02/05/2016

sussurros na noite: capítulo 15 (Parte 1)


Palm Beach, casa do Joseph
Flórida, 7:30 A.M


Courtney espiou pela porta da cozinha, onde uma robusta mulher de cerca de sessenta anos despejava nozes pecãs moídas na massa de panquecas.
— Bom dia, Claudine. Onde está todo mundo? 
— Seu irmão decidiu tomar o café no terraço - a mulher respondeu sem erguer os olhos. —
Seu pai também está lá fora.
— Eu vou querer um waffle. Ainda bem que você não fica doente com frequência. Ontem tivemos de nos virar para preparar o desjejum. Queimei a minha torrada. 
— É um milagre que tenham sobrevivido - Claudine retrucou, sem a menor compaixão.
— Quando eu tiver a minha casa, vou contratar um chef francês para cozinhar! 
— Ótimo, ficará do tamanho de um balão com toda aquela comida gordurosa, e vai ser bem feito para você. 
Satisfeita com a sessão matinal de ”bate-boca” com Claudine, Courtney deu um sorriso e, antes de sair, avisou:
— Acho que vou querer torradas à francesa, em vez de panquecas! 
Lá fora, parou junto ao carrinho de chá onde Claudine deixara uma jarra de suco de laranja e serviu-se de um copo. Desceu preguiçosamente as escadas da varanda e foi até a mesa onde Joseph se encontrava, sob um guarda-sol amarelo e lendo um dos vários jornais empilhados ao seu lado. 
— Como foram as coisas com Demi Lovato, ontem à noite? - perguntou.
— Não foram.
— Está brincando! - Courtney exclamou, sem esconder a alegria e sentando-se perto dele. —Você levou um ”fora”? 
Joseph virou a página da seção de finanças, antes de responder:
 — Levei, sim. E daqueles.
— Então ela deve ser cega! 
Joseph confundiu tal comentário com uma expressão de lealdade, e enviou-lhe um breve sorriso.
— Obrigado. 
Mas Courtney apressou-se em corrigir seu engano. 
— Eu quis dizer que ou ela é cega ou analfabeta, pois parece óbvio que não leu os seus relatórios financeiros. Do contrário, estaria sentadinha no seu colo neste exato momento. - Quando suas palavras falharam em provocar uma reação no irmão, ela virou a cabeça e olhou por cima do ombro, na direção da praia. — Onde está papai? 
— A última vez que o vi estava cavando num canteiro lá no gramado. 
Courtney reclinou-se para trás e espiou por entre as árvores, procurando pelo pai.
— Bem, não é isso que ele está fazendo agora. Está de pé, olhando em volta como se esperasse alguém chegar. Aposto que está esperando Demi! Era mais ou menos esta hora quando ela passou por aqui, ontem. 
Aquilo captou a atenção de Joseph, a jovem reparou. Ele virou a cadeira e apertou os olhos contra o sol.
— Só porque ela lhe deu um fora, não significa que fará o mesmo com papai. Talvez prefira homens mais velhos. Puxa, eu adoraria dar uma olhada nessa garota. Acho que vou descer e ficar ali com ele. 
— Não vai, não. Por favor, Courtney, não nos faça passar vergonha. 
— Eu adoro nos fazer passar vergonha.
Joseph tinha a impressão de que a irmã acertara em cheio o motivo porque o pai estava demorando-se tanto nos canteiros perto da praia, e suspirou, contrariado.
— Roger Kilman ligou para ele há pouco. Corra até lá e diga-lhe que o estão chamando no telefone. É um absurdo ele ficar parado ali, daquele jeito. 
— Está com ciúme? 
— Já basta, Courtney! - Joseph avisou irritado, mas logo arrependeu-se do seu tom. — Será que poderia limitar-se a fazer o que eu peço sem discutir, apenas uma vez? 
— Pode ser - ela respondeu com um súbito sorriso, vendo o pai acenar para alguém e adiantar-se para a praia. 
Momentos depois, uma morena usando short e um ”top” apareceu correndo pela praia e parou para falar com ele. — Vou trazê-lo de volta para cá, não importa como - prometeu entusiasmada, já empurrando a cadeira para trás. 
Demi apresentara vários motivos porque não podia aceitar o convite de Paul para acompanhá-lo no café da manhã no terraço, mas ele descartou seus protestos com uma insistência encantadora, salientando que todos na família Lovato costumavam dormir até tarde. Depois, pousou a mão sob o braço dela e guiou-a para frente.
Um gramado ondulante e bem cuidado estendia-se por uma área de quase 600 metros, que separava a praia e a casa, terminando num amplo terraço revestido de lajotas e dividido em três níveis. Mesas cobertas com guarda-sóis, espreguiçadeiras e cadeiras de ferro fundido com alegres almofadas amarelas estavam convidativamente dispostas em cada nível, e só quando começavam a se aproximar do terraço Demi percebeu que uma das mesas já estava ocupada por um homem e uma menina.
Demi não precisou ver-lhe os traços para saber que se tratava de Joseph Jonas. 
     
Encontrara-se com ele apenas três vezes, aquele perfil bem delineado, os espessos cabelos pretos e o porte atlético estavam gravados em sua mente, e seu sistema nervoso reagiu ao estímulo da presença dele com uma surpreendente descarga de adrenalina. 
Demi tentava pensar numa desculpa de última hora que justificasse uma rápida retirada, quando a garota saiu da mesa e desceu correndo a escadaria do terraço, indo na direção deles. 
— Você está prestes a conhecer a minha filha Courtney - Paul avisou num tom animado, e pressionou-lhe o braço levemente, como se pressentisse seu desejo de ir embora e, erroneamente, o atribuísse à chegada iminente da filha — Esta é uma experiência que a maioria das pessoas acha difícil de esquecer. A mãe de Courtney foi minha quarta esposa. Uma mulher adorável, mas que só percebeu que não queria ter filhos depois que a menina nasceu. Courtney viu-a somente umas poucas vezes, por isso não cresceu sob a influência benéfica de uma mãe. Nós costumamos levar isso em conta.
Alta e magra, a adolescente tinha cabelos loiros e lisos, que usava presos num grosso rabo-de-cavalo. Caminhava com um ar de alegre exuberância, que destoava da imagem de garota mimada, presunçosa e chorona contra a qual, Demi presumiu, Paul a alertara. As primeiras palavras da menina também contradiziam tal imagem.
— Você é Demi, não é? - Demi começou a assentir e Courtney estendeu-lhe a mão. 
— Estava louca para conhecê-la. Eu sou Courtney. 
Demi não foi apenas apanhada de surpresa, mas também sentiu uma simpatia instantânea pelo entusiasmo da menina, pelo seu sorriso franco e pelos olhos azul-acinzentados, que já lhe eram familiares.
— Fico feliz em conhecê-la - disse, apertando-lhe a mão
— Geralmente é assim que as pessoas se sentem no começo, mas logo mudam de ideia. 
Demi tinha contato constante com adolescentes, em Bell Harbor, e percebeu que se fraquejasse diante daquela artilharia inicial estaria demonstrando uma falta de tato, em vez de boa educação. 
— E por que isso acontece? - indagou.
— Porque eu sempre falo tudo o que penso. 
—  Não, minha querida - Paul intercedeu, contradizendo-a. — Isso acontece porque você simplesmente não pensa antes de falar. 
Courtney ignorou o pai e apressou-se na direção das escadas, forçando-os a acelerar o passo para acompanhá-la. 
— Joseph vai ficar tão contente em vê-la - previu, quando aproximaram-se por trás da mesa onde ele estava. Joseph, veja só quem eu encontrei..
Mas Joseph não ficou contente em vê-la, Demi reparou. Ele olhou-a por cima do ombro, e ela viu um lampejo de contrariedade perpassar-lhe o rosto, antes que deixasse os jornais sobre a mesa e se levantasse para cumprimentá-la, educadamente.
— Bom dia, Demi. - disse, num tom descontraído, mas sem calor.
— Eu apanhei-a numa emboscada lá na praia - Paul confessou, puxando uma cadeira para Demi no lado oposto ao de Joseph, e sentando-se à sua direita. 
Courtney acomodou-se na cadeira à esquerda de Demi, e logo uma mulher apareceu trazendo uma bandeja com um bule e xícaras de café.
— São quatro pessoas para o café, Claudine - Paul informou-a. — Demi, o que gostaria de comer?
— O mesmo que vocês - ela respondeu, tentando não pensar na frieza com que Joseph a recebera, e em como aquela refeição acabaria sendo pomposa e desconfortável por causa disso. 
No entanto, nem precisava ter-se preocupado. Enquanto Claudine servia o café, Courtney desandou a tagarelar, literalmente atirando lenha na fogueira. Apoiando o queixo entre as mãos, a menina olhou de Paul para Joseph e, depois, para Demi.
— Como se sente sendo a única mulher em Palm Beach disputada pelos dois Jonas? E qual dos dois está vencendo, até agora? 
Demi julgou ter entendido errado e pestanejou, confusa.
— Como? 
— Courtney, por favor... - Paul começou a intervir, mas mudou de ideia quando a garota explicou:
— Joseph disse que levou um ”fora” de Demi, ontem à noite.  
Paul olhou para Demi, enviando-lhe um sorriso intrigado. 
— Ora, é mesmo? 
— Não, eu... - Ela virou-se para Joseph, que fuzilava Courtney com um olhar, e esta, por sua vez, parecia não dar a mínima. 
— Foi, sim - Courtney disse ao pai. — Joseph me contou tudo, agora há pouco. - Virando-se para Demi, juntou: Perguntei a ele como tinham sido as coisas com você, e ele disse que ”levou um fora daqueles”...
— Não! - Demi apressou-se em corrigir, quase em desespero. — Você entendeu mal. Ele... ele nem mesmo tentou uma investida, para ter de levar um ”fora''. 
Ela só se deu conta do que acabara de dizer quando Paul explodiu numa gargalhada, batendo as mãos nos joelhos. Demi pensou que a situação em que se encontrava mais parecia uma cena da história de Alice no País das Maravilhas, e decidiu que estava na hora de tomar o controle das coisas. Desde que Joseph parecia ser a única outra pessoa relativamente normal naquela mesa, olhou direto para ele.
— O que eu quis dizer - explicou, com muita clareza e concisão — Foi que você não poderia ter levado um ”fora” se não estava sequer tentando... 
Um lampejo de divertimento brilhou nos olhos verdes-claros.
— ”Dar em cima” de você? - ele completou.
— Exatamente - ela afirmou, enfática. Estava ali havia menos de dois minutos, mas sentia-se como se já tivesse atravessado um traiçoeiro campo minado. — Obrigada - acrescentou, sincera. 
Joseph  pretendera dar uma desculpa para ausentar-se da refeição, mas a expressão de divertida gratidão no rosto de Demi fez com que mudasse de ideia.
— Ainda é cedo para me agradecer. Isso pode ficar pior. 
— Pelo jeito você não estava em muito boa forma ontem à noite, Joseph - Courtney concluiu. — Acho que não estava, mesmo.
 Courtney decidiu apontar para um alvo mais vulnerável e voltou-se para Demi.
— Joseph disse que você é faixa preta no caratê, e que a viu derrubando Patrick de bunda no... 
— Não era caratê - Demi interrompeu, tentando não mostrar-se escandalizada. 
— O que era?
 — Alguns golpes que geralmente são ensinados nas aulas de defesa pessoal. É provável que tenham sido retirados de artes marciais como o taekwondo ou jiu-jitsu
— Você sabe lutar caratê?
— Sei, sim. 
— E é faixa preta? 
— Eu dou aulas de defesa pessoal para mulheres - Demi respondeu, evasiva. — Como voluntária. 
— Poderia me mostrar alguns golpes, para que eu aprenda a me defender? 
—  Somos nós que precisamos nos defender de você - Paul comentou, sarcástico. 
Demi estava inclinada a concordar com ele, mas não conseguiu resistir àquela adolescente impossível. 
— Sim, se você quiser - respondeu. 
— Promete? 
— Prometo. 
A fim de ganhar tempo, Demi bebeu um gole de água enquanto tentava pensar em algo capaz de desviar Courtney do interrogatório que, evidentemente, era motivo de incontida diversão. E quase engasgou quando a menina sugeriu, solícita: 
— Neste ponto, a maioria das pessoas costuma perguntar que ano da escola estou cursando e quais são meus planos para a faculdade. 
Demi engoliu um riso culpado, afastou os olhos e deparou com o olhar conhecedor e o sorriso solidário de Joseph. A princípio, presumira que ele vivia em meio a uma elegante ociosidade, muito acima dos estresses infligidos ao restante da humanidade, mas ao ver que ele tinha de ”aturar” as gracinhas de uma adolescente precoce passou a achá-lo muito mais humano, e até mais simpático. Sem perceber que sua expressão se suavizara tanto quanto sua atitude, sorriu para ele e voltou-se novamente para Courtney. Queria dizer alguma coisa que fosse verdadeira, e não superficial, e depois de um instante comentou com tranquila franqueza: 
— Aposto que seu QI está bem acima dos padrões normais. 
— Acertou. O de Joseph também. Agora, onde vocês foram ontem à noite? Onde estavam, quando você deu um ”fora” nele?
— Nós fomos ao Ocean Club e eu não... - Demi respondeu, em desespero. 
— Estávamos na pista de dança - Joseph esclareceu, piedoso. — Eu estava tentando flertar com ela, exibindo o meu melhor charme, e ela ofereceu-se para me apresentar a uma amiga. Paul riu alto, e Courtney observou-a com uma expressão perplexa.
— Você é mesmo imune à incrível aparência dele e à sua fortuna legendária? Ou... estava apenas bancando a difícil? 
Mortificada, Demi olhou para Joseph, que aguardava sua resposta.
 — Não nos deixe neste suspense, minha cara - Paul encorajou-a com um sorriso de expectativa. 
Toda aquela conversa era tão ultrajante que Demi cobriu o rosto com as mãos, recostou na cadeira e começou a rir. Riu com tanto gosto que fez os outros rirem também, e quando tentou explicar, a expressão deles fez com que risse ainda mais.
 — Eu não entendo nada sobre flertes - disse a Courtney — Se tivesse um... telefone à mão, teria ligado para minha amiga Sara ali mesmo na pista de dança... e perguntaria... 
— O quê? - Courtney adiantou-se, ansiosa.
— Perguntaria o que ela diria a um homem que deseja saber o que pode fazer para... para me impressionar. 
— Você menciona jóias - Paul apressou-se em aconselhar. — Fala sobre braceletes de diamantes, coisas assim. 
Aquela sugestão tão absurda provocou um novo ataque de riso em Demi.
 — É isso que fazem as mulheres ricas de Palm Beach? - conseguiu falar, entre os risinhos. Sem qualquer constrangimento, agora, ergueu os olhos para Joseph. — O que você teria feito se eu... se eu mencionasse um bracelete de diamantes?
Joseph fitou aqueles lábios macios e provocantes, e depois o rosto dela. Sob os espessos cílios castanhos, os olhos radiantes tinham um impressionante tom de azul-lavanda, hipnóticos, sem a menor sombra de malícia, e as faces delicadas estavam afogueadas por um leve rubor. Mechas de cabelos escapavam da tiara e reluziam os fios sobre suas têmporas. Resoluta, despretensiosa e sem a menor afetação, ela brilhava de dentro para fora. E era, ele concluiu, a mulher mais completamente bela que já havia visto. Ela também começou a sentir-se embaraçada sob aquele exame, e o riso vacilou em seus lábios trémulos, os longos cílios fecharam-se, ocultando os olhos. 
— Pensando bem - Paul brincou, interpretando corretamente os pensamentos de Joseph -, — Não perca tempo com o bracelete, Demi. Pode ir direto para o colar de diamantes. 
O tempo passou rápido, depois disso. Na hora em que os pratos do desjejum estavam sendo tirados da mesa, Demi sentia-se quase como uma amiga da família, e em grande parte graças a Courtney. Com uma imparcialidade democrática, a desbocada adolescente desviara sua atenção de Demi e alvejara uma série de comentários igualmente impertinentes, e quase sempre hilariantes, no pai e no irmão. Ninguém foi poupado, e ao final da refeição as três vítimas solidarizavam-se mutuamente, compartilhando a mesma impotência, a mesma compaixão e os mesmos risos. 
Naquele curto espaço de tempo, Demi obteve de Courtney uma quantidade surpreendente de informações sobre os dois homens, incluindo o fato de que Joseph fora casado durante três anos com uma mulher chamada Blanda, que supostamente o deixara desencantado com o casamento, e que duas das esposas de Paul tinham a idade de Demi.
 Courtney não dava nenhuma trégua ao pai, e ele não parecia incomodar-se com isso, mas Joseph impunha seus limites, Demi reparou, e era evidente que tais limites envolviam seu trabalho. 
Ele ignorou as inúmeras provocações da menina acerca de sua vida pessoal, e até sobre algumas das mulheres com quem estivera envolvido, mas quando ela começou a fazer um comentário a respeito dos seus ”sócios nos negócios”, ele cerrou os dentes e sua voz tornou-se ameaçadora. 
”Eu pararia por aqui, se eu fosse você”, avisou-a.
Para surpresa de Demi, a rebelde menina de dezessete anos calou-se no meio da frase e ”parou por ali”. 
Claudine voltou com outro bule de café e começou a encher novamente a xícara de Demi, mas esta olhou no relógio e balançou a cabeça.
— Nunca comi panquecas tão deliciosas - disse à cozinheira, que lhe devolveu um sorriso radiante. — Preciso ir embora - disse aos outros. — Já devem estar à minha procura.
— Espere - Courtney pediu, tentando adiar a partida. — Por que você aprendeu artes marciais? 
— Para compensar minha baixa estatura - Demi respondeu distraída, enquanto empurrava a cadeira e levantava-se. Então, sorriu para sua jovem anfitriã e juntou: — Obrigada pela refeição mais memorável que já tive. E obrigada por me fazer sentir como se pertencesse à sua família. 
Demi registrou que Courtney realmente parecia sem palavras pela primeira vez desde que a conhecera, mas logo foi distraída quando Joseph também se levantou e disse: 
— Vou acompanhá-la até em casa.
Em silêncio, Courtney e Paul ficaram observando o casal afastar-se lado a lado através do gramado. Apoiando os pés descalços na cadeira de Joseph, Courtney cruzou-os nos tornozelos e remexeu os dedinhos, analisando o esmalte vermelho-escuro com que pintara as unhas.
— Bem? - perguntou finalmente. — O que acha de Demi, agora? 
— Acho que é adorável e extremamente divertida - Paul respondeu. — E também acho - acrescentou zangado, enquanto despejava uma colher de açúcar no café — Que você passou dos limites razoáveis com alguns dos seus comentários. Em ocasiões anteriores, sempre conseguiu demonstrar um mínimo de comedimento diante de estranhos, mas não foi o que fez hoje.
— Eu sei - Courtney concordou, toda animada. — Eu fui ótima! Joseph devia dobrar minha mesada, pelo que realizei hoje.
— E o que pensa que realizou?
— É tão... tão óbvio! Fiz com que Demi relaxasse. Ela estava toda tensa, no início, e quem poderia culpá-la? Isto é, ela não conhece ninguém em Palm Beach, nem mesmo as pessoas da própria família. Morou numa cidade pequena a vida toda, não sabe nem flertar direito, e pode apostar que nunca teve dinheiro. 
— Tenho certeza de que Patrick nunca deixou faltar nada a ela e à mãe.
— Bem, se você tivesse prestado atenção ao jeito que ela respondeu minhas perguntas, em vez de ficar só olhando para aqueles lindos e enormes...
— Courtney!
— Olhos. Eu ia dizer ”olhos” - a menina afirmou, sincera. 
— De qualquer forma, se você estivesse escutando em vez de ficar encarando, ficaria sabendo que a mãe dela trabalha de vendedora numa butique, e que Demi trabalhava em meio período na época em que frequentava a escola pública. Está me acompanhando? Está vendo aonde quero chegar? 
— Ainda não, mas estou correndo bem atrás de você, tentando manter o passo.
 Courtney girou os olhos para o alto, diante de tanta obtusidade.
— Considerando-se tudo o que ela revelou sobre si mesma, será que pode imaginar o quanto ela deve estar impressionada com Joseph? Isto é, além do fato de ser alto, lindo e sexy, ele também é rico e sofisticado. Tive muito trabalho em fazer com que ele parecesse mais normal e acessível a ela.
 — Ah, entendi - Paul falou, irônico. — E suponho que isto explica porque você achou necessário referir-se à ex-mulher dele como a ”Bruxa Malvada do Oeste”, e insinuar que a amante era feia? 
— Eu nunca me referi à Nicole como ”amante” dele! Courtney protestou, indignada. — A palavra ”amante” tem uma conotação elitista e poderia deixar Demi aterrorizada. Eu me referi a ela como ”Nicole”. 
Courtney inclinou-se para a frente a fim de examinar uma possível manchinha no esmalte do pé, e suspirou dramaticamente. 
— Pobre Demi. Joseph vai despejar todo seu charme em cima dela. Irá levá-la para passear num dos iates, será pródigo em atenções, a deixará deslumbrada com uma bugiganga qualquer, e seduzi-la para a cama. Ela vai ficar ”caidinha” por ele, como todas as outras mulheres, e só depois descobrirá que ele é duro como pedra e que a única coisa com que realmente se importa é ganhar dinheiro. Ele estará envolvido demais com os ”negócios” para preocupar-se com ela; ela acabará ficando amuada e insistente; ele acabará se aborrecendo. Então, ele vai terminar tudo com ela, e ela vai sofrer e se desesperar. Sabe de uma coisa? - concluiu, alegremente. — Se eu não fosse uma irmã leal e dedicada, avisaria Demi de que Joseph é um perfeito canalha! 

O tímido constrangimento que Demi julgava ter superado no decorrer do café da manhã começava a retornar, enquanto caminhava ao lado de Joseph. No entanto, ele logo dissipou o mal estar perguntando se ela gostaria de velejar e, depois, contando-lhe sobre a ocasião em que Paul e Courtney quase emborcaram sob uma tempestade na costa de Nassau.
A alguns metros da casa dos Lovatos, um grupo de crianças fazia um castelo de areia. A menor delas, um menininho de cerca de um ano e meio, ainda mal conseguia equilibrar-se de pé e tentava bravamente acompanhar os outros dois meninos enquanto corria para a água levando seu baldinho. Ao retornar ao lugar do castelo, passou por Demi, tropeçou, caiu e a água que carregava espalhou-se pela areia. 
—  Precisa de ajuda? - Demi perguntou, abaixando-se para ficar na altura dele. 
Sem soltar a alça do baldinho, o menino girou o corpinho e sentou, olhou para ela e desatou num choro desconsolado. Num gesto instintivo, Demi abriu os braços e pegou a criança, o balde e toda areia que se seguiu, e aconchegou-a contra si, rindo.
— Não chore, menininho - tranquilizou-o dando leves palmadinhas em suas costas, enquanto a babá, com quem Demi conversara logo cedo naquele mesmo dia, corria na direção deles. — Não chore, nós vamos ajudá-lo...
O garotinho acalmou-se, passou a mãozinha suja de areia nos olhos e soluçou. Demi deixou-o no chão e segurou-lhe a mão livre. 
— Nós vamos ajudá-lo - ela prometeu novamente, e olhou para Joseph. — Vamos, não é? Joseph fitou aqueles olhos que o encaravam suplicantes, e depois para os olhinhos castanhos e esperançosos do bebê. Em silêncio, pegou o baldinho. Demi sorriu para ele. O bebê sorriu para ele. Seu cérebro captou o momento como se fosse uma foto instantânea. 

Ele a desejava.  

— Acho as crianças tão divertidas - Demi comentou minutos depois, quando se afastavam do castelo de areia que ainda estava sendo construído, só que agora com água de sobra. 
— Você é divertida - Joseph corrigiu-a, com um significativo encolher de ombros.
— Obrigada. Você não gosta de crianças? 
— De nada e, não, eu não gosto. 
— É mesmo? - Encorajada pelo clima informal que haviam compartilhado no café da manhã, Demi uma pergunta, mas no instante seguinte achou que estava parecendo intrometida demais: — É por isso que você nunca teve filhos? 
— Eu já estava com dezesseis anos quando Courtney nasceu, e ela curou-me de quaisquer ilusões que eu pudesse ter acerca de querer filhos, ou de uma criança me querer como pai. 
— Desculpe, não tive intenção de intrometer-me - ela falou, sincera. — Não devia ter-lhe perguntado isso. 
 — Você pode perguntar o que quiser, e eu serei tão honesto e direto quanto puder. Prefiro assim. 
Desde o café, Demi estivera preparando-se mentalmente para tentar flertar com ele, mas agora que Joseph lhe pedia honestidade e franqueza tal possibilidade tornou-se tão alarmante quanto impossível.
— Tudo bem - afirmou, sem muita convicção.
— Agora era a sua vez de assegurar-me de que eu posso lhe perguntar qualquer coisa, e você também será direta e honesta.
 — Não tenho tanta certeza de que esta seja uma boa ideia - ela retrucou com uma pontinha de ironia, e Joseph deu uma gargalhada.
— Mas vale a pena tentar, não acha? - ele pousou a mão em seu braço e a fez parar bem atrás dos arbustos que encobriam a cerca de arame que separava a casa de Patrick e a praia.
 — Quer dizer... agora? 
— Agora. - Com uma franqueza desconcertante, ele juntou — Gostaria de passar mais tempo com você, enquanto estiver aqui. Começando com esta noite. 
— Não posso - Demi apressou-se em responder, soando absurdamente em pânico aos seus próprios ouvidos.
— Por que não? 
— Existem três motivos importantes - ela falou, recobrando o controle da voz. — Eles são: Selena, Nicholas e Patrick.
— Ontem à noite Selena me disse que você não tem nenhum envolvimento mais sério com Nicholas. Eu não estou envolvido com Selena e, desde que nenhum de nós está romanticamente envolvido com Patrick, não vejo qual é o problema. 
— Eu quis dizer que preciso passar mais tempo com eles.
— Podemos resolver isso. Há mais alguma coisa que impeça que nós dois nos conheçamos melhor? 
— Como o quê, por exemplo? - Demi perguntou, evasiva, mas Joseph imediatamente percebeu a sua manobra.
 — Não vamos entrar nesse joguinho de gato e rato, Demi. Já fiz isso muitas vezes e sei que você não gostaria disso, mesmo se soubesse como jogar. 
A fim de ganhar tempo, Demi ficou olhando para a conchinha que apanhara na areia e fingiu examiná-la. Ele esperou em silêncio até que ela não tivesse outra escolha senão encontrar-lhe os olhos.
— Uma das coisas que mais gosto em você é este seu jeito franco e honesto - ele disse. — No entanto, há algo que a incomoda, quando está sozinha comigo. O que é? 
Demi imaginou se ele continuaria achando-a tão franca e honesta se ela lhe dissesse a verdade. O que me incomoda quando estamos sozinhos é o fato de eu não ser uma designer de interiores, mas sim uma policial trabalhando disfarçada. Não estou aqui para visitar meu pai, mas sim para espioná-lo. Nicholas não é meu amigo, é um agente do FBI que veio para cá pelo mesmo motivo. Ah, e a propósito, ele também quer que eu descubra tudo o que puder a seu respeito. Ela não era inocente e sincera; na verdade, talvez fosse a pessoa mais mentirosa que ele já conhecera. Mas, também, estava tão atraída por ele que chegava a sentir um nó no estômago só de pensar em como ele reagiria quando descobrisse toda a verdade.
— Você se sente atraída por mim? - ele indagou, abrupto. Demi teve a nítida impressão de que ele já sabia a resposta.
— Sabe de uma coisa - ela disse, tremula -, — Não vamos ser assim tão francos.
Joseph ainda estava rindo quando inclinou-se e beijou-a de leve nos lábios.
— Aí está, esse já foi. O primeiro beijo é sempre o mais difícil. A partir de agora tudo vai ficar mais fácil. 

Demi encarou-o, a cabeça rodopiando num misto de incredulidade, desejo e medo.


esse ficou bem grande então irei dividi-ló em duas partes. Definitivamente eu amei esse capítulo e vocês? Rolou um beijinho Jemi, espero que tenham gostado, bjs lindonas!

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