15/05/2016

sussurros na noite: capítulo 25


Andy Cagle acomodou-se todo contente no assento de passageiro, enquanto Dennis Flynn ligava o motor do carro e afastava-se da calçada na frente do escritório de Grant Wilson. O advogado havia se atrasado numa audiência no tribunal, e os dois foram obrigados a tomar um ”chá de cadeira” de quase duas horas no escritório e, depois, tiveram de convencê-lo que ele estava de posse de provas materiais que ajudariam na solução do crime. 
O esforço valera a pena. O que descobriram os deixou num estado de excitada incredulidade, pois concluíram que fazer uma prisão naquele caso seria muito mais fácil do que haviam imaginado.
— Tenho até medo de acreditar - disse Flynn. — Por que será que Marie Lovato não contou a Patrick que havia modificado o testamento e tornado Demi sua herdeira?
 — Não sei. Talvez achasse que ele não concordaria. Talvez pensasse que não era da conta dele. Ou, quem sabe, nem teve tempo de lhe dizer. 
— Mas isso não importa - Flynn falou com um sorriso. 
— O mais importante é que Wilson afirmou que Marie garantiu-lhe que havia conversado com Demi sobre a mudança no testamento.
Cagle ajeitou os óculos no nariz e assentiu, satisfeito.
— É. E a única maneira de Demi certificar-se de que a bisavó não mudaria de ideia, depois que ela voltasse para casa, seria liquidá-la imediatamente.
Flynn concordou.
— Temos o motivo e a oportunidade. Agora, precisamos da arma. Você acha que devemos chamá-la para depor, e talvez conseguirmos que ela nos diga onde está a arma, ou é melhor avisarmos a equipe de buscas na casa e dizer o que sabemos? Eles podem iniciar as buscas a partir do quarto dela. 
— Vamos tentar encontrar a arma sem deixá-la perceber que estamos desconfiados. 
Flynn pegou o telefone celular e ligou para o tenente Fineman na casa dos Lovatos, e informou-o dos últimos acontecimentos. Quando Flyn estava prestes a desligar, Cagle teve uma súbita inspiração 
— Diga aos rapazes que concentrem as buscas nas sebes que cercam todo o lado norte da propriedade, na direção da saída para a praia. Jonas disse que ela estava vindo do lado norte, quando a avistou. É provável que ela não fosse tão estúpida a ponto de esconder a arma numa das malas, ou em outro lugar fácil de encontrarmos. E diga-lhes para se certificarem de que ela não perceba o que estão fazendo. Não quero que leve a arma para um outro esconderijo qualquer. 
Flynn voltou a falar no telefone e passou o recado de Cagle, juntamente com uma sugestão:— Mantenham-na ocupada fazendo-a escrever tudo o que se lembra dos acontecimentos da noite, ou algo assim. - Desligou. — Vamos deixar o capitão contente - disse, irônico.
— Se encontrarem logo esta arma, Hocklin ainda terá tempo de se enfeitar todo, antes de encarar a nação firmemente no noticiário desta noite. 
A notícia da rápida solução do crime na família Lovato espalhou-se rapidamente pelo departamento de polícia, provocando um clima de exultação. 
— Foi muita sorte de vocês - o sargento brincou, ao passar pelos dois detetives.
— Meus parabéns - Hank cumprimentou-os, deixando sobre a mesa de Cagle uma pilha de relatórios do DBT sobre os suspeitos anteriores. — Acho que não vão mais precisar disso. Andy Cagle separou os relatórios e retirou o único arquivo no qual estava interessado. Atrás dele, Flynn acabara de atender o telefone. — Estaremos aí daqui a pouco! - Flynn pulou para fora da cadeira e pegou a jaqueta. — Encontraram a arma do crime - disse a Cagle. — Uma Glock de nove milímetros, e está faltando um projetil. Vamos pedir um mandado de prisão imediatamente! 
Cagle já estava de pé, vestindo o paletó. 
— E onde estava a arma? 
— Você nem vai acreditar como a garota é estúpida Flynn respondeu, balançando a cabeça. — Ela a escondeu debaixo do colchão. Como se este não fosse o primeiro lugar onde iríamos procurar!   



Demi estava na sala de jantar com Selena, tentando escrever um relatório detalhado sobre os acontecimentos da noite anterior, achando que isso era uma absurda perda de tempo, enquanto Selena atendia os constantes telefonemas de amigos consternados e chocados. O tenente Fineman perambulava pelo corredor, conversando em voz baixa com alguém da equipe de investigação. A campainha tocou na porta da frente, e Demi ergueu os olhos quando Nordstrom atravessou o vestíbulo para atender. Um instante depois, quando tornou a olhar para cima, viu os detetives Cagle e Flynn entrando apressadamente na sala de jantar. Demi reparou nas expressões frias e determinadas em seus rostos, e a caneta esferográfica escorregou de sua mão.
— Demi Lovato - disse Flynn, obrigando-a a levantar da cadeira e empurrando-a de encontro à parede. — Você está presa pelo assassinato de Marie Lovato. - Puxou seus braços bruscamente para trás das costas e algemou-a. — Tem o direito de permanecer calada...
— Não! - Selena gritou, apoiando-se na mesa e vacilando, como se estivesse prestes a desmaiar. — Não... 
— Isso é um engano - Demi lhe prometeu, falando por sobre o ombro enquanto era levada para fora. — É um engano, não se preocupe. Eu vou ficar bem. 
Duas viaturas da polícia aguardavam na frente da casa, com os motores ligados, e Demi foi empurrada para o banco traseiro de uma delas. 
Os repórteres aglomeravam-se na rua, e um tumulto teve início assim que perceberam que a polícia levava alguém para fora da casa. Quando as viaturas passaram pelos portões, câmeras fotográficas foram apontadas para Demi no assento traseiro, e as câmeras de tv eram atiradas nas janelas do veículo. No banco da frente, Andy Cagle virou-se e encarou-a como se ela fosse algum tipo de vírus mortal.
— Está interessada em falar, ou prefere esperar até que seja indiciada? 
A frase ”vocês estão cometendo um erro” saltou aos lábios de Demi, mas ela desistiu de usá-la porque era um chavão conhecido demais. Ouvira a mesma frase centenas de vezes, pronunciada pelos mais diversos tipos de malucos e criminosos enquanto eram levados para interrogatório ou para serem autuados, e não conseguiu imaginar-se repetindo tais palavras. Passaram na frente da casa de Joseph, e ela viu a fonte com o peixe de bronze por trás dos portões. Perguntou-se quanto tempo demoraria até que ele soubesse da notícia. 
Nicholas havia saído de casa para resolver um problema urgente, e dissera que só estaria de volta ”mais tarde”. Cagle e Flynn obviamente não pretendiam interrogá-la antes que fosse autuada, portanto Nicholas só chegaria depois que as informações sobre ela fossem processadas pelo sistema central, e isso a deixou furiosa. Não achava a menor graça na ideia de ser fotografada com um número no peito, nem de tirar as impressões digitais! Aquilo não fazia parte do combinado, quando concordara em vir para Palm Beach! 
O que não conseguia entender era por que eles pareciam não achar necessário interrogá-la. Havia esquecido a pergunta de Cagle, até que ele a lembrou: 
— Seu silêncio significa que prefere falar só depois de ser autuada? 
— Não - Demi respondeu com toda calma que conseguiu reunir. — Meu silêncio significa que estou esperando uma explicação. Afinal, vocês parecem pensar que não precisam de nenhuma prova contra mim.
Flynn olhou por cima do ombro enquanto esperava que dois caminhões se afastassem do caminho em resposta à sirene.
— Ora, por que você imagina que faríamos uma maldade dessas, prendendo-a sem nenhuma prova? 
A arrogância jubilosa na voz dele fez com que Demi se concedesse a uma breve fantasia de dar-lhe um soco no nariz.
— É impossível que vocês tenham alguma prova, pois eu não cometi nenhum crime. 
— Vamos guardar esta conversinha para quando estivermos frente a frente - ele respondeu, pisando no acelerador e desviando-se dos caminhões. 
A entrada da frente da delegacia estava cercada por uma multidão de equipes de tv, repórteres e fotógrafos de jornais, e Demi soube que era exatamente por isso que fora levada para aquela entrada, em vez de um outro acesso pelos fundos: Flynn e Cagle estavam exibindo seu prêmio algemado para que a turba incontida os fotografasse e filmasse. Demi teve uma rápida imagem de sua mãe vendo tudo aquilo no noticiário noturno, e isso foi o pior de tudo... até o momento em que Flynn e Cagle deixaram-na numa sala com um espelho de duas faces e empurraram um saco plástico contendo um revólver por sobre a mesa, na direção dela. 
— Reconhece esta arma? 
Depois que superou o choque de vê-la, Demi ficou quase aliviada ao pensar que a arma era o único motivo em que se baseavam para prendê-la. Abriu a boca para dizer que era sua, e que tinha licença para usá-la, mas no instante seguinte o detetive Flynn tirou-lhe toda capacidade de falar. 
— Adivinhe onde a encontramos? Embaixo do seu colchão! Agora, como acha que foi parar ali? 
Demi havia escondido a arma num local muito menos óbvio do que sob o colchão, e até verificara naquela manhã, certificando-se que estava onde a deixara. 
— Eu não... - inclinou-se sobre a mesa, examinando sua Glock de nove milímetros. — Não sei como foi parar ali - respondeu, honestamente. — Eu não escondi a arma debaixo do colchão.
A atitude de Flynn tornou-se calorosa e amigável. 
— Agora, sim, estamos começando a nos entender. - Empurrando sua cadeira para frente, virou-se para Cagle. — Por que não vai buscar um copo d’água para a Srta. Lovato? 
— Não quero um copo d’água - Demi informou, mas Cagle ignorou-a e saiu da sala. — Eu quero respostas! Vocês encontraram esta arma debaixo do meu colchão?
Flynn deu uma gargalhada. 
— Você é mesmo esperta, garota! Esta desculpa é nova. Mas deixe-me explicar como funcionam as coisas, Srta. Lovato. Nós perguntamos. Você responde. Entendeu? 
A cabeça de Demi rodopiava de choque e temor, quando chegou a uma conclusão impensável. Ignorando o discurso dele sobre o protocolo da delegacia, perguntou:
— Quantos cartuchos havia no pente? 
— Nove. Está faltando um. Não é uma coincidência? Quer ouvir mais uma coincidência? Acho que a balística irá nos confirmar que a bala que matou a Sra. Lovato veio exatamente desta arma. 
Demi encarou-o, sentindo um arrepio percorrer-lhe a espinha. Naquela manhã, havia checado para ver se a arma continuava no local onde a escondera, mas não pensara em nenhum motivo para verificar se o pente da arma ainda estava cheio.
— Ah, meu Deus...! - murmurou. 
Andy Cagle sentou em sua escrivaninha e pegou os dados do DBT que Hank lhe entregara, procurando o relatório sobre Demi Lovato. Achara alguma coisa estranha na maneira como ela havia reagido ao ver a arma... não, havia algo de estranho na maneira como ela reagia a toda aquela pressão de ser trazida para a delegacia de polícia e ser autuada. Começou a examinar o arquivo.
— Bom trabalho, Andy - o capitão Hocklin cumprimentou-o, entrando na sala depois de ter feito uma breve declaração à imprensa, quando anunciara a prisão de Demi Lovato pelo assassinato de Marie Lovato. Deu uma palmadinha nas costas do detetive a fim de demonstrar sua apreciação; depois, parou ao ver a expressão com que Cagle o olhava, um misto de perplexidade e susto. 
— O que diabos aconteceu agora? - perguntou, já antecipando o pior, pois dificilmente Cagle se assustava com alguma coisa. 
— Ela é uma policial - Cagle respondeu.
— O quê? Cagle passou para as mãos de Hocklin as trinta e cinco páginas de informações sobre Demi. 
— Ela é uma policial - repetiu. 
O primeiro pensamento de Hocklin foi que, se ainda naquele dia tivesse de dizer à imprensa que havia cometido um erro, iria parecer um perfeito idiota. Mas logo tranquilizou-se. 
— E daí? Você sabe como os policiais ganham pouco, e é óbvio que ela queria receber sua parte da herança. 
— Talvez. 
— Ela negou ser a dona da arma? 
— Não. Mas negou tê-la escondido debaixo do colchão. De qualquer forma, a Glock está registrada no nome dela. Veja, bem aqui... - Cagle apontou no relatório. 
Hocklin ignorou-o.
— Ela teve o motivo, os meios e a oportunidade. Pode autuá-la. 
— Não acho que... 
— Eu lhe dei uma ordem.
— Mas podemos estar cometendo um erro. 
— Faça a autuação e, se estivermos errados, depois pedimos desculpas. 
Cagle lançou um olhar furioso às costas do capitão, enquanto ele se afastava, e levantou-se da cadeira num pulo. Foi até a sala onde Flynn tentava interrogar Demi Lovato.
— Com licença - falou automaticamente para Demi; depois virou-se para Flynn. — Preciso falar com você, aqui fora. Fez um gesto indicando a porta. 
Flynn ficou intrigado, mas Demi não. Ela soube, no instante em que Cagle olhou-a e disse ”com licença”, que ele descobrira seu segredo. Com base no maço de papéis que ele trazia nas mãos, com os dados impressos de ponta a ponta, presumiu que finalmente alguém se dera ao trabalho de investigá-la nos arquivos do DBT, pois o seu nome não teria aparecido nos arquivos da Central Regional, caso tivessem procurado. Agora que eles já sabiam, ela ainda se encontrava numa situação difícil, pois nem assim poderia lhes contar porque mentira acerca da sua profissão, e tampouco que estava trabalhando para o FBI. Esperou que Flynn e Cagle voltassem para a sala e começassem a tratá-la mais como um enigma intrigante do que como uma assassina. E foi aí que se enganou.
— Srta. Lovato - disse Flynn, lacônico. — Quer me acompanhar, por favor?
 Demi levantou-se. Não podia acreditar que iriam dispensá-la assim tão facilmente. 
— Por quê? 
— Você já conhece o procedimento. Já passou por tudo isso antes, só que do outro lado.
— Vocês vão mesmo me autuar? - ela explodiu, com raiva. — Sem nem mesmo pedir uma explicação? 
Os dois detetives trocaram um breve olhar. Cagle arrumou os óculos no nariz e conseguiu parecer acanhado e zangado ao mesmo tempo.
— Vamos deixar as explicações para depois. Mas, se eu estivesse em seu lugar quando começarmos o interrogatório, diria para enfiar as perguntas no traseiro do capitão Hocklin, e depois exigiria a presença do meu advogado. 
Demi tivera sua resposta: era Hocklin quem exigira que ela fosse autuada, apesar de tudo. Hocklin, ela percebeu com amargura, já devia ter anunciado sua prisão aos repórteres que se amontoavam lá fora. 
Foi com eles, então, recusando-se a dar-lhes a satisfação de pronunciar nem sequer uma palavra de protesto. Sabia em que hotel o advogado estava hospedado e, se não o encontrasse, sabia que poderia ligar para Joseph, que entraria em contato com ele. De nada adiantaria tentar falar com Nicholas desde que provavelmente ele a deixaria mofando na cadeia até o final daquelas trinta e seis horas que disse que precisava.   


E agora? Como será que ficará o lado de Demi? 

Comentem e até o próximo capítulo lindonas, bjs <3

2 comentários:

  1. Tadinha da Demi... cadê o Joe para ajudar a Demi? É agora que ele descobre que ela é policial? Continua...

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    1. Ele não vai ajuda-lá, não quando ele descobrir que ela é policial!
      Já postei lindona, e é nesse capítulo que ele descobre...
      Bjs <3

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