10/05/2017

for you: prólogo


Pensilvânia dois anos antes...

Odeio despedidas!
Passei a vida inteira me despedindo das pessoas que amo. Aos sete anos, senti pela primeira vez a dor da separação, quando minha mãe me deixou aos berros num orfanato aqui mesmo no estado da Pensilvânia, onde cresci e vivo até os dias de hoje. Com quatorze anos, vi minha melhor amiga Savana ser adotada por um casal sem filhos e logo depois se mudar para Carolina do Norte. Aos dezoito, fui obrigada a deixar o orfanato e dar adeus às boas pessoas que havia conhecido ali e, única família que tive.
Hoje terei que dizer adeus novamente. Dessa vez para meu querido e rabugento chefe Harry.
Ainda me lembro do primeiro dia que o conheci. Uma semana após sair do orfanato ainda sem rumo ou direção, sem saber o que fazer da vida e com o que restava dos dólares de auxílio fornecido pelo governo para que me mantivesse nos primeiros meses.
Naquele dia, já havia andado por toda cidade procurando um pensionato que estivesse dentro do meu pequeno orçamento. Dormir para sempre em um mísero quarto de motel, estava fora de cogitação. Encontrar um emprego também não estava sendo nada fácil, sem experiência e nada, é quase impossível. Vivemos dias muito difíceis. Mas, para minha sorte, naquele fim de tarde eu vi a placa em que Harry oferecia um emprego de garçonete e por uma quantidade aceitável, hospedagem em um quartinho em cima da lanchonete.
E foi aqui que passei os meus últimos quatro anos, antes da lanchonete falir e ser tomada pelo banco. Hoje é o último dia de trabalho da equipe que consistia no dono, o rabugento Harry, o cozinheiro e eu.
Ninguém quis admitir que estivesse realmente triste. Embora Harry fosse um rabugento que reclama da vida vinte e quatro horas por dia, também é a pessoa com coração mais doce que já conheci. Na verdade, desconfio que seu jeito rabugento seja uma forma de camuflar seu coração de manteiga. Assim como meu jeito explosivo. Ah, tenho péssimo hábito de falar o que penso, sem medir consequências, mas isso você notará mais à frente.
— Demi! — o grito ecoa do pequeno escritório atrás da cozinha — Anda logo garota, eu não tenho o dia todo.
Dou risada, tiro o avental pela última vez e me encaminho para o escritório. Tenho ouvido essa frase nos últimos quatro anos.
— O que você quer? — respondo tentando conter o riso, nosso tratamento parece agressivo para outras pessoas, mas para nós é como se fosse um jogo. Após muitas e muitas brigas, nós dois aprendemos a nos dar bem. Confesso que foi difícil dosar seu jeito ranzinza com minha boca impertinente. Eu sou daquelas que não leva desaforo para casa. Não mesmo!
— Pegue esse maldito envelope em cima da mesa — ele aponta para o papel pardo em cima da sua desorganizada mesa, enquanto finge olhar algumas correspondências — Vai ficar parada aí o dia todo?
— O que é isso? — estou surpresa com as notas que vejo lá dentro.
— Depois de ganhar tantas gorjetas nos últimos anos, pensei que soubesse o que é dinheiro? — ele resmunga.
Na verdade, ele está sendo irônico. As poucas pessoas que passam por ali são pão duras demais para deixar alguma gorjeta. Aliás, estamos surpresos pela lanchonete não ter falido antes. Harry é péssimo com números e eu também não pude ajudar muito. O que eu gostava era decoração. Foi daí que surgira meu sonho em ser arquiteta. John acha que sonho demais e que devo me contentar apenas em ter um teto. Às vezes acho que ele tem razão, mas o que é a vida sem sonhar?
— Mas você me pagou ontem — afasto esse último pensamento e devolvo o envelope a ele.
— Considere isso como um bônus — Harry sacode as mãos como se me dispensasse — Agora saia.
— Tem certeza? — pergunto, emocionada — Não vai fazer falta?
— Eu não abri vaga para contadora, garota — ele pigarra, limpando a garganta — Agora saia!
Balanço a cabeça e me viro para porta. Nós combinamos sem lágrimas e sem despedidas. Mas a verdade é que estou arrasada. Outra vez alguém que eu amo está indo embora. Sem me importar com o que me dirá, corro até ele abraçando-o.
— Vou sentir sua falta, Harry.
— Por que você não vem comigo criança? Dakota do Norte é bom lugar para se viver.
— E me amontar na casa da sua filha com marido e os dois filhos? — pergunto, enrugando a testa. — Não acho que sua filha ficaria feliz com a situação. Além disso, tenho o John.
— Não sei o que viu nesse sem vergonha? E se já não bastasse isso, há àquela garota.
O sem vergonha, é meu namorado John, conheci-o aqui mesmo na lanchonete, pouco mais de um ano. Loiro, musculoso, olhos azuis e jeito de bad boy. Aquela garota, é Mary Ane, uma antiga colega de quarto do orfanato que eu havia reencontrado. Apareceu há um pouco mais de um mês. Harry não gosta da jovem loira voluptuosa, com suas roupas curtas e insinuantes. Desempregada e sem ter para onde ir, havia me procurado. Não pude recusar ajudá-la. Sei muito bem como é ser sozinha no mundo.
— Não entendo por que não gosta dele e por que têm tanta implicância com Mary Ane?
— Esse rapaz não serve para você, criança. E essa garota..., não gosto nada dela.
— John só precisa de uma chance na vida e Mary Ane de uma mão. Eu me lembro de que se não tivesse me ajudado, no início, nem sei o que eu teria feito.
— Você é uma boa moça Demi, é diferente — Harry alisa meu cabelo — Eu espero que não se decepcione. Se precisar de mim, você sabe onde me encontrar.
— Obrigada Harry — sinto as lágrimas voltarem ao meu rosto.
— Agora vá. Preciso fechar tudo.
Saio dessa vez sem olhar para trás. Sei que um dia voltaremos a nos ver. Talvez, no próximo verão. Sim, até lá já terei um novo emprego. Irei guardar esse dinheiro para viagem, se John souber desse dinheiro irá querer gastá-lo com besteiras, conheço bem suas futilidades e falta de juízo.
Pergunto-me quando ele irá crescer.
Deixei parte do pagamento que Harry havia feito no dia anterior, com John, para que ele pagasse hoje o aluguel desse mês. O restante eu guardei na gaveta da cômoda, depositarei no banco no dia seguinte. Agora seremos três desempregados naquele apartamento. Isso me preocupa. Teríamos que viver modestamente até que um de nós arrumássemos um emprego. E apesar do Harry ter sido generoso, o dinheiro que havia me dado não duraria para sempre.
Subo os dois lances da escada com desanimo e tentando não sentir pena de mim mesma. Abro a porta, fico surpresa em encontrar a casa em silêncio. Aparentemente não há ninguém em casa. Talvez tenham ido procurar emprego.
Acendo a luz e fico totalmente abismada com o que vejo.
Vazio!
O apartamento está completamente vazio. Corro para o quarto e tenho a mesma surpresa. Não há nada, absolutamente nada. Minha cabeça dá voltas e mais voltas. Sento-me no chão e tento controlar a vertigem que me domina.
O que está acontecendo? Onde estão John, Mary Ane e todas as coisas? Não que houvesse muito, quando vim para cá havia apenas uma cama e uma TV, eu trouxe todos os outros móveis. Todos os que comprei nos últimos quatro anos.
Corro até o apartamento do síndico no andar superior. Com certeza ele sabe de alguma coisa.
Bato na porta com força, minhas pernas estão trêmulas e minha respiração irregular.
— Ah, tomou vergonha na cara e apareceu? — Craig perguntou, assim que abriu à porta.
— Minha casa está vazia — respondi, ainda tremendo — Onde está o John e o que você fez com nossas coisas?
— Eu? — ele abre a boca parecendo abismado — Não fiz nada. Seu namorado e a loira saíram
em um caminhão há meia hora e levaram tudo. Aliás, espero que tenha vindo pagar o aluguel como eles disseram que você faria.
Eles haviam partido? Levaram minhas coisas? O dinheiro do aluguel?
Todas essas informações giram em minha cabeça. A náusea volta a tomar conta de mim com força total e antes que eu possa me conter, tudo que estava em meu estômago sai pela minha boca. Em poucos segundos, tudo vai parar nos sapatos de Craig.
— Que droga! — ele grita com cara de nojo.
— Foram embora? — pergunto, ainda incrédula — Juntos?
— Foi o que eu vi — ele dá de ombros — Agora, pague o aluguel!
Limpo os lábios com as costas da mão, enquanto lágrimas inundam meus olhos. Isso não está acontecendo. Não poderiam fazer isso comigo.
O dinheiro? Além de todas as minhas coisas, levaram o dinheiro do aluguel e pouco que havia sobrado. Levaram tudo.
Ira e dor tomam conta de mim. As pessoas sempre iam embora, mas nunca de forma tão leviana e cruel. Minha mãe havia desistido de mim quando eu era pequena, mas pelas poucas lembranças que eu tenho do passado, foi para meu bem. Savana havia partido, porém foi para o bem dela. Harry também vai embora, mas ele não teve outra escolha.
John e Mary Ane me enganaram da pior e mais cruel forma possível. Não haviam levado apenas o dinheiro. Haviam roubado toda minha fé no amor e nas pessoas.
— Então vai me pagar ou não? — Craig encarava-me com raiva— Acho bom fazer isso ou
chamarei a polícia.
— Desculpe Craig — murmuro, consternada.
Aperto minha bolsa com força. Não tenho nada, apenas os dois mil dólares de bônus. Daria para pagar o aluguel, mas o que faria depois? Sem casa, sem emprego. 
Faço a única coisa que me vem à cabeça. Eu corro. Ouço os gritos furiosos de Craig atrás de mim. Eu não ligo, tudo que quero é sair dali e esquecer. Um dia eu pagaria a minha dívida com ele.
Ainda desnorteada, faço sinal para o primeiro ônibus que vejo. Sento-me no último banco e deixo que as emoções tomem conta de mim. Sentindo-me traída e enganada, juro nunca mais confiar em ninguém novamente.

deu para conhecer um pouco da Demi nesse prólogo.
o namorado dela e a sua amiga fugiram juntos, tadinha da Demi.
em breve ela e o Joseph irão se encontrar e vai ser quente.
espero que tenham gostado.
volto logo com o primeiro capítulo.
bjs amores <3
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2 comentários:

  1. MEU DEUS A DEMI CORRENDO PARA NÃO PAGAR O ALUGUEL LOL
    Que sacanagem, não me surpreende ela ficar toda arisca depois.
    Espero que ela encontre com Joe logo, ansiosa!
    Xoxo.

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    Respostas
    1. Demi é demais mesmo hahaha
      O encontro dela com o Joseph acontecerá em breve.
      Vou postar o primeiro capítulo hoje, bjs lindona <3

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