09/05/2016

sussurros na noite: capítulo 19 (Parte 2)



Joseph entendia o problema perfeitamente, porque nem ele mesmo se reconhecia quando ela estava por perto. Fitando seu rosto encantador, levou em conta a candura de suas palavras e admirou sua coragem de expressar o que sentia enquanto tentava decidir se queria mergulhar o rosto por entre seus cabelos perfumados e rir de seus temores, ou tomar-lhe os lábios e apagar todas as dúvidas com um beijo. A verdade era que Demi encarava a riqueza dele como um obstáculo, em vez de considerá-la um atributo atraente, e isso a tornava ainda mais especial para ele... e mil vezes mais desejável.
Em resposta ao receio de não conhecê-lo que ela demonstrara, Joseph segurou-lhe o queixo entre os dedos.
— Você me conhece, Demi - murmurou, inclinando a cabeça. Devagar, hipnoticamente, roçou os lábios sobre os dela, incitando-a a abri-los. — Lembra-se? - sussurrou enrouquecido, as mãos acariciando-lhe os ombros e as costas. Depois, abriu a boca abruptamente sobre a dela e aprofundou o beijo. 
A memória de Demi precisou de menos de quinze segundos para localizar a sensação, e todas as suas defesas começaram a desabar. Como se suas mãos tivessem adquirido vontade própria, deslizaram para dentro do paletó dele e acariciaram-lhe o peito firme, a curva dos ombros e o pescoço. Ele separou os lábios por um instante, com os olhos fundindo-se nos dela, a voz rouca de desejo. 
— Então, agora está lembrando-se de mim? 
Demi deu-se conta de que já era tarde demais para voltar atrás, porque nunca seria capaz de esquecê-lo. E seria inútil negar a si mesma o restante das lembranças que ele poderia lhe oferecer naquele quarto. Haveria bastante tempo para a solidão e o arrependimento, quando voltasse a Bell Harbor. Por enquanto, queria estar com ele hoje, amanhã e depois de amanhã, e talvez por mais um dia... por tanto tempo quanto durasse a atração dele. 
Joseph aguardava a resposta, e ela assentiu, a voz reduzida a um leve murmúrio de rendição.
— Sim, eu me lembro. 
Erguendo-se na ponta dos pés, colou os lábios nos dele. Beijou-o com todo o amor e desespero de seu coração, e a resposta foi devastadora. Os lábios dele tornaram-se insistentes e famintos, os braços enlaçaram-na com mais força, prendendo-a contra seu corpo rígido, e as mãos deslizavam possessivamente pelas costas e pelos seios de Demi. Joseph fechou a porta com o pé, e Demi sentiu um arrepio de excitação nervosa, mas em vez de intensificar a apaixonada troca de carícias, ele tornou-as mais lentas. Beijou-a até que ela se enredasse em fios de desejo, beijos longos, langorosos, seguidos por outros mais duros e exigentes, enquanto as mãos exploravam e acariciavam-lhe o corpo, acompanhando a intensidade de cada beijo.
Demi sentiu os dedos dele no zíper do vestido um instante antes que ele separasse os lábios dos seus. Joseph afastou-se abruptamente para tirar o paletó do smoking, e o vestido sem alças escorregou para o chão, aos pés de Demi. Num gesto automático, ela abaixou-se para pegá-lo. 
— Não... - ele pediu, os olhos demorando-se nos seios rosados, enquanto as mãos abriam rapidamente os botões da camisa. 
Era óbvio que ele não tinha a menor inibição em despir-se na frente dela, mas Demi sentia-se inibida o bastante para os dois. 
Quando ela se virou para tirar o restante das roupas, Joseph reparou, simultaneamente, que ela estava envergonhada e que seu corpo nu era um milagre de curvas, pernas firmes e pele reluzente. Tirou as abotoaduras da camisa enquanto a observava erguer os braços e puxar os grampos que lhe prendiam os cabelos. Com os braços levantados e a cabeça levemente inclinada, ela o fez lembrar de uma pintura exposta no Louvre. Quando o último grampo se soltou, Demi balançou a cabeça com firmeza, e os cabelos caíram em seus ombros.
Ela era maravilhosa, Joseph pensou, sentindo um fluxo renovado de desejo.
E era tímida, lembrou a si mesmo. 
Aproximou-se por trás dela e passou os braços em torno de seu corpo, puxando-a contra si. 
— Você me deixa sem fôlego - sussurrou em sua nuca.
Ela estremeceu, em resposta. Joseph virou-a de frente e levou-a para a cama. Depois, estendeu-se ao seu lado e apoiou-se no braço esquerdo, com a mão descansando sobre seu colo. 
Demi aguardava com uma ansiedade crescente enquanto ele admirava cada curva e concavidade de seu corpo. Quando seus olhos tornaram a se encontrar, não havia dúvida quanto ao brilho exigente que os dele exibiam. A mão dele deslizou até seu rosto e Demi preparou-se instintivamente para um beijo avassalador. Mas, em vez disso, ele beijou-a levemente, relaxando-a enquanto acariciava-lhe lentamente o pescoço. Um beijo tranquilizante.
Tranquilizada, Demi virou-se para ele e retribuiu o beijo e, assim que ela o fez, Joseph deslizou a mão até seu seio, espalmando-o e formando vagarosos círculos em torno do mamilo. Era um toque provocante, enlouquecedor.
Enlouquecida, Demi espalmou a mão sobre a parede sólida do dorso dele, deslizando os dedos através das costas macias. A pele dele parecia uma seda quente sobre o aço, o mamilo rijo e pequeno enquanto ela acariciava-o com a palma da mão. O braço era um feixe de músculos, o pescoço uma coluna de pedra. Sob seus dedos exploradores, a mandíbula parecia talhada em granito, as faces esculpidas em mármore. Ele era magnífico, Demi pensou dolorosamente. E era seu. Agora, pelo menos. Passou a mão pelos cabelos macios das têmporas... 
Para Demi, estas carícias significavam uma pungente descoberta; para Joseph, eram tão delicadas e inesperadas que deixavam-no profundamente emocionado. Levou os lábios aos dela, observando-a com terna incredulidade enquanto ela enviava ondas de desejo por todo seu corpo.
Sem saber do efeito que provocava nele, Demi passou a ponta dos dedos sobre seus lábios. Estes pareciam ter sido esculpidos em algum material maravilhoso, firme, quente e maleável. As sobrancelhas eram espessas e delineadas, e os lindos olhos estavam... abertos. Tomada de surpresa, olhou para ele. Seu rosto estava tenso e sombrio pelo desejo e um músculo movia-se espasmodicamente em sua garganta. Demi compreendia o que via, mas não se importava em saber como causara tal reação. Cobrindo a curva do pescoço dele com a mão, fechou os olhos e arqueou-se contra ele, sentindo-o ofegar contra sua boca quando o beijou. 
Os lábios dele abriram-se sob os seus, exigentes, urgentes, e a língua esfregava intimamente a dela enquanto suas mãos deslizavam para baixo de seu corpo. Os dedos dele passaram entre as pernas dela e ali penetraram delicadamente. Demi contorceu-se sob a invasão sensual daqueles dedos acariciando-a profundamente, e sob o ataque íntimo da língua contra a sua.
Joseph separou os lábios dos dela e deslizou-os desde o pescoço até seus seios, e no momento em que retornou aos lábios, Demi agarrava-se em seus ombros, os dedos afundando-se em suas costas. 
As mãos dele espalmaram-se no traseiro dela e puxaram-na contra si, encaixando-a sob toda sua extensão; depois, penetrou-a com força suficiente para fazer com que seu corpo arqueasse. A cada investida lenta e exigente, ele a levava cada vez mais perto do fim, mas de repente, sem qualquer aviso, enlaçou-a pela cintura e virou de costas, levando-a consigo. Demi fitou-o incrédula, sentada por cima dele, e Joseph riu baixinho diante da expressão surpresa em seu rosto afogueado. Se fosse qualquer outra, ele teria acabado sem fazer isso, mas desejava fazê-la provar ao máximo de tudo o que seu corpo lhe permitisse, antes que perdesse o controle. Pelo menos foi o que disse a si mesmo, mas em alguma parte de seu cérebro embotado pela paixão, Joseph sabia que seus motivos tinham algo a ver com os dois amantes anteriores de Demi. Ambos haviam sido desajeitados e ineptos. Ele não era nenhuma dessas coisas. E queria que Demi tivesse absoluta certeza disso, quando saísse daquele quarto. 
Erguendo o corpo, mergulhou as mãos por entre os cabelos dela. 
— Você é deslumbrante - sussurrou. 
Suas mãos deslizaram até os seios dela e, relutantes, soltaram-nos e espalmaram-se em torno dos seus quadris, ajudando-a a começar. 
Demi não havia mentido sobre sua pouca experiência, Joseph convenceu-se poucos minutos depois, enquanto reprimia um gemido de riso. Ela não tinha ideia de como cadenciar o próprio ritmo com o dele; diminuía-o quando ele desejava que fosse mais rápido, modificava-o quando ele queria que fosse mantido. Joseph não podia prever o momento seguinte, nem contar com o movimento seguinte, e exatamente por isso agora ela o mantinha num estado de excitado suspense, que era muito mais enlouquecedor do que se ela soubesse o que estava fazendo. 
No momento exato em que ele pensava nisso, Demi começou a observar seu rosto e ajustar a pressão de seus quadris, e todo o divertimento de Joseph dissipou-se. A paixão que ele julgara ter sob controle emergia de dentro de si com força suficiente para fazê-lo agarrar-lhe os quadris a fim de detê-la. Puxando-a contra o peito, lutou para conter a explosão iminente, mas ao perceber que não conseguiria, a fez girar de costas. Acomodou-se por cima dela, os quadris empurrando-a contra a cama enquanto passava a penetrá-la profundamente. Deslizou a boca rudemente pelo rosto dela, desejando imprimir-se em sua mente enquanto tomava o seu corpo.
— Abra os olhos - pediu, a voz reduzida a um sussurro rascante. 
Os cílios espessos se separaram e, em silêncio, os olhos dela imploravam pelo alívio. Em silêncio, ele o prometeu. Com os ombros e braços rígidos pela tensão contida, ele passou a intensificar a força de cada investida. 
Demi sentiu a pulsação crescendo dentro de si. Vacilou por um instante até finalmente explodir num jorro de prazer indescritível, capaz de arrancar um gemido de sua garganta. Joseph mergulhou para dentro dela mais uma vez, seu corpo estremecendo com o mesmo prazer que acabara de lhe proporcionar. Jogou a cabeça para trás, respirando com dificuldade. Passando o braço em torno dos quadris dela, virou para o lado, levando-a consigo.
Demi permaneceu imóvel, assoberbada demais com tudo o que estava sentindo para ser capaz de pensar, gloriosamente mergulhada no simples encantamento de estar entre os braços dele. Conforme a lucidez foi retornando, no entanto, ficou óbvio para ela que o homem com quem tinha acabado de fazer amor era dono de uma técnica perfeita, sem dúvida obtida através de muita prática com muitas outras mulheres. Por outro lado, não acreditava que ele a tivesse achado tão inexperiente a ponto de deixá-lo entediado e sem vontade de repetir a experiência. Se assim fosse, certamente ele não estaria abraçando-a com tanto carinho, com a mão afagando preguiçosamente a curva de sua cintura. Porem, como precaução, decidiu dizer-lhe uma coisa.
— Joseph?
 — Humm? 
— Eu aprendo rápido. Ele inclinou a cabeça para ver o seu lindo rosto, e esboçou um sorriso terno.
 — Reparei nisso - murmurou. 
— O que quero dizer é que... vou melhorar com a prática. 
 Ele riu alto, tomando-a entre os braços e mergulhando o rosto em seu pescoço. 
— Que Deus me ajude! 
O riso dissipou-se, mas o bom humor prolongou-se enquanto ele a mantinha junto a si. Normalmente um orgasmo o deixava sentindo-se relaxado e, depois, energizado; nunca o deixara sentindo-se assim, absurdamente feliz. Não conseguia entender porque aquela mulher em seus braços lhe causava este efeito tão profundo, fosse na cama ou fora dela. Ela o deixava quase louco com um simples olhar, o alegrava com um sorriso, derretia-o com um toque. Ela não tinha ganância, nem vaidade ou malícia. 
E também não tinha jantado, lembrou-se. Joseph virou o pulso e olhou no relógio. Como planejara tudo para que ela viesse a bordo a tempo de assistir ao pôr-do-sol, a noite ainda era maravilhosamente criança. 
Afastou-lhe os cabelos espessos das faces macias e ela olhou para ele
— As atrações desta noite incluem o jantar e um passeio - ele brincou. 
Demi enviou-lhe um sorriso radiante, os longos dedos ainda espalmados em seu peito. 
— O que acabamos de fazer também estava incluído no preço, ou deve ser considerado um ”extra”?
— Não me olhe assim, senão vai ganhar algo mais além do jantar e do passeio. 
— É mesmo? O quê? 
— A sobremesa. 
A fim de evitar futuras tentações, Joseph pegou o telefone e deu ordens para que o jantar fosse servido em meia hora. Depois saiu da cama, relutante.
Jantaram sob a luz de velas, vestidos formalmente e com um fundo musical suave, mas a atmosfera entre eles estava bem diferente. Sem a distração do desejo sexual reprimido, estavam livres para conversar como novos amigos que começam a se conhecer.
Ao término do jantar, Demi sentia-se tão à vontade que nem precisou pensar para responder a pergunta dele sobre Patrick e sua mãe.
 — Minha mãe ganhou um concurso de beleza quando tinha dezoito anos, e o prêmio foi uma viagem a Fort Lauderdale, com uma semana de estada no melhor hotel da cidade - Demi explicou. — Um fotógrafo estava tirando fotos dela na praia, para um jornal local e ali perto, nos jardins do hotel, havia uma festa em pleno andamento. Era um coquetel de ensaio para um casamento, do qual meu pai participava, e mamãe foi até lá para ver o que estava acontecendo. Ele estava usando um summer branco, minha mãe ficou deslumbrada... e isso foi tudo o que aconteceu. 
— Não pode ser tudo o que aconteceu - Joseph retrucou, em tom de brincadeira.
— Bem, foi quase tudo. Mamãe tinha sido criada pela avó, e era tão ingênua quanto linda. Passou os três dias restantes da viagem com ele, na suíte do hotel. Ela deu a ele sua virgindade, e ele lhe deu Selena. Ela voltou para casa totalmente convencida de que estavam apaixonados e que iriam se casar, assim que ele conseguisse fazer com que a sua rica e influente família aceitasse a ideia. Naturalmente, mamãe ficou um tanto surpresa quando nunca mais teve notícias do ”noivo”. E ficou muito mais surpresa quando o médico lhe disse que não estava com gripe, mas sim grávida.
Joseph pegou a taça de vinho, observando as emoções perpassarem o rosto adorável. Demi fazia um grande esforço para parecer indiferente, mas sua voz suavizava-se quando mencionava a mãe, e endurecia quase imperceptivelmente quando falava de Patrick. 
— E o que aconteceu, então? 
— O de sempre - ela respondeu com um sorrisinho vivaz.
—  Minha mãe foi à biblioteca e localizou o pai de seu bebê procurando o nome da família dele no Quem é Quem. - Quando Joseph não sorriu diante de sua tentativa de fazer humor, ela ficou séria e juntou: — Ela ainda estava tão certa de que ele a amava, e de que era a família dele que devia estar atrapalhando seus planos, que pegou o restante do dinheiro do prêmio e comprou uma passagem de avião. Bateu na porta da família de Patrick à noite, com as malas que também haviam sido parte do prêmio, mas eles lhe disseram que Patrick não estava em casa. Ela explicou que era a noiva dele e perguntou se poderia esperá-lo. Você pode imaginar o resto.
 — Provavelmente - ele disse -, mas gostaria de ouvir de você.
 — Você é muito persistente - Demi brincou. 
Em vez de ser dissuadido, Joseph arqueou a sobrancelha com um ar de interrogação, e esperou que ela continuasse. Incapaz de ignorar o comando silencioso, ela suspirou e disse:
— Em poucos minutos eles arrancaram toda a história dela, e ficaram furiosos. - Fez uma pausa, tentando pensar numa maneira de relatar o restante da história. Afinal, Patrick era amigo dele e pai de Selena, e ela não queria macular a sua imagem desnecessariamente. — Bem, é claro que os pais dele concluíram que o filho havia feito algo muito errado, e quando Patrick voltou para casa, aceitou toda a responsabilidade e saiu com mamãe... 
Joseph zombou de sua tentativa de ”dourar a pílula”.
— Isso não vai ”colar”, Demi. Eu conheci o pai e a mãe de Patrick quando já estavam mais velhos, e não creio que tivessem mudado muito. O que realmente aconteceu? 
Um tanto tensa diante da maneira direta com que ele falou, Demi ajeitou o guardanapo no colo e finalmente enfrentou seu olhar. 
— Na verdade - disse, com um suspiro -, Patrick estava bêbado quando voltou para casa naquela noite, e seus pais já estavam furiosos com ele devido a uma imensa lista de transgressões. Eles o expulsaram de casa, e minha mãe com ele. Deve ter ficado sóbrio na mesma hora. De San Francisco, foram para Las Vegas e casaram-se antes de voltar para a Flórida. Ele possuía algum dinheiro, que usou para comprar um veleiro e, pelos dois anos seguintes, ganhou a vida alugando o barco para turistas. Selena nasceu, e depois eu nasci.
— E depois? 
— Depois, a mãe de Patrick chegou num certo dia numa limusine, para informá-lo de que o pai sofrera um derrame. Disse-lhe que ele seria bem-vindo ao seio da família e que poderia levar consigo uma das filhas. Foram embora naquele mesmo dia, com Selena.
— Courtney tem a impressão de que você e sua mãe não receberam tudo o que teriam direito neste acordo. 
— Mamãe recebeu uma quantia modesta - Demi respondeu vagamente.
— De quanto?
— Modesta - ela repetiu, teimosa. Depois, sorriu e balançou a cabeça. — Mas não faria a menor diferença, se tivesse sido maior. Mamãe é tão ingênua e bondosa que teria dado tudo ao primeiro que viesse lhe pedir um empréstimo, ou teria perdido tudo para algum falso ”conselheiro financeiro”. 
— E foi isso que aconteceu com a quantia que ela recebeu? 
— Mais ou menos - Demi confirmou. 
— Você nunca se refere a Patrick como ”pai”, não é? - ele perguntou. 
Demi deu uma risadinha e girou os olhos para o alto.
— Ele não é o meu pai. 
Joseph deixou a taça na mesa, vagarosamente.
— Não? 
— Não num sentido importante. 
— E o que, exatamente, você classifica como ”importante”? 
— Ele é meu pai biológico, e ponto final. Um ”pai” significa muito mais do que isso. Um pai é alguém que enxuga suas lágrimas quando você chora, que olha embaixo da cama porque você tem medo que haja algum monstro. Ele faz com que o valentão da escola pare de atormentá-lo. Comparece às reuniões de Pais e Mestres e aos seus jogos de futebol, mesmo quando você ainda é pequeno demais para jogar e tem de ficar no banco de reservas. Ele se preocupa quando você está doente, preocupa-se com seus namoros de adolescente... 
Joseph sorriu para a imagem que ela lhe fornecia sem querer. A imagem de uma garotinha num uniforme de futebol, sentada no banco de reservas, perpassou-lhe a mente. Os enormes olhos cor de azul estariam tristes porque não a deixavam jogar. 
— Você jogava futebol? - perguntou, tentando lembrar-se de uma única mulher conhecida que havia jogado futebol na infância, em vez de tênis ou hóquei.
— Eu estaria exagerando, se dissesse que sim - ela respondeu, com o riso soando aos ouvidos dele como se fossem suaves sininhos. — Era tão pequena para minha idade que, se jogasse no time da minha turma, as outras jogadoras poderiam me confundir com a grama e passar correndo por cima de mim. Já estava na adolescência quando finalmente comecei a ”espichar”. 
— Mas não ”espichou” tanto assim - Joseph falou, com ternura.
— Ah, sim, é o que você pensa - ela assegurou-lhe, rindo. Pensando bem, Joseph decidiu, o processo de crescimento dela devia ter sido impressionante, pois Demi tinha um corpo lindo, perfeitamente proporcional à sua altura. E perfeitamente proporcional, em todos os sentidos, ao seu próprio corpo. O simples pensamento deixou-o excitado, e com um misto de exasperação e divertimento, disse: 
— Eu lhe prometi um passeio pelo iate.
Levantou-se, fez a volta na mesa e puxou-lhe a cadeira.
Demi estava fascinada com o iate, estivera muitas vezes em diversos tipos de embarcações, mas o Apparition era mais um navio de cruzeiro do que um barco. Explorou a sala das máquinas e a cozinha imaculada, e ao perceber que ela estava realmente interessada, Joseph pegou as chaves e mostrou-lhe os lugares que normalmente teria omitido, parando para abrir portas nos corredores que ocultavam de tudo, desde produtos de limpeza até equipamentos náuticos de emergência.
 —Adoro barcos - ela confessou, com um brilho no olhar. 
— Todos os barcos? - ele brincou. Ela assentiu, solene.
 — Todos... botes, barcos de pesca, veleiros lentos e lanchas velozes. Adoro o mar e tudo o que é associado a ele.
Estavam bem no meio do iate, um nível abaixo do deck principal, e ela parou automaticamente na porta seguinte.
 — Podemos pular esta aí - ele disse com firmeza, pousando a mão em sua cintura incitando-a a seguir em frente. 
Ela ficou curiosa no mesmo instante.
— Por quê? O que você está escondendo aqui? 
— Não há nada aí dentro que possa interessá-la. 
 Ela deu uma gargalhada. 
— Não faça isso comigo, Joseph, não é justo. Agora estou curiosa. Não consigo aguentar mistérios insolúveis. Sou detetive por... - Interrompeu-se, horrorizada. — Sou uma detetive amadora - apressou-se em corrigir e, a fim de distraí-lo, perguntou, indignada: — São os aposentos das mulheres, não é? Você... você traz mulheres a bordo para evitar que a tripulação se revolte durante as longas viagens.
 — Muito pouco provável - ele disse, mas não fez menção de destrancar a porta, o que redobrou o fascínio de Demi.
— Tesouros de piratas? - ela arriscou, tentando obrigá-lo a responder. — Produtos roubados? Drogas...? - O sorriso dela desapareceu. 
Joseph reparou nisso e, com um suspiro resignado, destrancou a porta e acendeu a luz.
Demi olhou para dentro, chocada. O pequeno compartimento continha um arsenal de armas de fogo, incluindo metralhadoras.
— Courtney viu isso certa vez, e recusou-se a ir para o mar comigo novamente. 
Demi balançou a cabeça de leve, tentando recobrar-se do susto.
— Ora, não dramatize tanto - ele falou, com mais firmeza do que Demi achava necessária. Rapidamente, ela registrou as armas de combate e outras que eram ilegais nos Estados Unidos.
— Sim, mas... isso... Por que você precisa de tudo isso?  
Ele tentou descartar o fato como se fosse algo corriqueiro.
— Os proprietários de grandes barcos como este normalmente têm alguma arma a bordo. 
A apreensão de Demi era tão intensa que ela estremeceu, e Joseph tirou uma conclusão errônea.
— Não precisa ter medo. As armas estão descarregadas. Ela deu um passo adiante. Sabia que ele estava mentindo, mas tentou soar como uma amadora quando salientou: 
— Se isso é verdade, então por que aquele cinturão com balas está pendurado na metralhadora? 
Joseph abafou um risinho e puxou-a para fora do compartimento, apagando as luzes em seguida.
— Isso não devia estar aí. É uma velha metralhadora que foi confiscada de uma visita surpresa, no último cruzeiro que fizemos. 
Na mente de Demi, ecoava o mesmo refrão que ela já ouvira antes: ela não o conhecia. Não, mesmo. Fora para a cama com ele, fizera coisas íntimas com ele, mas não o conhecia. 
   
Parado ao lado dela no parapeito do convés central, Joseph pressentiu seu retraimento e presumiu que o depósito secreto de armas fosse a causa disso, mas atribuiu tal reação ao mesmo vago pânico que Courtney sentira. 
— Aprender a usar uma arma é a melhor maneira de superar o medo delas. 
Demi engoliu em seco e assentiu.
— Posso ensiná-la a atirar com alguma delas. 
— Isso seria bom - ela respondeu distraída, tentando recobrar o controle das próprias emoções. 
Estava permitindo que sua imaginação disparasse, disse a si mesma com firmeza, um erro que provavelmente era causado por algum tipo de reação emocional retardada. Havia se apaixonado por Joseph desde o primeiro instante em que o vira na sala da casa de Patrick. Havia acabado de unir seu corpo ao dele, e gemido de paixão em seus braços. Em vista de tudo isso, achou que seria mais sensato lhe pedir uma explicação do que ter de inventar uma. 
— Seria ainda melhor se eu pudesse entender por que você tem estas armas. Isto é, nós não estamos em guerra, não é? 
— Não, mas eu faço negócios em países onde os governos nem sempre são estáveis. Os empresários destes países frequentemente andam armados.
Ela virou-se de frente para ele, os olhos perscrutando seu rosto. 
— Você negocia com pessoas que querem atirar em você? 
— Não, negocio com pessoas cujos competidores querem atirar nelas. Ou em mim, se eu estiver no caminho. Por essa razão, alguns anos atrás percebi que não é apenas sensato, mas também saudável, fazer negócios no meu próprio território. Este iate é o meu território. No mês que vem, terei uma reunião fora da costa de uma grande cidade da América Central. Será realizada a bordo do Apparition e meus convidados serão trazidos para cá de helicóptero. 
— Talvez você devesse mudar para um ramo de negócios mais seguro - ela divagou em voz alta.
Ele riu. 
— Não se trata apenas de segurança, mas também para causar um efeito. - Ela parecia atônita, e Joseph explicou: — Num porto estrangeiro, lidando com pessoas que se impressionam com o sucesso, o Apparition me proporciona uma imensa vantagem.
Demi relaxou. O que ele dizia fazia muito sentido.
— Que tipo de negócios você tem com estas pessoas? 
— Importação e exportação. Basicamente, meu ramo de negócios é fazer acordos. 
— Na Venezuela? 
— Este é um dos lugares.
 — O sr. Graziell também anda armado? 
 Ele não gostou da pergunta, Demi reparou.
— Não - respondeu, impassível. — Ele não anda armado. E se andasse, alguém pegaria a arma e atiraria nele com ela. 
Joseph sabia que ela estava desconfiada e, em vez de dizer alguma coisa que diminuísse esta desconfiança, esperou que ela tomasse a própria decisão. Demi pressentiu que estava sendo posta à prova, de alguma forma... pelo seu potencial de lealdade? Ou como amante dele? Preferia que fosse pelo último motivo, mas mesmo se não fosse por isso, seus instintos lhe diziam que Joseph havia falado a verdade. Em seu trabalho, estes instintos eram quase sempre infalíveis, e agora ela confiou neles.
— Sinto muito. Eu não devia ter-me intrometido nos seus assuntos - disse, virando-se para o parapeito e olhando para o mar. 
— Você tem mais alguma pergunta?  
Ela assentiu, devagar e muito séria. 
— Sim, mais uma. 
— O que é?
— Por que você ainda não me levou para conhecer o salão?
Joseph estava completamente fascinado pela inteligência dela, pelo seu bom humor e, naquele momento, pela aparência dela sob o luar, com aquele vestido branco e os cabelos esvoaçando com a brisa. Aproximando-se por trás dela, envolveu-lhe a cintura entre os braços, puxando-a contra seu corpo, e sua voz estava rouca pelo desejo despertado. 
— Há uma porta de ligação para o meu quarto, dentro do salão, e se você for para um comodo terá de ir para o outro também. Não se permitem desvios neste tour - brincou. 
Esperou que ela reagisse, e sentiu um renovado fluxo de desejo quando Demi assentiu, levemente. 
— Há mais um problema - ele sussurrou. — Eu cometi um engano, há pouco. O preço do pacote não inclui esta parte do tour, e infelizmente há uma taxa extra... que eu tenho de receber adiantado. 
Os lábios dele tocaram o canto de sua boca, esperando receber o seu pagamento. Com um estremecimento de rendição, Demi virou a cabeça a fim de beijá-lo plenamente. 

Gente eu amei esse capítulo, finalmente teve a noite de amor deles. O que acharam? Comentem, bjs lindonas <3

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