04/10/2017

begin again: capítulo 8


Hoje

Passo a manhã seguinte curvada sobre o vaso sanitário no banheiro apertado e antiquado de Selena, vomitando na privada enquanto ela segura meus cabelos molhados em um rabo de cavalo para não caírem no meu rosto e não ficarem melados. Entre espasmos, digo que nunca vou beber de novo, que a cerveja é a obra do diabo e que Selena é uma péssima influência sobre mim.
Selena apenas ri e passa um lenço úmido no meu rosto. Pressiono-o contra minha pele, sentindo-o refrescar o calor.
Na hora do almoço, estou quase me sentindo normal. Ainda há uma dor repuxando meu estômago, e minha cabeça está bem confusa, mas pelo menos consigo andar sem me dobrar em duas. Não me lembro de ressacas serem assim tão ruins quando eu era mais jovem. Até mesmo recuperar a sobriedade depois do ecstasy parece mamão com açúcar perto disso.
– Estou velha demais para essas coisas – digo entre gemidos, quando Selena me envolve com um casaco e me arrasta para a cafeteria mais próxima. – Eu não deveria ter bebido aquele último copo de Baileys.
– Ah, você se lembra desse, não é?
Fecho os olhos e queria poder fechar o nariz também. A cafeteria tem cheiro de bacon e batatas-fritas gordurosas e sinto meu estômago revirar outra vez. Selena pede para nós o café da manhã inglês completo. Estou exausta demais até para recusar.
Claro que, quando chega, eu devoro tudo. Como sempre, o bacon é a cura final para a ressaca.
– Então... – Selena serve uma segunda xícara de chá para nós. – ... Joseph Jonas.
Tomo um gole. É como o paraíso líquido.
– O que tem ele?
Ela inclina a cabeça para o lado e me lança um olhar do tipo “você está brincando comigo”.
– Ele é o cara?
Coloco minha caneca de volta na mesa de madeira arranhada e apoio o queixo nas mãos.
– É.
***

– Como você se sente sobre revê-lo?
– É uma sessão de aconselhamento? Devo esperar uma conta de cinquenta libras por hora? – a garçonete leva nossos pratos e suspiro aliviada. Não importa o quanto a comida seja boa, ver os restos esfriarem no prato branco não está ajudado minha náusea persistente em nada.
– Não sou sua conselheira, sou sua amiga, mas acho que você deveria falar com alguém, com um profissional. Faz semanas que você não é a mesma pessoa.
– Não vou entrar em depressão só porque Joseph Jonas apareceu valsando de novo na minha vida. Superei isso há anos. Não significa nada. Eu trabalhei em cima de toda aquela porcaria quando aconteceu.
Sou uma pessoa diferente da garota que mal conseguia controlar a própria respiração. Mais forte, mais nos eixos.
– Por que você bebeu ontem à noite?
A pergunta me deixa arrepiada.
– Eu não saía daquele jeito havia décadas. Julguei mal a situação. É muito mais fácil ser cautelosa quando a gente está bebendo vinho que custa cem libras a garrafa. – meu tom é irreverente, porque quero parar de me lembrar de tudo.
Joseph, Digby, aquela noite quente e úmida quando tudo mudou. Se eu não pensar a respeito, vou conseguir lidar com tudo.
Quase.
Selena olha para mim e seus lábios começam a se contorcer. Os cantos da minha boca se levantam em resposta. Um momento depois, nós duas desabamos em um ataque de risos. Pareço uma perdedora falando. Às vezes, acho que sou duas pessoas diferentes: a Demi que usa jeans e suéteres, que bebe cerveja e passa os dias com dependentes químicos, contra a Demi dos jantares elegantes, que bebe vinho fino e escuta, em silêncio, homens muito mais velhos tentando consertar o mundo. Está se tornando cada vez mais difícil decidir qual pessoa eu sou. Qual das minhas versões eu prefiro.
O pensamento ainda está na minha mente quando Simon enfim chega em casa na noite de domingo. A essa altura, estou totalmente recuperada da minha ressaca e me sentindo mais como eu mesma. Todos os pensamentos de depressão, de angústia e de Joseph Jonas foram esmagadas firmemente, e o sorriso que ilumina meu rosto quando meu marido entra pela porta é quase genuíno.
– Como foi seu fim de semana? – puxo o casaco dele dos ombros e o penduro no cabide de madeira. – Você parece cansado, querido.
– Eu estou. Nós nos divertimos. Tomamos algumas doses, bebemos alguns uísques. Acontece que Andrew reformou todo o chalé. – Simon põe a maleta no pé da escada. – Como foi o seu fim de semana?
Nós caminhamos para a cozinha e tento banir a memória do rosto furioso de Joseph. Respirações profundas. Equilíbrio.
– Bem tranquilo. Consegui recuperar o atraso em algumas papeladas hoje. Percebi que só faltam mais três meses até o evento beneficente. Eu realmente preciso começar a trabalhar nisso. – não fico mais apreensiva por causa desse assunto como fiquei um dia. Estive no comando do evento por quatro anos. Sei muito bem o que estou fazendo. Não que tenha se tornado mais fácil, embora não tenha mais aquele sentimento constante de medo revestindo meu estômago como naquele primeiro ano.
Depois de um pequeno jantar, subimos para dormir. São só 21h30, mas nós dois estamos exaustos e temos de acordar cedo para o trabalho no dia seguinte. Tomo um banho, deixando a água quente lavar os resquícios do fim de semana da minha pele e, quando termino de secar o cabelo, Simon está na cama, seus óculos de leitura de armação metálica empoleirados na ponta do nariz. Está fazendo anotações em alguns resumos que trouxe para casa do trabalho. Seu peito está nu, seu corpo está bem conservado, apesar da idade. Há um punhado de cabelos grisalhos que vai do pescoço ao abdome e uma barriguinha que nem exercício consegue zerar. Gosto da maciez, embora saiba que o deixa constrangido.
Quando entro debaixo das cobertas, ele coloca os resumos no criado-mudo e tira os óculos, dobrando-os cuidadosamente e os colocando em cima dos papéis. Assim que desliga o abajur, ele arruma o corpo mais para baixo no colchão, vira de lado e fica de costas para mim. Na escuridão, a melancolia familiar toma conta de mim novamente. Posso me iludir o quanto quiser, dizendo que estou bem, que os acontecimentos de sexta-feira não me afetaram, mas, sozinha no escuro, eu me sinto como se fosse uma garota de 19 anos de novo. Cheia de emoções e incertezas. Não gosto dessas sensações cruas que parecem estar me revirando por dentro. Prefiro ter a certeza, o quase torpor que consegui alcançar
desde que me casei com Simon.
Então me aconchego ao corpo dele, me encaixo de conchinha, passo o braço por seu peito. Minha mão espalma seu tronco, e ele coloca sua mão por cima. Me empurro contra o corpo dele, deixando a ponta do meu polegar tocar seu mamilo. Um momento depois, ele tira com cuidado.
– Estou muito cansado. – soa como se estivesse pedindo desculpas. – Preciso dormir um pouco.
Sei que ele não quer que pareça uma rejeição, mas é assim que eu encaro.
– Não tem problema. – minha voz é abafada por suas costas. Isso é uma coisa boa, porque posso sentir as lágrimas ameaçando escapar. Estou quase grudada nele, desesperada pela conexão, precisando me agarrar a Simon como meu único porto em uma tempestade. Sua respiração começa a diminuir, tornando-se leve e ritmada conforme ele cai suavemente no sono. Uma lágrima rola lentamente pelo meu rosto, tento parar os anseios, o desespero de senti-lo dentro de mim, a necessidade de ele me tomar como sua novamente, da forma mais vil possível.
Em vez disso, choro em silêncio, até que o nada me carrega.

***

Joseph e eu não mencionamos a noite de sexta-feira. Voltamos a ser colegas amigáveis, trabalhando sem problemas e facilmente juntos. A tentativa de manter as crianças interessadas e sob controle ocupa toda a nossa energia emocional, não restou o bastante para entrarmos na angústia do nosso passado. É muito mais fácil cobrir as ranhuras com papel do que tentar cavar mais fundo.
Mas isso não me impede de olhar para ele enquanto está preocupado com outra coisa e de ficar me perguntando exatamente o que aconteceu com ele naquele verão. Será que chegou ao fundo do poço como eu? Me percebo com vontade de saber o que mais ele vem fazendo desde a graduação. Sei, pela breve e sem fôlego descrição de Elise, que ele passou um tempo em Londres, mas como ele acabou indo parar lá? O que o fez voltar?
Todas essas coisas passam pela minha mente quando o vejo demonstrar uma técnica de camadas para Cameron Gibbs, um menino de 12 anos particularmente bocudo, com uma propensão ao roubo. Por alguma razão, Cameron, cujo pai viúvo tem uma relação profunda e significativa com remédios controlados, parece ter se interessado por Joseph. Ele observa atentamente os longos dedos manchados de tinta de Joseph pegarem o pincel e passarem uma camada tênue de aquarela no papel. Joseph diz algo que não consigo ouvir, e a resposta de Cameron é igualmente baixa. O que quer que tenha sido, faz enrugar a testa normalmente lisa de Joseph, e seus lábios se curvam com um esgar.
Então ele olha para mim e me chama. Meu coração bate um pouco mais rápido enquanto ando na direção deles, tentando engolir as memórias quando me lembro tão bem daquele gesto. Os dedos curvados, o olhar “venha aqui”. Faço exatamente o que sempre fiz: obedeço.
Joseph começa a falar assim que chego à mesa.
– Cameron diz que nunca esteve em uma galeria de arte.
Não sei por que ele parece tão surpreso. Essas são crianças carentes, cuja prioridade dos pais inclui encontrar drogas, usar drogas, roubar dinheiro para comprar drogas e muito dificilmente tentar se livrar da dependência. Enriquecer o conhecimento cultural dos seus filhos não está no topo da lista de coisas a fazer.
– Imagino que não. – olho para Cameron e sorrio. Ele retribui com uma careta. Em seu mundo, os sorrisos são para os fracos.
– E quanto ao resto das crianças?
Sem responder, passo os olhos ao redor da sala. Charlotte está debruçada sobre seu papel, espirrando cor com uma gloriosa entrega. Algumas crianças mais velhas estão sentadas nos fundos, jogando tinta umas nas outras com os pincéis. O resto ou está conversando ou desenhando.
– Não espero que tenham ido, Joseph. Eles provavelmente não tiveram oportunidade.
Ele mastiga o lábio.
– Mas eles vivem em Nova York. Estamos rodeados por museus e galerias de arte.
E também por traficantes de drogas e covis de crack. Arregalo os olhos na tentativa de fazê-lo calar a boca. Cameron nos observa com interesse.
– O que eu posso dizer? – pergunto.
Ele faz uma pausa por um instante, como se estivesse pensando a respeito. Então seu rosto se ilumina, e um sorriso lentamente se forma em seus lábios.
– Nós podemos levá-los.
– O quê? – eu não estava esperando isso.
– Você e eu. Podemos levar todos eles para um passeio. Podemos ir à American Museum of Natural History. Conheço algumas pessoas de lá. – ele parece tão jovem e entusiasmado que me faz sorrir.
– Você quer levar quinze crianças em um passeio a uma galeria? Como é que vamos chegar lá?
Ele tem uma resposta para tudo.
– Eu contrato um ônibus. Pode nos pegar aqui às quatro, podemos passar umas duas horas na galeria e depois voltar. Até posso financiar um McDonald’s para todos eles.
Observo a expressão de Cameron com o canto do olho. Ele parece quase animado. Seria incrível mostrar a eles a verdadeira arte, ter Joseph guiando-os pelas exposições, demonstrando como a tinta pode dar vida a uma tela. Mas essas não são apenas quaisquer crianças. Elas não estão acostumadas a ter de se comportar em uma galeria de arte, e os mais velhos podem ser quase impossíveis de controlar. Seria como pastorear gatos.
– Podemos conversar ali? – faço um gesto para a mesa vazia no canto da sala e curvo os dedos em volta do bíceps dele para atraí-lo. O calor de sua pele irradia pela camisa, a rigidez de seu bíceps é nítida através da pele. Ele olha para baixo, onde meus dedos o seguram e, em seguida, olha bem nos meus olhos. A maneira como ele me fita faz minha respiração parar na garganta.
– Claro.
Quando chegarmos lá eu o solto. Ele distraidamente esfrega o lugar onde eu estava tocando.
– Algum problema?
– Isso não vai funcionar. Não podemos levá-los para uma galeria. Eles vão acabar destruindo o lugar. Cameron provavelmente vai tentar arranhar uma instalação, e George vai pichar algum Dalí com sua tinta spray. Estamos pedindo para ter problemas.
– Você não acha que essas crianças merecem ver algumas pinturas de verdade?
Ele joga a isca e eu mordo.
– Claro que acho. Elas merecem tudo, e a maioria não ganha nada. Mas se algo der errado e acabar na porta da clínica, todos nós vamos estar em apuros.
Joseph começa a tirar a tinta que cobre seus dedos. Percebo que é tinta a óleo e, como estamos usando apenas aquarela, ele deve ter vindo assim de casa. Sinto a curiosidade tomar conta de mim e fico desesperada para saber o que ele estava fazendo, o que ele estava pintando. Balanço a cabeça, tentando voltar para o aqui e agora.
– Eu vou nos dar cobertura. Deixe-me falar com a Tate e organizar alguma coisa para a próxima quinta-feira. – ele estende a mão com os dedos manchados de jade e envolve o meu pulso. – Vamos, Demi. Por favor?
Próxima quinta. Tenho uma festa para ir com Simon nessa noite, mas não vai começar antes das 21h. Acho que consigo fazer as duas coisas: levar as crianças para a galeria e depois ir ao baile. E Joseph está tão irresistível, com aqueles lábios carnudos e olhos cor de mar. Apesar dos meus medos, dos meus receios, eu me percebo concordando com um aceno de cabeça.
Minha recompensa é um aperto no meu pulso e um sorriso animado que praticamente divide o rosto dele em dois. Como a viciada em Joseph que eu costumava ser, absorvo tudo e o deixo colocar meu pulso em chamas. 
Sinto o ardor.
Ainda estou com essa sensação quando terminarmos o dia. As crianças ajudam na limpeza com seu jeito barulhento, bagunçado, lavando potes na pia funda e conseguindo derramar água suja cinzenta no chão abaixo. Espirra nos ladrilhos brancos que cercam a área da pia.
Quando eles terminam, limpo novamente, passando pano na porcelana branca. Joseph pega as pinturas e as pendura com prendedores de roupa no varal que coloquei no teto exatamente para esse propósito.
– Me desculpe se eu a encurralei.
– O quê? – uma imagem aparece em minha cabeça: Joseph me cercando na parede, pressionando o corpo no meu. Quase posso sentir o contorno do seu peito.
Balanço a cabeça, tentando tirar a imagem da mente.
– Sobre a galeria. Não tive a intenção de forçá-la a nada. – sua voz é tão baixa que tenho de me aproximar mais para ouvir. – Eu me sinto mal por ter insistido para você tomar uma decisão na hora.
– Você não me forçou. – estou mentindo entre dentes. Não quero mais ser a fraca. A menina facilmente manipulada. – Vai ser ótimo, estou ansiosa.
Seu sorriso é confuso.
– Certo. Bem, obrigado por concordar. Eu lhe devo uma.
Levanto as sobrancelhas e balanço a cabeça. Por um momento acho fácil fingir que isso poderia funcionar, que poderíamos ser dois colegas, levando um grupo de crianças a uma excursão. Sem problemas, sem história. Apenas bons amigos limpos.
Só posso estar delirando.

Selena sempre cuidando da Demi. Amo essa amizade.
o casamento da Demi e do Simon não está mais como antes.
será que ela vai enxergar isso e irá conversar sobre isso com ele?
 Joseph e a Demi se aproximando cada vez mais.
vocês viram sobre as fics tape? espero muito que vocês gostem.
me digam o que acham nos comentários, ok?
espero que gostem do capítulo, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.

4 comentários:

  1. Amei o capitulo...
    Ta perfeto...
    A Demi imaginando o Joe cercando ela na parede kkkkkkkk ai Deus kkkkk
    Quero beijo Jemi pelo Amor.. Vai demora pra acontecer ???
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    1. Fico feliz que esteja gostando amor.
      O beijo logo irá acontecer, só aguardar os novos capítulos haha.
      Vou postar novo capítulo hoje.
      Beijos, Jessie.

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  2. Respostas
    1. Fico feliz que tenha gostado amor.
      Vou postar novo capítulo hoje.
      Beijos, Jessie.

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