12/05/2016

sussurros na noite: capítulo 22


A ligação que Dennis Flynn estava esperando chegou às dez e meia da manhã, quando ele encontrava-se escarrapachado na cadeira em frente ao seu terminal de computador, observando o banco de dados do Centro Regional de Informações sobre o Crime Organizado em Nashville responder sua última pergunta com mais um espaço em branco. Ele já havia digitado todos os outros nomes contidos em sua lista da família, amigos e empregados da residência dos Lovato. 
Na escrivaninha em frente à sua, Andy Cagle girou na cadeira e empurrou os óculos no nariz. Logo cedo, já interrogara as duas arrumadeiras que faltavam e acabara de escrever seu relatório.
— Nada de interessante vindo do centro de informações?
— Nada - Flynn respondeu. — Nadinha. zero. De acordo com o centro, o lar dos Lovatos é formado por uma bela turma de cidadãos cumpridores da lei. 
O telefone em sua mesa tocou e ele atendeu. Então, endireitou-se ansiosamente na cadeira, ao reconhecer a voz do seu interlocutor. 
— Dê-me uma boa notícia - disse ao tenente encarregado da equipe de investigação na casa dos Lovatos. — O que conseguiu? 
— Temos um roubo com arrombamento que não foi um roubo. 
— O que está querendo dizer? 
— Quero dizer que parece que nada está faltando, a não ser um dos anéis da vítima, e isso nós já sabíamos ontem à noite.
Flynn franziu a testa. 
— Tem certeza? 
— Examinamos um comodo depois do outro, juntamente com o mordomo, o assistente, a arrumadeira e Selena Lovato. Nenhum deles notou qualquer coisa fora do lugar ou que tivesse sido levada, exceto na saleta.
— Só isso? 
— Ainda estamos procurando, mas pelo jeito é só isso, mesmo.
— Isso não é nada bom - disse Flynn, vendo que o capitão Hocklin encaminhava-se para seu escritório. — A imprensa está se espalhando pelo local como um enxame de marimbondos, e numa quantidade que aumenta a cada minuto. A equipe da CNN acampou aqui na porta, um repórter do Enquirer tentou entrar pela janela do banheiro dos homens, e a turma da MSNBC está procurando um lugar para estacionar. Hocklin já recebeu ligações do prefeito e de três senadores, exigindo uma solução rápida. Ele não dormiu um minuto esta noite e está um tanto nervoso. Agora, seja um herói e me dê alguma coisa que o faça desgrudar do meu traseiro. 
— Tudo bem - o tenente Fineman suspirou. — Que tal esta: a janela da saleta foi quebrada do lado de dentro.
— Nós descobrimos isso ontem à noite.
— Sim, mas não tínhamos certeza. Além disso, descartamos as grades da frente como uma rota de fuga. Os canteiros de flores estão intactos, não há nenhuma pegada. O que recebemos do médico-legista? 
— Não muito, até agora. A morte ocorreu por volta das dez horas. Com base no ângulo de entrada do projétil, ela foi baleada de uma distância de uns dois metros. Estava sentada no sofá, e o agressor estava de pé. É só o que temos. Mantenha contato.
Flynn desligou o telefone e olhou para Cagle.
— Não está faltando nada na casa - informou, e sua máscara de afabilidade desabou. Passou a mão na nuca, massageando os músculos tensos. — E agora?
— Agora nós paramos de procurar um ladrão de temperamento agressivo e começamos a procurar alguém com um bom motivo para cometer o assassinato, e que esteve na casa ontem à noite. Chequei com os vizinhos dos dois lados da casa dos Lovatos, e todos eles possuem o mesmo sistema de raios infravermelhos que são acionados automaticamente às dez da noite, de forma que o assassino não passou pelas cercas de nenhum dos lados da propriedade. Também não entrou pelos fundos, do contrário Jonas ou Demi Lovato o teriam avistado. 
Flynn suspirou.
— E tampouco entrou pela cerca da frente, pois Fineman acabou de me dizer que não havia pegadas nos canteiros por ali.
— O que significa que nosso homem... ou nossa mulher, provavelmente estava bem ali ontem à noite, conversando conosco na sala. 
Flynn balançou-se distraidamente na cadeira, e depois inclinou-se para a frente, abrupto, e pegou um lápis. 
— Muito bem, vamos rever a lista de nomes, um por um, e verificar quem tinha os motivos e os meios. Todos ali tiveram a oportunidade. Espere... - disse. — Agora que sabemos que não estamos atrás de um criminoso profissional, vamos dar uma cópia desta lista para Hank Little e pedir que comece a checar com a Central de Dados. 
— Já tomei a liberdade de fazer isso - Cagle informou, com um sorriso modesto. 
O acesso ao banco de dados da Central Regional era limitado aos departamentos de polícia. Não custava nada e estava disponível a todos os departamentos de polícia de Palm Beach em seus próprios terminais de computadores. 
Mas, em contraste, quem quisesse acessar o gigantesco banco de dados do Data Base Technologies em Pompano Beach, ou Central de Dados, tinha de pagar um dólar por minuto. O acesso estava disponível a uma enorme variedade de usuários, desde companhias de seguros até empresas de crédito e financiamento. Os departamentos de polícia de todo o condado utilizavam este serviço, mas quando entravam on-line o acesso era fechado, a fim de evitar que outras pessoas soubessem quem estava sendo investigado, e por quem.
— Em poucos minutos Hank vai estar afundando numa avalanche de arquivos - Cagle brincou, referindo-se à enorme quantidade de informações que o DBT fornecia sobre até mesmo os cidadãos menos interessantes.
— Ok - Flynn retrucou. — Vamos tomar um café e começar logo com a lista. 
Sendo o mais novo dos dois, Cagle aceitava a tarefa de buscar o café como parte do seu trabalho. Voltou com duas canecas de café forte e sem açúcar e deixou-as na mesa de Flynn. Depois, virou a cadeira de forma que pudessem trabalhar juntos. 
— Se o assassinato foi intencional, acho que podemos descartar o mordomo, a cozinheira, a arrumadeira e o jardineiro - disse Flynn. 
— Por quê? Durante os interrogatórios, tive a impressão de que a velha era uma verdadeira peste. 
Flynn deu uma risadinha.
— Se fosse tão ruim assim, a cozinheira ou qualquer um dos outros empregados já teriam dado um jeito nela há muito tempo. Eles a aguentaram durante anos. - Passou um traço sobre os quatro nomes. — As arrumadeiras que você interrogou hoje cedo lhe deram algum motivo para acreditar que se arriscariam ir para a cadeia por causa dela?
Cagle balançou a cabeça em negativa. Depois tomou um gole do café escaldante, enquanto Flynn riscava mais dois nomes da lista.
 — E quanto a Dishler? - Flynn perguntou.
 — Acho que não. Ele trabalha para Lovato há anos, e é óbvio que é do tipo fiel. Você viu como correu para confirmar a história de Jonas? Parece ser uma possibilidade remota. 
— Concordo, mas vamos checar, assim mesmo - disse Flynn. 
— E Jonas?
— Que motivos ele teria? 
Flynn girou o lápis entre os dedos.
— Não gosto dele. 
— Então por que estamos perdendo tempo? Vamos pedir um mandado de prisão - Cagle falou, seco. Quando Flynn continuou olhando pensativo para o lápis, ficou curioso. — Por que não gosta dele? 
— Tive um confronto com ele no ano passado, quando tentei interrogar a sua irmãzinha sobre uns amigos dela que sabíamos que estavam obtendo drogas em algum lugar.
— E...? 
— E ele ficou furioso. É arrogante como o diabo, e seus advogados parecem um bando de dobermans. Sei disso porque ele os atiçou para cima de nós depois daquele episódio insignificante.
— Então vamos esquecer o mandado e metê-lo na cadeia imediatamente - Cagle afirmou, com fingida seriedade.
Flynn ignorou o sarcasmo.
— A irmã dele é uma pirralha irritante. Ficou me chamando de ”Sherlock” o tempo todo.
— Ora, vamos metê-la na cadeia junto com ele! - Recebendo um olhar fulminante de Flynn, Cagle ficou sério e perguntou: — Será que podemos passar para alguém mais provável? 
— Não restaram muitas opções. - Flynn olhou na lista. 
— Selena Lovato? 
Cagle assentiu, pensativo.
— Pode ser. 
— Por quê? - Flynn indagou. — Dê-me um motivo. 
— Quando perguntei a Patrick Lovato sobre o testamento da avó, respondeu que ele e Selena eram os únicos beneficiários.
Flynn deu uma risadinha abafada.
— Está sugerindo que qualquer um dos dois está precisando de dinheiro com urgência? 
— Talvez Selena estivesse cansada de esperar por sua parte. Talvez quisesse ficar independente do Papai. 
— Mas Marie Lovato estava com noventa e cinco anos. Não iria viver por muito mais tempo.
 — Eu sei, mas não tire Selena da lista, por enquanto.
— Ok, não vou tirar. E quanto ao corretor de seguros... Parker? 
— É, certo - Cagle falou, num tom irônico. — Ele aparece para uma visita com a namorada... que não é herdeira de nada, de acordo com Lovato, e que, portanto, não tem nada a ganhar com a morte de Marie Lovato. Como se isso não bastasse, ele comete o assassinato por controle remoto, pois, segundo Dishler, Parker só chegou na casa por volta das onze horas. 
— Tem razão - Flynn admitiu. — Acho que estou mais cansado do que pensava. Havia me esquecido deste álibi. - Riscou o nome de Nicholas Parker na lista. — E Patrick Lovato? Ele também disse que só chegou em casa por volta das onze, e Dishler confirmou. Mas Dishler poderia estar mentindo para proteger o patrão. 
Cagle assentiu. 
— Sim, Dishler poderia mentir, mas não creio que o senador Meade fizesse o mesmo. Ele foi uma das pessoas que ligaram hoje cedo, exigindo que alguém fosse imediatamente detido.
— E daí? 
— Daí que, de acordo com o capitão Hocklin, no meio de toda a gritaria o senador mencionou que estava jogando pôquer com o pobre Patrick na noite de ontem, na hora em que o assassinato estava sendo cometido
 — Ora, isso está em todos os noticiários. 
— É verdade - Flynn suspirou. — Mas, além disso, Patrick não tem um motivo. Ele tolerou a bisavó por quase sessenta anos, e não precisa de dinheiro. 
— Não é só isso. Não creio que ele estivesse fingindo a reação à morte dela. Comportou-se como se estivesse muito abalado, e estava branco com o choque. 
— Eu reparei. - Flynn riscou o nome de Patrick Lovato.
— Isso nos deixa apenas Demi Lovato. 
A expressão de Cagle iluminou-se.
Esta sim é uma situação interessante. Ela nunca teve nenhum contato com a família, antes disso, nunca esteve por perto e, de repente, um deles acaba morrendo.
— Eu sei, mas não creio que este seria o melhor meio de se integrar com sua nova e rica família. 
Cagle foi firmemente contrário a retirá-la da lista com base numa desculpa tão inconsistente. 
— Ela estava lá, e teve a oportunidade.
— E qual seria o motivo? 
— Vingança, por ter sido abandonada durante todos estes anos? 
— Não... Faria mais sentido se ela mantivesse a bisavó viva e tentasse conquistar suas boas graças. Demi não era herdeira, mas se a bisavó tivesse sobrevivido por mais algum tempo, ainda poderia conseguir persuadi-la a lhe entregar um pedacinho do seu lindo bolo financeiro. Do jeito que está, ela acabou sem nada. 
— Nada, a não ser a vingança.
— Qual é o seu problema com Demi Lovato? - Flynn indagou, mas a despeito do leve sarcasmo que temperava sua voz, não desprezou o palpite de Cagle. O garoto tinha uma percepção incrível, era observador como o diabo, e investigava a fundo cada indício em potencial, não importava quanto esforço isso exigisse. — Você começou a cismar com ela desde que saímos da casa, quando ainda pensávamos que o motivo do crime fosse roubo. Agora que já sabemos que foi assassinato, você continua suspeitando dela. 
— Entre outras coisas, a hora em que ela saiu da casa e a hora em que voltou são extremamente convenientes. Além disso, não pude deixar de notar a tranquilidade com que ela conseguiu nos dizer que, embora Marie Lovato não tivesse nenhuma deficiência física, tampouco era capaz de mover-se com rapidez. Tive a impressão de que ela sabia que estávamos nos inclinando na direção de concluir que o agressor conhecia a vítima, pois parece evidente que Marie Lovato não fez nenhuma tentativa de fugir.
Flynn pensou em tudo aquilo e assentiu de leve.
— Está bem, vou aceitar seu raciocínio, mas certamente ela não se encaixa no perfil de crime premeditado. Alguém precisa ter um desejo muito grande de vingança para reunir coragem suficiente para conseguir uma arma, planejar tudo, e depois apontar um revólver para uma velhinha indefesa e matá-la. Além disso, se ela queria vingança por ter sido abandonada durante todos estes anos, por que não atirou no Papai? 
Cagle tamborilou os dedos na mesa, parou para empurrar os óculos, e virou-se para Hank, que estava num cubículo envidraçado ao lado, de frente para o computador, analisando os dados do DBT. 
— Ei, Hank! - ele chamou. — Vai demorar muito? 
— Não. 
— Sabe o que estou pensando? - Cagle falou.
— Deve estar brincando. Eu nunca sei o que você pensa, ou por que pensa. 
Cagle ignorou a brincadeira.
— Existe apenas um detalhe importante que ainda não verificamos. Você tem aí o nome do advogado de Marie Lovato? Aquele que, segundo Patrick, elaborou o testamento dela? Flynn pegou seu bloco de anotações e examinou folha por folha. 
— Wilson - respondeu, afinal. 
— Então vamos ter uma conversinha particular com o Sr. Wilson - Cagle falou, levantando-se e espreguiçando-se. — O exercício nos fará bem vai nos ajudar a ter forças para examinarmos todos os registros do DBT.   


Esse capítulo ficou pequeno gente, mas o que acharam das investigação dos policias? Quem será que matou a Marie? Algum palpite? Comentem, bjs lindonas <3

4 comentários:

  1. Meu Deus mataram a Marie? eu estou completamente sem tempo para comentar as fanfics que eu estou lendo, eu vou ler os outros capítulos agora mesmo.
    Essa fanfic é maravilhosa, posta logo <3

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    1. Sim lindona, infelizmente ela morreu :(
      Amanhã postarei o capítulo, bjs <3

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  2. Ai que ódio desse infeliz que esta colocando a Demi como suspeita... o Joseph e a Selena vão acusá-la também? Não é possível.... quando descobrirem que eka é policial o bicho vai pegar pro lado dela... ai que medooo!!! Continuaaaa.... Melhor fic!!!

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    1. A demi é a número um na lista deles, ainda vai acontecer muita coisa. A selena e o Joseph não vou acusar ela, pelo ao contrário ~spoiler~
      Só posso dizer isso hahaha
      Amanhã posto o outro capítulo, bjs lindona <3

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