19/10/2016

breathe: capítulo 31


Andei na ponta dos pés até a cozinha, às seis da manhã, para não acordar Joseph. A casa estava em silêncio, mas eu sentia o aroma de café fresco invadindo os cômodos.
— Você também gosta de acordar cedo? — perguntou Mike, com uma caneca de café na mão. Só o seu sorriso já foi suficiente para que eu me sentisse péssima por ter tratado minha mãe e ele tão mal ontem à noite. Ele parecia ser simpático.
Mike pegou outra caneca e serviu café para mim.
— Açúcar? Leite?
— Puro — respondi, pegando a caneca da mão dele.
— Ah, temos algo em comum. Eu sempre digo que sua mãe bebe açúcar e leite com café, e não o contrário, mas, pra mim, quanto mais forte, melhor — ele sentou na banqueta da ilha da cozinha, e eu sentei ao seu lado.
— Preciso pedir desculpas a você, Mike. Ontem foi um desastre.
Ele deu de ombros.
— Às vezes, a vida é estranha. Você só precisa aprender a lidar com a esquisitice dela e encontrar algumas pessoas igualmente estranhas que vão te ajudar a seguir em frente.
— Minha mãe é a sua “pessoa estranha”?
Ele abriu um largo sorriso.
Ela é.
Os dedos dele seguraram a caneca com mais força, e ele ficou olhando para o café.
— Richard era uma pessoa horrível, Demi, e ele fez coisas imperdoáveis com Dianna. Quando eles foram ao meu consultório, naquele dia, vi como ele abusava dela. Eu o expulsei de lá, e ele a deixou pra trás, chorando. Cancelei todas as consultas daquele dia e permiti que ela ficasse sentada ali pelo tempo que precisasse. Entendo o fato de você achar que o que há entre nós não é real. Sei o que ela fez no passado, sei que usou e machucou outros homens, mas quero que você saiba que eu realmente amo a sua mãe. Amo muito, e vou passar o resto da minha vida protegendo-a.
Minha mão tremia, a caneca balançava.
— Ele machucou a minha mãe? Ela estava ferida, e eu disse aquelas coisas terríveis pra ela ontem à noite...
— Você não sabia.
— Não importa. Eu nunca deveria ter falado aquilo. Se eu fosse ela, não me perdoaria.
— Ela já te perdoou.
— Quase esqueci que vocês dois acordam com as galinhas — mamãe bocejou ao entrar na cozinha. Ela ergueu uma sobrancelha. — O que aconteceu?
Levantei correndo e a abracei.
— Demi, o que você está fazendo? — perguntou ela.
— Dando os parabéns pelo seu noivado.
Seu rosto se iluminou.
— Você vai ao casamento?
— É claro que vou.
Ela me abraçou com força.
— Estou muito feliz, porque o casamento vai acontecer em três semanas.
— Três semanas? — perguntei em voz alta. Parei e me contive. Mamãe não precisava da minha opinião agora, ela precisava do meu apoio. — Três semanas! Maravilha!
Mamãe e Mike foram embora algumas horas mais tarde, depois de brincarem de zumbi com
Elizabeth, inclusive com o sangue de ketchup. Joseph, Elizabeth, Zeus e eu sentamos no sofá por um tempo, até que Joseph se apoiou nos cotovelos, olhou para mim e disse:
— Vamos fazer umas compras pra minha casa?
Ainda precisávamos resolver os últimos detalhes da decoração, coisas com que ele não se importava, como almofadas, quadros e pequenos itens que eu adorava.
— Claro — vibrei. Adorava um motivo para fazer compras.

***

— Essas são feias, Pluto! — exclamou Elizabeth, franzindo o nariz quando Joseph escolheu almofadas roxas e cor de mostarda para seu sofá.
— O quê? Essas são ótimas
— Parecem cocô — Elizabeth riu.
Tive que concordar com ela.
— Até parece que você quer deixar a casa medonha, depois de Elizabeth e eu termos nos empenhado tanto para deixá-la maravilhosa.
— É isso aí — concordou Elizabeth. — Parece mesmo — ela jogou o cabelo por cima do ombro. — Você devia deixar isso com a gente.
— Vocês não são fáceis.
Elizabeth ficou de pé no carrinho de compras e arremessou algo na direção de uma pessoa.
— Perdão — disse Joseph rápido, antes de ver quem era.
— Tio Stephen — gritou Elizabeth, saindo do carrinho e correndo para abraçá-lo.
— Oi, menininha — respondeu Stephen antes de colocá-la no chão.
— O que aconteceu com o seu rosto? — perguntou ela.
Stephen olhou para mim. Vi os machucados da noite anterior no rosto dele. Uma grande parte de mim queria confortá-lo, mas a outra queria dar um tapa na cara dele pelo que falou para Joseph.
— Joseph, você poderia levar Elizabeth para escolher alguns quadros? — pedi.
Joseph gentilmente pousou a mão em meu braço.
— Você está bem? — sussurrou ele.
Fiz que sim com a cabeça. Eles se afastaram, mas antes Joseph se desculpou com Stephen, que não disse uma palavra sequer em resposta. Quando ficou sozinho comigo, no entanto, ele despejou uma série de comentários ofensivos.
— Sério, Demi? Ontem à noite, ele atacou seu amigo e agora vocês estão passeando, fazendo compras como uma família feliz? E você deixou ele ficar sozinho com a sua filha? O que Zachary...
— Você falou que a morte da família de Joseph era culpa dele?
Stephen fez uma cara de espanto.
— O quê?
— Ele me contou.
— Demi, olha para o meu rosto — ele chegou mais perto de mim. Senti-me aflita ao ver seu olho preto. Ele levantou a camisa para mostrar as marcas roxas. — Olha as minhas costelas. O cara que você mandou tomar conta da sua filha fez isso. Porra, ele me atacou como um animal! E você está parada aqui, perguntando o que eu disse a ele? Eu estava bêbado e talvez tenha falado coisas idiotas, mas ele surtou do nada. Eu vi os olhos dele. Ele estava completamente furioso.
— Você é um mentiroso — ele está mentindo. Está mentindo. Joseph é bom. Ele é uma pessoa muito boa. — Você nunca deveria ter dito nada sobre a família dele. Nunca. 
Comecei a me afastar, os saltos do meu sapato ressoando pelo corredor da loja, mas Stephen agarrou meu braço, forçando-me a encará-lo.
— Olha, eu entendo. Você está brava comigo. Tudo bem. Fique brava. Me odeie. Mas sei que tem alguma coisa errada com esse cara. Sei que tem, e não vou parar até descobrir o que é, porque eu me importo demais com você e com a Elizabeth pra deixar algo de ruim acontecer com vocês. Tá, eu disse algumas merdas que não deveria, mas eu merecia isso? É só uma questão de tempo antes que você fale alguma coisa errada e ele surte e te machuque.
— Stephen — eu disse, abaixando o tom de voz. — Você está me machucando.
Ele soltou meu braço, deixando marcas vermelhas na minha pele.
— Desculpe.
Quando cheguei à seção de quadros e objetos de decoração da loja, encontrei Joseph e Elizabeth debatendo o que comprar e, é claro, ela estava certa. Joseph sorriu e se aproximou de mim.
— Está tudo bem? — perguntou.
Acariciei seu rosto e olhei dentro de seus olhos. Seu olhar era suave e gentil, e me fazia lembrar de todas as coisas boas do mundo. Enquanto Stephen via o inferno no olhar de Joseph, eu só conseguia ver o céu.


***

Três semanas depois do meu aniversário, as coisas começaram a voltar ao 
normal aos poucos. Naquela noite, íamos de carro até a cidade da minha mãe para o casamento e, antes de partirmos, Elizabeth conseguiu convencer a mim e a Joseph que comprássemos sorvete para ela, mesmo com a temperatura abaixo de zero.
— Acho sorvete de menta nojento — opinou Elizabeth ao sair da sorveteria, com Joseph carregando-a nos ombros. Ela tomava uma casquinha de baunilha, derramando sorvete no cabelo dele de vez em quando.
Algumas gotas caíram na bochecha de Joseph. Eu me aproximei, limpei o sorvete do rosto dele com um beijo e, em seguida, beijei seus lábios.
— Obrigada por vir com a gente.
— Na verdade, eu só estava interessado no sorvete de menta — respondeu ele com um sorriso brincalhão. O sorriso permaneceu em seus lábios até chegarmos perto de casa. Quando ele olhou para os degraus da minha varanda, a alegria desapareceu, e ele desceu Elizabeth dos ombros.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei a Stephen, que estava sentado na escada, segurando uns papéis.
— Temos que conversar — avisou ele, levantando-se. Seu olhar se dirigiu a Joseph e, em seguida, a mim. — Agora.
— Não quero falar com você — respondi, ríspida. — Além do mais, vamos sair daqui a pouco para visitar minha mãe.
— Ele vai com você? — perguntou, com a voz baixa.
— Não comece, Stephen.
— Temos que conversar.
— Stephen, olha, eu entendo. Sei que você não gosta do Joseph, mas eu gosto. E estamos felizes. Só não entendo por que você...
— Demi — gritou, me interrompendo. — Já entendi, tá legal? Mas preciso falar com você. — seus olhos estavam vidrados, os músculos do rosto, tensos. — Por favor.
Olhei para Joseph, que me observava, esperando que eu decidisse o que fazer. Parecia que Stephen realmente tinha algo importante a me dizer.
— Tudo bem, vamos conversar.
Stephen suspirou de alívio. Virei para Joseph.
— Vejo você daqui a pouco, tá?
Joseph assentiu e beijou minha testa. Stephen entrou em casa comigo e, enquanto Elizabeth foi para o quarto brincar, ele ficou de pé na ilha da cozinha.
Minhas mãos se agarraram à beirada do balcão.
— O que você tem de tão importante pra me dizer, Stephen?
— Joseph.
— Não quero falar sobre ele.
— Temos que falar sobre ele.
Desviei o olhar de Stephen e comecei a tirar a louça da máquina para me manter ocupada.
— Não, já estou farta disso. Você não se cansa?
— Você sabe o que aconteceu com a mulher e o filho dele? Sabe como eles morreram?
— Ele não gosta de falar no assunto, e isso não o torna uma pessoa terrível.
Isso o torna mais humano.
— Foi o Zachary, Demi.
— Foi Zachary o quê? — perguntei, guardando os pratos rapidamente nos armários.
— O acidente que matou a mulher e o filho do Joseph. Foi o Zachary. Foi o carro do Zachary que tirou o deles da estrada.
Senti um aperto no coração e olhei para Stephen. O olhar dele encontrou o meu e, quando balancei a cabeça, ele assentiu.
— Tentei levantar umas informações sobre esse cara, e honestamente, eu só queria encontrar alguma merda que o fizesse parecer um monstro pra você. Selena foi até a oficina e implorou para que eu parasse com essa “caça às bruxas”. Ela achava que isso iria acabar com a pouca amizade que nos restou, mas eu tinha que saber quem era esse cara. Eu não encontrei nada errado. Descobri que ele é só um cara que perdeu tudo na vida.
— Stephen...
— Mas acabei descobrindo também essas notícias sobre o acidente — ele empurrou uns papéis em minha direção, e eu levei a mão ao peito. Meu coração disparava, alucinado. — Quando Zachary perdeu o controle do carro, ele bateu num Altima branco com três passageiros.
— Pare... — sussurrei, a mão cobrindo a boca, meu corpo tremendo de medo.
— Denise Jonas, de 61 anos, sobreviveu ao acidente.
— Stephen, por favor. Pare.
— Ashley Jonas, de 31 anos...
As lágrimas caíram dos meus olhos, e senti meu estômago se revirar.
— ... e Charlie Jonas de 8, morreram.
Pensei que eu fosse vomitar. Dei as costas para ele e chorei, soluçando, inconformada, sem querer acreditar no que Stephen estava dizendo. Zachary foi o responsável por Joseph ter perdido tudo que amava? Zachary foi o responsável por toda a dor que Joseph sentia?
— Você precisa ir embora — consegui dizer. Stephen colocou a mão no meu ombro, tentando me confortar, mas eu o afastei. — Não consigo pensar nisso agora, Stephen. Vá embora.
Ele suspirou pesadamente.
— Eu não queria que você se machucasse, Demi, eu juro. Imagina se vocês descobrissem isso depois? Imagina se ele descobrisse tudo quando vocês estivessem mais apaixonados?
Olhei para ele.
— O que quer dizer?
— Bom, vocês não podem ficar juntos. Não tem como... — disse ele, hesitante, passando a mão pela nuca. — Você vai contar a ele, não vai? — abri a boca, mas a voz não saiu. — Demi, você tem que contar a ele. Ele tem o direito de saber.
Sequei as lágrimas.
— Preciso que você vá embora, Stephen. Por favor, vá embora.
— Só estou dizendo que, se você o ama, se realmente gosta desse cara, você tem que terminar. Precisa deixar que ele siga em frente com a vida dele.
A última coisa que ele me disse era que não queria me machucar.
Foi muito difícil acreditar nisso.


Esse momento deles em família foi lindo, mas o Stephen vai estragar tudo a partir de agora
O Stephen só quer que eles se separem mesmo para ele ter chances com a Demi, um desgraçado mesmo kkkkk
Essa história sobre o acidente é verdade e muita coisa ruim está por vim :(
Gostaram? me contem aqui nos comentários
bjs amores e até o próximo <3
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2 comentários:

  1. Eu tenho uma leve impressão de que o Stephen mexeu no carro do Zachary pra provocar o acidente... eita homem dos infernos esse.... faz outra maratona por favor flor!!!

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    1. Muitas revelações sobre o acidente ainda estão por vim.
      Não vou fazer outra maratona amor porque a história está quase acabando, então prefiro não fazer.
      Continuarei postando nas segundas, quartas e sextas como sempre faço.
      Vou postar hoje, bjs lindona <3

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