25/05/2016

sussurros na noite: capítulo 36


Joseph guardou o último maço de papéis dentro da pasta e levou-a para baixo até o vestíbulo, onde suas malas esperavam para ser guardadas no carro pelo motorista. 
Ficou parado no vestíbulo, com as mãos nos bolsos, dando uma última olhada em volta. Ele mesmo havia projetado aquela casa. Adorava as formas e espaços dos cômodos, os tetos altos e as vistas panorâmicas. Agora, estava contente por ficar longe dali por algum tempo. Para onde quer que se virasse, surgiam as lembranças de Demi e de sua crédula obsessão por ela. Tais emoções recebiam-no em todos os cômodos, e seguiam-no pelos corredores. Olhou de relance na sala de estar, e viu Demi sentada no sofá, preocupada com a possibilidade de ser presa. 
Os passos de Joseph ecoaram no piso de madeira envernizada, enquanto andava de um 
cômodo para outro. 
Passou pela porta da cozinha, e ali estava ela, preparando uma omelete no meio da noite. Quem não ajuda a cozinhar, não ajuda a comer, ela avisara. 
Então me dê uma tarefa. 
E que seja bem difícil.
Ela havia lhe dado uma faca e um pimentão verde. 
Eu estava pensando em algo mais ”másculo
E ela lhe entregara uma cebola. 
Joseph abriu a porta dos fundos e foi para o terraço, onde parou por um momento. À sua esquerda, estava a mesa onde ela havia compartilhado o desjejum com Courtney, Paul e ele, pela primeira vez. Courtney estivera exigindo os detalhes da noite anterior, quando Joseph levara um belo ”fora”, e Demi caíra numa risada contagiante. Não sei nada sobre flertes... Se eu tivesse um telefone, teria ligado para minha amiga Sara ali mesmo na pista de dança, e lhe perguntaria o que deveria dizer... 
Joseph desviou os olhos da mesa e fixou-os à sua frente. Ela o encontrara ali mesmo, no gramado perto do terraço, naquela noite depois da festa em sua homenagem, parecendo um anjo descalço levando as sandálias na mão. Quanto a este tipo de... relacionamento... Não tive o que você... o que algumas pessoas considerariam como muita experiência. Na verdade, tive apenas dois destes relacionamentos. 
Só dois? Que pena... Seria muito eu esperar que ambos fossem baixinhos e sem nenhuma importância? 
Sim, ela havia sussurrado, pousando a mão em seu rosto. Eles eram, sim
Acabaram indo para aquela espreguiçadeira à sua direita, naquela noite, onde ele se comportara como um adolescente ansioso, beijando-a e apalpando todo seu corpo. 
A praia estendia-se à sua frente. Ele a encontrara na praia, na noite em que Marie morrera. Havia voltado mais cedo de Miami, porque não suportara ficar longe de Demi. Quando a acompanhara de volta para casa, depois que ela o obrigara a ajudá-la a cozinhar, ele dissera: Estou louco por você. Queria ter dito ”Eu amo você” mas, graças a Deus, havia se contido. Caso contrário, esta seria mais uma coisa idiota que teria para se arrepender, agora. 
Joseph virou-se e voltou para a casa. De todas as mulheres que conhecera, perguntava-se que acesso de instabilidade mental, que acaso da química humana teriam feito dela a única que realmente queria, acima de todas as outras. 
Joseph não conseguia entender como pudera ser tão malditamente ingênuo. Teria apostado qualquer coisa que Demi estava tão apaixonada por ele, quanto ele estava por ela. Na verdade, ele tinha apostado nela e, no final, isso lhe custara uma fortuna. A ofensiva publicidade resultante da busca do FBI em seus iates havia causado sérios danos à sua reputação, e embora o FBI não tivesse encontrado nada, o simples fato de ele ter estado sob suspeita iria permanecer na memória das pessoas por muito tempo. 
Demi Lovato era tão linda e delicada quanto uma orquídea de rabo-de-cavalo. 
Joseph parou na porta da sala íntima da família e olhou para o cd inserido no aparelho de dvd. Durante dias, depois daquele em que Selena e Demi quase foram mortas, os noticiários da tv exibiram extensas reportagens, mostrando imagens de Demi cumprindo suas funções como policial. Mesmo considerando Demi como uma completa traidora, Courtney havia ficado fascinada com o que vira na televisão e, com uma inocente insensibilidade, tão típica dos adolescentes, gravava tudo o que via e, depois, atormentava Joseph para que ele também assistisse. 
Segundo Courtney, o Departamento de Polícia de Bell Harbor havia aparecido num episódio de uma série sobre a ”verdadeira polícia em Ação”, ou algo assim. Demi participara de uma blitz num ponto de venda de drogas, que fora filmada do começo ao fim. 
A cd de vídeo parecia acenar para Joseph. Aquela era sua última chance de ver Demi, antes de partir. Courtney e Paul tinham ido visitar Selena, e ele estava sozinho em casa. Encaminhou-se para o televisor, ligou o aparelho e inseriu o cd. 
A tela iluminou-se, o cd começou a rodar, e Joseph sentiu um fluxo renovado de fúria ao lembrar-se de que havia se oferecido para ensinar Demi a atirar, para que o ”anjo delicado” perdesse o medo de armas!
Na tela da tv, o ”anjo” usava uma jaqueta com a palavra polícia estampada nas costas, e estava abaixada ao lado de um carro-patrulha, com uma arma presa entre as mãos, dando cobertura aos colegas que se posicionavam num extenso gramado. 
Numa outra cena, Demi não se limitava a simplesmente dar cobertura aos companheiros, mas liderava o grupo, correndo na direção de um prédio e atocaiando-se perto da porta de entrada, segurando firmemente a arma nas mãos. 
Joseph apertou o botão de desliga. Ele a odiara naquele video.
Porem, se ela não o tivesse traído, ele a teria achado absolutamente magnífica. 
Lembrou-se de que deixara um dos documentos no andar de cima, e subiu para o escritório a fim de pegá-lo. Estava procurando o papel entre as pastas sobre a escrivaninha, quando ouviu vozes vindas do corredor. No instante em que ergueu os olhos, deparou com Nicholas Parker parado na porta, com Courtney de um lado e Paul do outro.
Paul logo percebeu o brilho ameaçador nos olhos do filho. 
— Joseph, será que poderia ao menos ouvir o que Nicholas tem a dizer? 
Em resposta, Joseph pegou o telefone e pressionou a tecla do interfone. 
— Martin - disse ao seu motorista/guarda-costas. — Há um intruso em meu escritório. Livre-se dele. - Voltou os olhos para a mesa, encontrou o documento que estava procurando e levantou-se, fazendo a volta pela escrivaninha. — Quando eu passar por você, Parker - disse, enquanto seu pai e sua irmã sabiamente se afastavam e lhe abriam caminho para o corredor. — Se der uma piscadinha que seja, vou considerar como uma agressão e ficarei encantado em poder chutar sua bunda para fora daqui. Estamos nos entendendo? 
Sem nada dizer, o agente do FBI deu um passo para dentro da sala, fechou a porta com um safanão e trancou-a, bloqueando a entrada de Paul, Courtney e principalmente a de Martin, que corria escada acima. Apoiando os ombros na porta, a fim de evitar que alguém tentasse abri-la, Parker cruzou os braços e fitou Joseph por um instante, impassível.
Do outro lado da porta, Courtney e Paul podiam ser ouvidos assegurando a Martin que ele não era necessário. Nicholas não tinha dúvida de que Joseph estava furioso o bastante para expulsá-lo pessoalmente naquele exato momento, mas contava com o fato de que Joseph não iria querer expor uma menina de quinze anos a uma cena de violência envolvendo a si próprio, mesmo se ela só pudesse ouvir, e não presenciar. Nicholas também contava com sua habilidade de disseminar a ira de Joseph antes que ele decidisse que, já que fora Courtney quem precipitara toda a cena, bem que poderia pagar o preço de ouvir uma briga de socos.
— Joseph - Nicholas falou finalmente, num tranquilo tom de conversa. — Eu passei duas semanas infernais. Na verdade, não passo por algo assim há uns cinco anos. 
Joseph recostou o quadril na escrivaninha, um músculo latejando na mandíbula cerrada, a atenção voltada para a porta, tentando descobrir se Courtney continuava ali, ou se teria se afastado. 
Nicholas sabia disso, e portanto falou um pouco mais depressa, e num tom mais amigável. 
— Você se lembra do caso Zachary Benedict, cinco anos atrás? 
O olhar de Jonas voltou-se para ele, cheio de desprezo. Era pouco provável que alguém tivesse esquecido o furor mundial que envolvera o famoso ator e diretor, vencedor do Oscar, que fora vítima de um erro de julgamento e acusado de ter matado a esposa. Benedict escapara da prisão e fizera uma refém chamada Julie Mathison, que acabara se apaixonando por ele. Nicholas havia capturado os dois no México, quando Benedict arriscara sua liberdade para reunir-se a Julie, e a cena violenta que se desenrolou no aeroporto da Cidade do México fora transmitida pelos canais de tv do mundo inteiro. 
— Posso concluir, pela sua expressão, que você se lembra deste incidente. Eu era o agente encarregado de prender Benedict. Fui eu quem levou Julie Mathison ao México e usou-a como isca no aeroporto.
 — Diga-me uma coisa - Joseph disparou. — Alguma vez você já foi atrás de alguém que realmente era culpado?
— Não no seu caso, obviamente. E tampouco no caso de Benedict. Mas fui ver Benedict, quando ele finalmente foi absolvido e libertado da prisão, depois do ocorrido no México, e tive sucesso ao pleitear com ele em favor de Julie. Ele a perdoou.
— E o que isso tem a ver comigo? 
— Já chego lá. Veja bem, existem duas grandes diferenças entre a situação de Julie com Benedict, e a situação de Demi com você neste momento: Julie foi para o México para ajudar-me a capturar Benedict, porque eu a convenci de que ele era culpado. Porem, nunca consegui convencer Demi de que você fosse culpado. 
Nicholas captou um brilho de relutante interesse nos olhos de Joseph, e voltou à carga: 
— Na verdade, nem me dei ao trabalho de tentar. Demi veio para Palm Beach apenas para ajudar-me a investigar Patrick Lovato. Ela não sabia que eu pensei que você estivesse trazendo o dinheiro que Lovato lavava para o cartel. Eu a mantive no escuro por diversos motivos e, um deles, foi porque Demi é uma idealista. Ela é leal, e muito esperta. Se tivesse suspeitado por um instante que eu a usava para obter informações que poderiam ser usadas contra você, acho que teria acabado com o próprio disfarce, e com o meu também, somente para protegê-lo. 
— Você acha mesmo que vou acreditar nisso? 
— Por que eu mentiria? 
— Porque você não passa de um filho da puta conivente. 
— Courtney compartilha da sua opinião - Nicholas falou, irônico. — É claro que ela expressou-se com um pouco mais de educação, mas o tom e o sentido eram os mesmos. No entanto - continuou, ríspido. — Isso não interessa. Eu disse que existem duas grandes diferenças entre as situações de Julie Mathison e Demi Lovato. E a segunda é esta: Julie sentiu-se culpada por ter traído Benedict, depois de tudo. Ela estava disposta a enfrentar a fúria de Benedict e sua recusa em vê-la, ou em deixá-la se explicar. Demi, por outro lado, não tinha nenhum motivo para se sentir culpada. E é tão orgulhosa quanto você, por isso pense bem antes de afastar-se dela para sempre. 
Nicholas saiu de perto da porta.
— Sei que lhe dei muito em que pensar. - Olhou no relógio.
— Você tem meia hora para decidir se quer ou não estragar sua vida e a de Demi. 
— O que diabos está querendo dizer com isso?
— Quero dizer que ela está à sua espera no Apparition. Portanto, pense um pouco. Mas lembre-se de que ela não está lá para implorar seu perdão. Ela nunca implora nada a ninguém. Quer apenas lhe dizer que sente muito tudo o que aconteceu, e despedir-se de maneira adequada. 
Nicholas virou-se para abrir a porta, mas parou e fez meia-volta. 
— Mais uma coisa - disse, sorrindo. — Eu vou me casar com Selena e, conforme descobri da pior maneira possível, ela tem um braço direito surpreendentemente forte. 
Joseph captou a indireta. 
— Ela lhe deu um tapa? - concluiu, sem emoção.
— Exatamente. 
— Por quê? 
— Eu acusei-a de ter matado Marie.
— Pois me parece um bom motivo - Joseph comentou, com irônico divertimento. 
— E uma hora depois disso, também descobri que Demi tem uma direita bem mais poderosa, e é ainda mais rápida do que Selena. 
O interesse reluziu nos olhos de Jonas.
— Demi também o esbofeteou?
— Não. Ela deu-me um soco de direita que quase me derruba no chão. 
— Por quê?  
Nicholas ficou sério. 
— Porque ela acabara de descobrir que eu a havia usado para atingir você. 
Nicholas havia dito tudo o que pudera pensar em dizer a fim de inocentar Demi, mas quando observou a expressão de Joseph, em busca de uma pista sobre como ele se sentia, percebeu que era completamente impassível. 
Joseph ficou sentado ali, depois que  Nicholas se retirou, pensando em tudo o que ele dissera. Não havia como ter certeza de que o agente do FBI lhe falara a verdade sobre Demi. Nunca haveria nenhuma prova. Ainda assim, ele tinha uma prova. Sempre tivera. A prova estava nos olhos de Demi quando o fitavam, em seus braços quando agarravam-se a ele, em seu coração, quando faziam amor. 
  
E era o bastante, Joseph decidiu. Levantou-se, ansioso em vê-la, até que um pensamento lhe ocorreu, e ele começou a rir. Parker não iria sair ileso de tudo aquilo. Depois de arruinar a integridade de Joseph, e espalhar dúvidas a respeito de seu caráter, Parker estaria ligado a ele para sempre, como co-cunhado! 
Joseph ainda estava sorrindo quando passou pelo vestíbulo, e foi interceptado por Courtney na porta da frente. 
— Acho que está na hora de nos despedirmos, não é? - a menina falou, um tanto deprimida demais para alguém como ela. — Nicholas disse que acha que nada do que falou fez a menor diferença para você. Não fique zangado comigo por tê-lo trazido aqui, está bem? Não quero que você vá embora com raiva de mim. - Ficou na ponta dos pés, enlaçou-lhe o pescoço e deu-lhe um beijo de despedida.
— Se não a conhecesse, seria capaz de pensar que você vai realmente sentir minha falta - ele brincou. 
Courtney encolheu os ombros.
— Vou, mesmo.
— Verdade? Pois eu pensei que você nem gostasse de mim.  
As malas já estavam no carro, e Joseph abaixou-se para pegar a pasta. A menina o observava, tentando detectar algo que pudesse lhe dar uma esperança.
— Eu gostaria muito mais de você, se perdoasse Demi
Por sobre o ombro dela, Joseph viu Paul parado na sala, olhando-o com a mesma expressão esperançosa que Joseph ouvira na voz da irmã. Ansioso em sair para encontrar-se com Demi, ele piscou para o pai e virou-se na direção da porta.
— Tudo bem, se for para fazer com que vocês gostem mais de mim... 
Aquilo era tudo que Courtney precisava ouvir. E não hesitou em levar a recém-descoberta vantagem até o seu limite máximo. 
— Sabe de uma coisa - acrescentou, enquanto abria a porta. — O que eu realmente gostaria, mais do que tudo, era que você casasse com Demi e ficasse morando aqui em Palm Beach!
Joseph riu e, abraçando a irmã, deu um beijo nos seus cabelos loiros. Ela tomou isso como um ”sim”, e seguiu-o até a varanda. 
— Joseph - chamou ansiosa, enquanto ele entrava no assalto traseiro do carro. — Sabe que eu daria uma tia sensacional? 
Com os ombros sacudindo-se de riso, Joseph fechou a porta do carro. 

Ta acabando amores :(
Comentem lindonas, bjs <3

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