o que acharam e comentem aqui embaixo.
respostas do capítulo anterior aqui.

4 comentários:

  1. Continua.... Já vi que promete heim!!!

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    1. Promete sim, eu garanto hahaha.
      Vou postar hoje.
      Beijos, Jessie.

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  2. Me surpreendeu!! Continua, jessie!

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    1. Fico muito feliz amor que você esteja gostando.
      Vou postar mais hoje.
      Beijos, Jessie.

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