29/11/2017

begin again: capítulo 24


Doubts

Na semana seguinte, cruzo a cidade em direção ao prédio de gesso branco que abriga o consultório do nosso terapeuta matrimonial. Estou na metade do caminho quando meu telefone vibra, mas está lá no fundo da bolsa. Até eu conseguir vasculhar entre guardanapos e folhetos, a pessoa já desligou. Não reconheço o número, embora não impeça que meu coração bata um pouco mais rápido quando disco para o correio de voz, perguntando-me se Joseph decidiu finalmente entrar em contato comigo.
Mas a voz é feminina. Profunda e suave. Ela me diz que meu marido está atrasado, que ele não vai poder comparecer ao horário marcado hoje. Nenhum pedido de desculpas, nenhuma satisfação, e, por algum motivo, isso me incomoda. Parece a gota d’água. Não dá para nadar contra a maré quando a pessoa nem sequer está batendo as pernas. Nós dois estamos à deriva, agarrados aos escombros do nosso casamento, quando talvez devêssemos apenas desistir.
Deixar a corrente nos levar, mesmo que ela nos separe.
No mês passado, Simon conseguiu comparecer a exatamente uma sessão de terapia. Ele perdeu a primeira devido a um caso de última hora no fórum. Suas desculpas soaram banais, até mesmo para mim, e comecei a me perguntar o quanto ele estava comprometido com todo o processo. Mesmo em casa ele anda quieto, enfiado no escritório, debruçado sobre documentos e depoimentos, apenas emergindo para um café ou um copo de uísque. Se por um lado conseguiu ir à segunda sessão, ficou em absoluto silêncio na terceira. Até mesmo contemplativo. Ele ouviu o que eu tinha a dizer, mas não acrescentou.
É quase como se ele estivesse deliberadamente se retirando. Como se desistisse antes mesmo de começar. Isso também me intriga. Porque sinto como se fosse a única fazendo todo o esforço, embora seja ele quem tenha sugerido a intervenção.
Se Simon estivesse apaixonado por mim, não teria mais tempo para nós? E, se eu estivesse apaixonada por ele, não me importaria mais? Porque ainda adormeço todas as noites com a voz de Joseph em minha mente. Com a memória de seus lábios nos meus. Se houvesse alguma coisa que valesse a pena salvar, eu seria capaz de deixá-lo de fora. De esquecê-lo.
Me beije, Demi.
O fato é que estou obcecada por ele mais do que nunca. Seu silêncio não fez nada mais do que me deixar inventar tudo na minha mente, até que eu nem saiba mais como deveria me sentir.
Uma coisa que sei é que eu estou de saco cheio de toda a situação. O silêncio de Simon, a terapia. Nosso casamento.
O pensamento é libertador. Um suspiro de alívio. Me permite pensar no que tenho tentado evitar. A única coisa que eu tenho é medo demais para articular. Porque, lá no fundo, não tenho certeza se quero salvar nosso casamento. O pensamento flutua na minha cabeça há semanas. Cada vez que tento ignorá- lo, ele volta mais forte. Como uma criança que não se deixa esquecer. Bate no meu cérebro, mostra a língua para mim. Me lembra de que o “felizes para sempre” não é uma opção aqui.
Pelo jeito como ele não se preocupou em aparecer mais uma vez à nossa sessão de terapia, estou começando a pensar que talvez Simon também não queira salvar esse casamento.

***

Espero por três horas, sentada no nosso sofá de couro marrom, mal olhando para a revista que está aberta nas minhas pernas. Três xícaras de café me mantiveram acordada, o gosto amargo persiste na minha boca, junto a uma dor de cabeça que pulsa na base do meu crânio.
São quase 23h quando ouço a chave dele girar na porta. Há uma pausa antes de a madeira bater no gesso.
– Oi. – ele coloca a cabeça pela abertura da porta da sala de estar. – Não esperava que você estivesse acordada.
Tenho ido para a cama cedo. Principalmente para poder fingir estar dormindo quando ele entra debaixo das cobertas, mas também porque estou atolada nos preparativos do evento beneficente anual da clínica. As duas coisas me esgotam.
– Fiquei acordada esperando você.
Ele estremece.
– Você está muito zangada? Porque eu posso explicar...
– Não estou nem um pouco zangada. – apesar dos meus sentimentos no começo da noite, estou mais calma do que venho me sentindo há algum tempo.
Simon entra, e seus sapatos sociais fazem barulho sobre o assoalho de madeira. Quando ele se senta, se inclina para frente e aperta as mãos uma na outra.
– Você não vai me perguntar onde eu estava?
– Não importa.
Ele continua como se eu não tivesse dito nada.
– Eu estava com a Elise.
– Está tudo bem? – a filha de Simon e eu podemos não ser amigas do peito, mas, ainda assim, eu me importo.
– Na verdade, não. Parece que o contador dela fez confusão com a declaração dos impostos, o que a fez cair na malha fina. Nós vamos ter de conseguir alguém para verificar os livros.
– Lamento ouvir isso – murmuro. – Eu espero que ela não esteja muito aborrecida.
Ele dá de ombros.
– Vamos resolver o problema. Ela ainda vai querer uma mesa no evento beneficente.
Isso é bom. Faltando apenas quatro semanas, seria um transtorno ter de encontrar outro doador para ficar com a mesa.
– Eu queria falar com você sobre uma coisa – digo. Meu coração começa a acelerar, pensar em fazer é completamente diferente de executar. Lágrimas brotam nos meus olhos antes que eu possa sequer dizer as palavras. – Acho que a terapia matrimonial não está funcionando.
O choque congela o rosto de Simon. Ele leva alguns instantes para se recompor o suficiente e responder.
– Você disse que não estava zangada...
– Eu não estou. – inclino-me para frente, tentando diminuir a distância entre nós. – Não estou dizendo isso por raiva, ou porque estou sendo uma bruxa. Não estou dizendo porque quero machucá-lo ou perturbá-lo.
– Então o que é, Demi? Você sabe como estou ocupado. Estou fazendo o meu melhor aqui para manter as coisas no lugar. O que mais você quer? – pela primeira vez, há alguma vivacidade em seu tom de voz.
– Eu só acho que, se o nosso casamento fosse sua prioridade, então você apareceria nas sessões.
– Eu tenho um emprego. Uma filha. Você quer que eu os ignore? Que apenas cuide da pequena Demi e finja que nada mais importa?
Deixo a cabeça cair nas mãos.
– Não, não é isso que quero dizer. É claro que essas coisas são importantes, mas não estamos avançando aqui. Só estávamos caminhando para trás. – quando levanto os olhos, ele está me olhando com raiva. Tento não me acovardar.
– Então me diga o que fazer. O que vai fazer você feliz?
Abro a boca, mas as palavras não saem. Em vez disso, estou me lembrando da sugestão de Louise. Que eu deveria escolher a mim, trabalhar na minha própria autoestima. Não me lembro da última vez em que alguém me perguntou o que me faria feliz.
O que faria?
Tento me imaginar ainda neste casamento. Acordar com Simon todos os dias. Escolher uma vida de contentamento, de companheirismo, deixá-lo tomar conta de mim do jeito como ele cuida dos clientes e da filha. E não há nada de errado com essa vida, é uma que eu esperava quando estava no fundo do poço.
Mas vai me fazer feliz?
– Não sei. – parece uma confissão. – Não sei o que vai me fazer feliz.
– Então, talvez seja melhor descobrir – Simon sugere. – Eu a amo, você sabe disso. Você é a melhor coisa que me aconteceu nos últimos anos. Mas não posso lutar por você se não sei contra o que estou lutando. Podemos ir a todos os terapeutas do mundo, mas até que você decida o que diabos você quer, nós estamos apenas jogando palavras ao vento.

Demi só pensando no Joseph.
em falar nele ele ficará um pouco sumido mais logo irá estará de volta para abalar tudo.
e o casamento da Demi e do Simon só vai de mal a pior.
será que a Demi irá descobrir o que mais faz ela feliz?
me digam o que acharam nos comentários, ok?
espero que gostem do capítulo, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.

2 comentários:

  1. tomara que a demi descubra o que a faz mais feliz logo, ela merece a felicidade. ansiosa pro próximo capítulo,sou apaixonada por tuas fics

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    1. Ela logo descobrirá.
      Fico muito feliz que você tenha gostado amor, faço com muito carinho.
      Vou postar mais hoje.
      Beijos, Jessie.

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