06/01/2018

begin again: capítulo 33


Nove anos antes

Ele está morto. Só consigo pensar nisso enquanto estou sentada na sala de interrogatório da polícia. É a única coisa na minha mente durante meu depoimento ao investigador da universidade. Quando um repórter tenta me pegar no caminho de volta aos salões dos dormitórios, só consigo ver a cara vermelha e os lábios finos de Digby me dizendo de novo e de novo o quanto estava com calor, como estava se sentindo mal.
Sentada no colchão sem lençóis, no meu quarto, entre as caixas que enchi e as malas que fiz alguns dias antes , cubro o rosto com as mãos e sinto as lágrimas molharem minhas palmas.
Mas tudo isso é um mero prelúdio para quando meu pai chega. Ele está vestido com seu melhor terno e uma gravata que ele reserva para casamentos e batizados. Percebo, pelo jeito como ele puxa o colarinho, que está muito apertado no pescoço, e que o tecido está raspando na garganta. Sua inquietação constante é uma distração ao meu lado, enquanto ele ouve as perguntas do representante de ética. Seus olhos lacrimejantes se viram para mim toda vez que ele espera minha resposta.
– A investigação vai continuar no verão – explica o representante. – Também vamos precisar esperar qualquer investigação policial antes de que seja tomada uma decisão final. O que posso dizer é que, no caso do uso de drogas, a universidade normalmente permite aos estudantes retomar os estudos se estiverem comprometidos em fazer uma disciplina de terapia.
Claro, tudo isso acontece antes de os pais de Digby se envolverem e revirarem os meios de comunicação até provocarem um frenesi. Durante todo o verão, manchetes sobre “Hedonismo” e “Tumulto estudantil” gritam dos tabloides, marcando a vergonha da nossa família em tinta borrada de jornal. Choro tanto que meus olhos ficam permanentemente inchados, com a pele ao redor deles vermelha e brilhante. Lágrimas rolam pelo meu rosto quando penso em Digby. 
E no jeito como ignorei Joseph da última vez em que o vi.
Embora eu tenha negado conhecê-lo, sou eu que me sinto crucificada. Em agosto, a universidade já está farta de ser demonizada. Tomam a decisão de me expulsar, e imagino que fazem o mesmo com Joseph. A notícia vem na forma de uma carta datilografada e dobrada dentro de um pequeno envelope marrom, que foi empurrado para dentro da nossa caixa de correio, às 8h33. No espaço de poucos meses, fui de uma menina de ouro acadêmico ao vício em drogas e a uma graduação incompleta. Meus pais mal conseguem olhar para mim.
Sinto falta dele, sinto falta dele, sinto falta dele. O pensamento aperta meu peito, aperta até que eu mal consiga respirar. Quando fecho os olhos, é a voz dele que ouço.
Apenas sussurros ao vento.
A única coisa que me tira da cama é o fato de não suportar ficar sozinha com meus pensamentos. Se eu pudesse fugir de mim mesma, eu o faria. Quero pairar acima das árvores, longe do meu corpo, com a mente vazia, exceto pela sensação de liberdade. Pela primeira vez, entendo por que as pessoas se cortam.
O desejo de me livrar de um pouco de mim mesma, de deixar sangrar para fora de mim, é tão avassalador que mal posso ignorar. Só o medo dos meus pais me pegarem em flagrante me impede de tentar.
Setembro chega, e ainda estou enjaulada como um animal. Presa em uma rotina de dormir, comer e chorar. Com a visita ocasional de um grupo local que me rotula como pecadora e me incita a me entregar ao Senhor. Deslizo pelos meus dias como se estivesse numa overdose de calmantes. As emoções estão abafadas pela depressão que pesa sobre meus ombros como um xale de ferro.
Não choro mais. Não sinto nada. Mal sei se existo.
As árvores em nosso quintal se tornam douradas e alaranjadas, curvando-se e secando antes que as folhas caiam ao chão. O ar se torna frio, cobre os para-brisas e calçadas com a geada reluzente e brilhante como diamantes sob o sol do outono.
As estações passam, mas continuo imóvel. Uma estátua entre o borrão de mudança. Meus pais voltam à rotina normal: trabalho e tarefas domésticas, noites no clube. Sábados gastos no verde ou no campo de golfe. À medida que os meses passam, ganho um pouco mais de liberdade: a capacidade de entrar na internet, de fazer visitas à biblioteca para emprestar livros pelos quais não posso pagar.
Devagar, bem devagar, começo a tomar consciência de que não posso continuar assim. Se não fizer a mudança, ninguém vai fazer. Tudo depende de mim.
Talvez sempre dependesse.

Mas um pouco do passado e o Digby está morto.
Demi ficou bem triste por causa da morte dele.
ficou pequeno o capítulo mas espero que tenham gostado.
me digam o que acharam nos comentários.
respostas do capítulo anterior aqui.

2 comentários:

  1. ficou maravilhoso e esclareceu muita coisa! demi fugiu de casa?
    nao demora, tô amando

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ela não fugiu de casa amor, ela só estava triste pela a morte dele.
      Este capítulo esclareceu muita coisa mesmo e é o último capítulo que fala mais um pouco do passado dos dois.
      Os próximos capítulos agora é somente sobre o presente e o futuro.
      A fanfic está quase acabando, falta somente 8 capítulos :(
      Vou postar mais hoje.
      Beijos, Jessie.

      Excluir