16/10/2017

begin again: capítulo 11


Tour

Estou atrasada outra vez. Quase cheguei à estação de metrô quando meu celular toca. Paro bruscamente, tiro o aparelho da bolsa e levo um instante para recuperar o fôlego.
– Alô?
– É Simon. – ele tem essa propensão a pensar que ainda usamos telefones analógicos. É como se esquecesse que seu nome surge na tela quando ele liga.
– Olá. Está tudo bem? – ficamos pisando em ovos durante a última semana.
Fingindo estar dormindo quando sei que não estamos, e nenhum de nós menciona Daisy ou a clínica. Quando fui visitar Charlotte no último fim de semana, ele não se preocupou em me perguntar aonde eu ia. E também não ofereci a informação por vontade própria.
– Você sabe se meu terno voltou da lavanderia? Eu quero usá-lo hoje à noite. – outra coisa que ele faz: deixa todas as coisas domésticas de lado até o último minuto. Mas não acho que é por isso que ele está me ligando agora; nós dois sabemos que o terno voltou na sexta-feira passada. Ele está tentando me lembrar de que vamos sair esta noite.
– Está lá. Devo estar em casa depois das sete. Que horas vamos sair? – a última coisa que quero fazer depois de levar dez crianças para passear numa galeria de arte é sair para um jantar seco de negócios. Mas são clientes de Simon e é importante para ele, então vou colocar um vestido, pintar o rosto e conversar amenidades como sempre faço.
Não significa que eu tenha de gostar.
– Bebidas às oito e meia. Tente não se atrasar.
Obrigada, pai.
– Uh-hum. – desligo, mordendo a língua para evitar uma resposta venenosa.
Mesmo que o trem venha na hora certa, vou chegar dez minutos atrasada. Rapidamente digito uma mensagem e envio para Joseph.
Quando chego à clínica, está o caos. A recepção está cheia de crianças gritando perguntas para um Joseph aparentemente atormentado. Seu rosto se ilumina quando ele me vê entrar na sala. Sorrindo, Joseph dá um passo adiante e pega minha mão.
– Você chegou.
– Claro que cheguei. E o ônibus está lá fora – digo.
Uma aparência de alívio cai sobre ele. Será que compreende no que se meteu? Podemos ter limitado o passeio a dez crianças principalmente para cabermos todos em um micro-ônibus, mas ainda são muitos para ficarmos seguindo em uma galeria de arte muito grande.
Ele dá a impressão de que não teve a oportunidade de conviver muito com crianças. Olha para eles como miniadultos. O que é ótimo quando se está na sala de aula, porque isso os faz se sentirem maduros e amados, e é por isso que as crianças respondem a Joseph tão bem. Porém, quando estamos em público, no meio de uma galeria com a qual ele tem conexões... não é tão bom assim.
– Vamos. Vamos lá, pessoal. – Joseph se dirige à porta e todos se amontoam atrás dele. Cameron Gibbs empurra todo mundo para fora do caminho e corre em direção ao ônibus, marcando território no banco do fundo. Há alguns retardatários que ficam para trás comigo, com medo dos meninos mais velhos e sua empolgação exagerada.
Charlotte enrola a mão ao redor da minha.
– Vamos?
– Claro, pode ir na frente.
Como previsto, há uma confusão no micro-ônibus enquanto todos disputam lugares. Acabo por ter de tirar Cameron Gibbs de cima de outro menino. Sua mão já está curvada num punho de tamanho bem considerável. Sussurro em seu ouvido que estou de olho nele, e ele revira os olhos para mim.
Cameron tem um desses rostos desafortunados. Uma boca fina, quase má que, combinada às sobrancelhas grossas e aos olhos estreitos, fazem-no parecer um marginal em formação. Ele poderia ser o garoto mais doce do mundo o que ele não é, e ainda assim seria o primeiro a entrar em confusão. Arrastado para a sala da direção depois de uma briga, ou até na frente de um magistrado depois de um assalto. Um suspeito comum esperando para entrar em ação.
Agora ele está desenvolvendo a aparência física. Na entrada da puberdade, está adquirindo um certo ar de ameaça. Não estou certa do quanto é fanfarronice e do quanto é maldade, mas ele está se transformando diante dos meus olhos. Sempre que ele está por perto, há um toque estranho na atmosfera. Odeio não poder impedi-lo de crescer desse jeito.
Depois que todos estão sentados, pego o único assento que sobrou, ao lado de Joseph. Ele levanta os olhos acima do celular e sorri calorosamente para mim.
– Você é boa nisso.
– Gritar com as crianças?
O canto de seu lábio esquerdo se curva.
– Não, você é boa em lidar com eles. Sabe o que dizer e como dizer. Percebo que eles confiam em você.
Mais para trás no micro-ônibus, Cameron ainda está carrancudo. Enquanto estávamos discutindo, alguém roubou seu lugar. Ele não está nem um pouco feliz com isso.
– Alguns deles confiam – respondo.
– Você planeja ter filhos? – ele pergunta. Seus olhos verdes olham diretamente para mim. É o tipo de pergunta fácil que qualquer um pode fazer, mas tenho de me lembrar de que ele não sabe. Faz meus olhos quase se encherem de lágrimas.
– Não. – se eu terminar por isso mesmo, talvez tudo fique bem. Mas sou eu, e sinto a necessidade de preencher os espaços vazios. Nunca consegui ficar em silêncio. – Simon não quer mais filhos.
Suas sobrancelhas se levantam.
– Isso não parece justo se você quer ter filhos. Um pouco egoísta.
Minha resposta é fria. Direta.
– Ele me disse que não queria antes de nos casarmos. – também concordei com isso. Naquela época, eu nem pensava em crianças. O mundo ainda parecia um lugar de pesadelo. Trazer filhos ao mundo seria um ato egoísta. Mas agora...não tenho certeza se me sinto da mesma forma.
No entanto, Simon continua com a mesma opinião. É por isso que nunca poderia dizer a ele sobre minha mudança de opinião. Eu estaria quebrando nosso acordo.
– Sinto muito por ouvir isso. – ele enrola os dedos nos meus e me dá um aperto de mão. – Você daria uma fantástica mãe.
O fogo em meu estômago se apaga, substituído por um enorme nó na garganta. Tento não me sufocar, mas é difícil quando estou sendo consolada pelo homem que agitou tudo. Estamos sentados próximos, sua coxa quente contra a minha, seu braço pressionado no meu bíceps. Qualquer raiva que eu sentia instantes atrás se dissipou com as palavras amáveis, até que a única coisa que me resta é um anseio. Seria tão fácil me virar para ele, enterrar minha cabeça em seu ombro e deixá-lo me abraçar até que todo o resto desaparecesse. 
Nunca escolhia o caminho mais fácil. Talvez fosse melhor assim. Joseph e eu implodimos como uma estrela moribunda, ardendo brilhantes em um momento e desaparecendo na escuridão no instante seguinte. Esse tipo de entusiasmo, altos e baixos emocionais, pode ser uma motivação de vida quando se é adolescente. Agora, porém, eu deveria desejar o conforto. A estabilidade. Simon.
Preciso continuar me lembrando disso.
Chegamos ao American Museum of Natural History cerca de meia hora mais tarde. As
crianças ficam todas animadas quando veem o American Museum of Natural History.
Alguns começam a correr para as escadas.
– Oi, voltem aqui. – é incrível a facilidade com que o sotaque de Essex volta à minha fala. – Cameron Gibbs, desça daí agora. – ele já chegou ao topo das escadas, fuçando nos cadeados que os amantes penduraram nas grades.
De alguma forma, conseguimos conduzir todos eles para dentro do prédio. Joseph fala com a mulher no balcão de informações, e ela sorri de volta para ele, entregando-lhe um livro para preencher. Quando ele retorna, todos nós o seguimos até a sala do motor.
O enorme salão das turbinas fica no meio do edifício, acessível a partir de degraus de pedra que levam a um desnível no piso. Onde antes os motores propagavam energia, agora há espaço e luz. É a instalação principal da galeria.
As crianças começam a correr pelas escadas e nós rapidamente seguimos atrás.
Tento não sorrir quando eles olham em volta.
– Onde estão as pinturas? – pergunta Cameron Gibbs, no degrau inferior.
– Não tem nenhuma pintura. Esta é uma instalação – Joseph responde. – Às vezes há esculturas, às vezes são imagens projetadas em telas.
– Então, onde está a merda da arte? – cospe Cameron. Ele ainda está irritado comigo.
Cruzo o olhar com Joseph. Como eu, ele parece dividido entre divertimento e irritação.
– As pessoas são a instalação – diz ele. – Se você for até lá, elas vão interagir com você. O artista planejou tudo.
– Eu não vou falar com merda de estranho nenhum.
Começo a perder a paciência.
– Olha a boca, Cameron. – algumas das crianças mais jovens estão olhando para ele boquiabertas. – Estamos num lugar público.
– Tudo o que eu estou dizendo é: – Cameron continua, com a voz quase paciente – se essa merda for arte, então minha rua é uma maldita obra-prima. Tudo o que você tem de fazer é ir até lá e a gente conversa com você de graça. Quanto é que alguém recebe para fazer uma coisa dessas, hein? É como aquele velho pelado, né?
Enrugo a testa por um momento, antes de entender do que ele está falando.
– Você quer dizer A roupa nova do rei?
– Quero dizer dinheiro fácil pra caramba. Sério, se isso é arte, então eu não quero nada disso. – Cameron vira e se afasta em meio à multidão de pessoas. Será que os atores sabem no que eles se meteram?
– Ele é um moleque e tanto. – Joseph e eu entramos no salão principal. – Não tem papas na língua.
– Você era assim quando tinha a idade dele?
Joseph ri.
– Na verdade, não. Eu era o terror do bairro. Minha mãe costumava arrancar os cabelos sempre que eu era trazido de volta por um guarda ou um dos vizinhos. Felizmente, eu cresci e mudei.
– Você também não era nenhum exemplo na faculdade – aponto. – Fumando baseado nos corredores, invadindo prédios durante a noite.
– Ah, mas isso foi tudo em nome da arte. Servia a um propósito mais elevado.
– Qual propósito? – agora ele me deixou interessada. Volto à memória daqueles dias com um sorriso no rosto. Isso não acontece com muita frequência.
– Em geral, deixar uma garota pelada.
Ele me rouba o fôlego. O que posso dizer sobre isso? Além do fato de que ele não tinha necessidade de entrar em um prédio para me deixar pelada. Eu praticamente rasgava minhas roupas cada vez que estávamos juntos.
– Devemos ir e reuni-los? Temos só mais uma hora, mais ou menos. – mudo de assunto rapidamente.
Ele dá um sorriso fácil.
– Claro. Pensei em irmos à seção dos Impressionistas Abstratos. Mostrar a eles alguns Rothko e Monet. – seu rosto se ilumina, como se uma ideia lhe viesse à mente. – Ei, você deveria falar, foi você que se formou em História da Arte.
– Eu não tenho diploma – comento. – Nunca terminei o curso.
E aí está. Nosso passado parece se infiltrar em tudo. Há uma razão para eu não ter terminado, da qual estamos mais do que cientes. É tema de uma conversa desconfortável.
– Bom, podemos compartilhar o fardo.
Faz cerca de meia hora que estamos na galeria quando decido fazer uma contagem rápida. Fazê-los todos ficarem parados é mais difícil do que parece. Algum tempo depois, consigo tocar cada criança suavemente no ombro enquanto vou contando um a um até chegar ao dez.
Só que chego apenas ao nove.
Um nível baixo de pânico começa a se revirar em meu estômago enquanto faço uma recontagem. Ainda assim, nove. Quando olho nos olhos de Joseph, ele percebe que algo está errado.
– Quem está faltando? – não sei se estou perguntando a ele, a mim, ou às crianças. – Só há nove de vocês. – Olho para Charlotte, que está parada ao lado de Joseph. Graças a Deus ela está bem.
As crianças começam a murmurar, mas nenhuma está falando comigo.
– Vamos lá, qual de vocês sabe de alguma coisa?
Maisie Weeks, de 12 anos, me chama a atenção.
– Cameron saiu faz uns dez minutos.
Engulo seco.
– Ele saiu?
Ela encolhe os ombros.
– Saiu, ele disse que isso era chato e que ele iria encontrar algo melhor para fazer.
Cruzo o olhar com Joseph.
– Estamos no meio de Nova York. Ele poderia estar em qualquer lugar. – sei que soa como um guinchado. Um pânico agudo faz minha voz subir uma oitava.
Ele coloca a mão calmante sobre meu ombro.
– A probabilidade é de que ele ainda esteja aqui ou na ponte. Vamos descer para o guichê de informação e ver se eles o viram. Eles devem ter circuito interno de TV.
Então voltamos todos para a entrada como um pelotão. Dessa vez eu ando atrás do grupo, com medo de perder mais alguém. Joseph lidera o caminho, Charlotte ainda está firme ao lado dele por algum motivo. Posso vê-la conversando com ele, o que é realmente incomum. Depois das experiências com o namorado da mãe, Charlotte não costuma olhar para os homens com bons olhos.
Tudo está em silêncio quando chegamos ao balcão de informações. Faço as crianças ficarem em duplas, enquanto Joseph e Charlotte vão até a mulher do guichê. Ele fala rapidamente com ela, em seguida, acena com a cabeça quando ela responde. Então, a mulher pega um telefone e faz uma ligação. Como é que conseguimos perder um deles com tanta facilidade? Há um rio enorme praticamente fora do prédio, e estou tentando ignorar o pensamento de Cameron caindo dentro dele.
Meu coração está martelando no meu peito conforme Joseph se aproxima de novo. A velocidade acelera quando vejo a expressão em seu rosto.
– Receio ter más notícias.
Quero chorar, mas não posso. Sou a adulta aqui. Em vez disso, engulo as lágrimas até que se misturem com o pânico.
– Ai, Deus. Ele está ferido?
– Dificilmente. Ele foi pego furtando coisas da loja. Chamaram a polícia.
Ai, merda. De repente, parece muito pior do que apenas brincadeira na ponte.
Isso é sério.
– Posso vê-lo?
– Vou perguntar.
Alguns minutos depois, estou sendo levada para o escritório da segurança. Deixei Joseph para trás com as crianças, com instruções estritas para colocá-las dentro do ônibus e parar no McDonald’s como ele prometeu. Eles não vão lhe dar nenhum problema, eles estavam todos para baixo e desanimados quando eu os deixei. Cameron tinha arruinado o dia de todos.
O chefe de segurança, um homem cujo uniforme parecia praticamente pintado em seu corpo roliço, me puxa de lado e explica que Cameron foi pego roubando um enfeite de cinquenta libras. Ele o havia enfiado no moletom antes de ser pego. Está tudo gravado. O guarda me diz que é política do museu prestar queixa, e balanço a cabeça para concordar sobriamente, me perguntando se vale a pena implorar em nome de Cameron.
Logo o vejo sentado na sala de segurança, os pés sobre a cadeira e os braços cruzados sobre o peito. Ele ostenta uma aura de desafio, usa-a como uma armadura, e me pergunto se ser levado à delegacia é a pior coisa que pode acontecer. Não sou terapeuta e definitivamente não sou uma psicóloga infantil, mas Cameron está num caminho que só pode levar a uma vida que não quero para ele. Sento-me na cadeira que o gerente oferece e espero quase uma hora até a polícia chegar.

esse capítulo terá continuação.
esse Cameron é um rebelde, até na polícia foi parar.
e esse momento do Joseph falando que a Demi daria uma ótima mãe.
vocês viram que o Joseph e a Sophie ficaram noivos?
meu coração Jemi shipper :(
me digam o que acham nos comentários, ok?
espero que gostem do capítulo, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.

2 comentários:

  1. Amei o capitulo...
    Nossa sobre noivado do Joe eu fiquei em choque mds meu bb ta noivo e eu chorei nao acrdeitando.. Mds meu Jemi. Estou feliz por ele e ao mesmo tempo triste.
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    Respostas
    1. Que bom que gostou amor, fico muito feliz.
      Eu entendo você, também me sinto assim hahaha.
      Vou postar hoje.
      Beijos, Jessie.

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