22/05/2016

sussurros na noite: capítulo 33


A ameaça de chuva que fizera com que Demi começasse a correr acabou se transformando em apenas uns poucos pingos, e ela retomou a lenta caminhada. Normalmente o mar a tranquilizava, era como se cantasse para ela. Porem, desde que voltara de Palm Beach não conseguira mais encontrar consolo ali na praia. Antes de ir para Palm Beach, adorava as horas de silêncio e solidão em sua casa. Agora, também não conseguia mais ficar ali fechada. Abaixando-se, pegou uma pedra redonda e macia; depois caminhou devagar na direção das ondas e, com um meneio do pulso, tentou fazer com que ela pulasse na água. A pedra deveria ter saltado, mas em vez disso, bateu na água e afundou. Pensando no dia que tivera, Demi concluiu que aquilo encaixava-se perfeitamente. 
Havia chegado em casa um pouco depois das três horas e, até agora, passara a maior parte do tempo sentada numa pedra perto da área reservada para os churrascos e piqueniques. Ficara observando as nuvens indo e vindo no céu e obscurecendo o sol poente, enquanto tentava ouvir a música do mar. Nas tardes calmas, o mar tocava sonatas de Brahms para ela; nas noites de tempestade, era Mozart. Porem, desde que voltara de Palm Beach, a música desaparecera; agora o mar parecia apenas lastimar-se, às vezes com sons lamentosos e murmúrios tristes que a atormentavam até mesmo durante o sono.
O mar queixava-se a ela porque sua bisavó estava morta, mas o assassino ainda estava livre. Murmurava que ela havia amado e perdido este amor porque desapontara a todos. Enumerava suas perdas em cada subir e descer das ondas. Marie... Joseph... Selena... Paul. Demi ficou parada diante do mar, com as mãos nos bolsos, ouvindo o surdo refrão, e isso fez com que quisesse voltar para casa, mesmo sabendo que nem ali seria capaz de encontrar refúgio.
Atravessou a rua na esquina, com a cabeça baixa, torturada pelas lembranças e sendo seguida pelos murmúrios tristes, insistentes. Estava tão absorvida em pensamentos que, somente quando estava chegando à porta que dava para a cozinha, levantou a cabeça e percebeu que os fundos da casa estavam às escuras. Desde que voltara de Palm Beach ela passara a deixar uma luz acesa na cozinha e outra na sala, para que não encontrasse a casa escura quando chegasse. E tinha certeza de que deixara a luz da cozinha acesa. 
Imaginando como poderia estar se lembrando tão bem de algo que, obviamente, não fizera, Demi aproximou-se da porta. Então, viu que uma parte do vidro da porta estava quebrada, e tirou a mão do trinco rapidamente. Fez um giro, recostando na parede da casa e, em seguida, abaixou-se de cócoras. 
Mantendo-se abaixo do nível das janelas, fez o contorno da casa até chegar na parte da frente, notando que a luz da sala continuava acesa. Fez um rápido cálculo das probabilidades e das respostas mais apropriadas: não tinha como saber se ainda havia alguém ali dentro, ou por que haviam entrado na casa. Os ladrões costumavam entrar e sair bem depressa, mas normalmente não apagariam uma luz que já estivesse acesa. 
Demi estava com a chave da casa, mas sem a chave do carro, e sem a sua arma. A Glock continuava sob custódia da polícia de Palm Beach, e a arma que lhe foi entregue em substituição encontrava-se na sua bolsa, no quarto. Havia também um trinta-e-oito na escrivaninha da sala. Se houvesse alguém dentro da casa, a coisa mais sensata a fazer seria sair dali, ir para a casa de um vizinho e ligar pedindo ajuda.
E este era o seu plano, até que alcançou a parte da frente da casa e viu o conhecido Jaguar conversível parado na rua. O carro de Selena. Será que ela havia arrombado a porta da casa e deixado o carro ali, bem às suas vistas? A ideia era tão estranha que parecia sinistra. 
Com todo cuidado, Demi recuou novamente para os fundos da casa e, em silêncio, girou a maçaneta da porta enquanto, automaticamente, posicionava-se para o lado, fora da linha de fogo. Então, ouviu algo lá dentro. Um movimento? Um gemido? Uma palavra? 
Através do vidro quebrado, fez um rápido exame do interior da cozinha escura, certificando-se de que estava vazia, e verificando que a porta que ligava este comodo com a sala estava fechada. 
Todos os seus sentidos estavam em alerta, agora, sintonizados em quaisquer nuances de som, enquanto esgueirava-se para dentro da cozinha e, cautelosamente, entreabria a porta vai vem com a ponta do dedo. 
Selena estava sentada na escrivaninha da sala, de frente para a cozinha, pálida de terror, enquanto um homem às suas costas lhe apontava uma arma. Rezando para que houvesse apenas um homem, Demi abriu um pouco mais a porta. 
Selena a avistou e, num impulso desesperado, começou a falar, tentando distrair seu agressor e dar uma pista a Demi. 
— Demi não vai escrever uma confissão dizendo que matou minha bisavó somente para ”livrar a cara” do meu pai. Ela irá saber que vocês pretendem matá-la assim que fizer isso. 
— Cale a boca! - o homem sibilou. — Ou não viverá o bastante para descobrir se estava certa! 
— Não sei por que são necessários três homens armados para matar uma mulher! - Selena soube, naquele momento, que ela e Demi iriam morrer. Pressentiu isso com uma terrível sensação de fatalidade. 
— Agora que você apareceu - um homem postado à esquerda da porta da cozinha falou, num tom suave. — Serão duas mulheres.
Selena presumiu que Demi iria recuar, mas o que ela fez em seguida foi tão espantoso quanto impensável. Demi abriu a porta de todo, levantou as mãos abertas a fim de mostrar que não estava armada, e entrou na sala.
— Deixem-na em paz - disse, muito calma. — É a mim que vocês estão querendo. 
Selena gritou, o homem perto da escrivaninha fez um rodopio, e os outros dois agarraram os braços de Demi e jogaram-na de encontro à parede, cada um apontando uma arma em sua cabeça. 
— Ora, ora, bem-vinda ao lar! - um deles falou. 
— Deixe-a ir embora, e eu farei o que vocês quiserem - Demi disse, com tanta tranquilidade que Selena nem conseguia acreditar.
— Você vai fazer o que quisermos, ou iremos matar a sua irmãzinha bem diante dos seus olhos - o homem que estava perto de Selena falou, enquanto fazia a volta pela escrivaninha. Segurou Selena pela gola da blusa e puxou-a para fora da cadeira, atirando-a na direção do homem que rendia Demi. — Você - disse, apontando a arma para Demi. — Venha até aqui. Vai escrever uma carta.
— Tudo bem, eu escrevo - ela disse, sendo empurrada para a frente com tanta força que tropeçou. — Mas vocês estão cometendo um erro. 
— Você cometeu um erro quando entrou por aquela porta - disse o homem junto à escrivaninha, enquanto a segurava e empurrava-a para a cadeira. 
— Se quiserem continuar vivendo depois que saírem daqui - Demi avisou. — É melhor você pegar aquele telefone e ligar para a pessoa que os enviou. 
O homem pressionou o cano da arma na cabeça de Demi.
— Cale a boca, merda, e comece a escrever! 
—  Está bem. Deixe-me pegar o papel na gaveta, mas estou avisando... minha irmã não tem nada a ver com isso. Não... não precisa empurrar esta arma com mais força na minha cabeça. Eu sei que você vai me matar. Mas não deve matar Selena. Ligue para seu patrão e pergunte. 
À sua esquerda, Demi reparou numa sombra movendo-se no corredor que dava para seu quarto, e sentiu o suor brotando em sua testa, enquanto o fluxo de adrenalina aumentava. Começou a falar mais depressa, mais intensamente, tentando distrair seu agressor para que ele não percebesse o movimento.
— É a ela que estão tentando proteger, com a minha morte. Diga ao seu patrão que... 
O bandido agarrou-a pelos cabelos e puxou-lhe a cabeça para trás. Enfiou o cano da arma em sua boca.
— Se você falar mais uma palavra, eu aperto o gatilho.  
Ela assentiu devagar, e ele afastou a arma e soltou-lhe os cabelos.
— O que você quer que eu escreva na carta? - perguntou, abrindo a gaveta lentamente. Com a mão direita, retirou uma folha de papel, enquanto a mão esquerda fechava-se em torno do coldre do revólver trinta-e-oito. Usando a folha de papel como cobertura, deixou a arma no colo e aproximou-se mais da escrivaninha a fim de escondê-la. — O que vou escrever? - repetiu. 
O homem tirou um pedaço de papel do bolso e bateu-o sobre a mesa, na frente dela. 
Na mente de Selena, poucos instantes antes que tudo se apagasse, o barulho do papel sendo deixado na mesa coincidiu com as explosões simultâneas, vindas de todas as direções, e uma dor aguda e súbita em sua cabeça. A última coisa que viu, antes de mergulhar num poço de escuridão, foi o rosto de Nicholas Parker, contorcido de fúria. 

O que acharam gente? 
Achei essa capítulo muito bom, a demi super corajosa! 
Comentem, bjs lindonas <3

2 comentários:

  1. Pq a Demi entrou? Ela arriscou muitooo!! Quem ela viu se movimentando era o Nick? Cadê o Joe e o Jess pra ajudá-la? E a Selena tadinha... estou surtando aqui!!! Continua logo por favor!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, ela arriscou porque se não iriam matar a Selena..
      Já postei lindona, bjs <3

      Excluir