31/05/2016

certain love: capítulo 1



Carolina do Norte
13:55 A.M

Selena está enrolando o mesmo cacho de cabelo há dez minutos, e isso está começando a me deixar louca. Eu balanço a cabeça e aproximo meu latte gelado, colocando estrategicamente os lábios no canudinho. Selena está sentada à minha frente com os cotovelos apoiados na mesinha redonda, segurando o queixo com uma das mãos. 
— Ele é lindo - afirma Selena, olhando para o sujeito que acabou de entrar na fila. — Sério, Demi, quer fazer o favor de olhar pra ele? 
Eu reviro os olhos e tomo mais um gole. 
— Selena - respondo, apoiando a bebida na mesa. — Você tem namorado. Eu preciso mesmo ficar sempre te lembrando? 
Selena faz uma careta bem-humorada de desdém. 
— Não sabia que você era minha mãe - mas Selena não consegue ficar muito tempo prestando atenção em mim, não enquanto aquele poço de sensualidade ambulante está de pé diante da caixa, pedindo café e bolinhos. — E Damom nem liga se eu olhar, desde que eu fique de quatro pra ele toda noite. 
Eu bufo e fico vermelha. 
— Viu? U-hu - ela diz, abrindo um sorrio. — Consegui te fazer rir. - Selena estende a mão para a sua bolsinha violeta. — Preciso fazer uma anotação - continua, pegando o celular e abrindo o diário digital. — Sábado. 15 de junho. - Ela corre o dedo pela tela. — 13h54: Demi Lovato riu de uma das minhas piadinhas sexuais. - Depois ela enfia de novo o celular na bolsa e me olha com aquela expressão pensativa que sempre faz quando está para entrar no modo psicanalista. — Dá só uma olhadinha - insiste, sem brincar. 
Só para ela sossegar, viro o queixo um pouco de lado para olhar rapidamente o sujeito. Ele se afasta da caixa e vai para a ponta do balcão, onde pega sua bebida. Alto. 
Maçãs do rosto perfeitamente esculpidas. Olhos castanhos cativantes de modelo.
 — Tá - admito, voltando a olhar para Selena. — Ele é gato, mas e daí? 
Selena precisa admirá-lo enquanto ele sai pela porta dupla de vidro e passa em frente às vidraças antes de conseguir olhar para mim de novo e responder. 
— Meu Deus do céu! - ela exclama, de olhos arregalados e incrédulos.
 — É só um cara, Selena. - eu coloco os lábios no canudinho de novo. — Você devia andar com “obcecada” escrito na testa. Pra ser completamente obcecada, você só falta babar.
— Tá brincando comigo? - sua expressão se transformou em puro choque. — Demi, você tem um problema sério. Sabe disso, não sabe? - ela se encosta na cadeira. — Precisa aumentar a dose do seu remédio. É sério. 
— Parei de tomar em abril. 
— Quê? por quê?
 — Porque é ridículo - retruco com decisão. — Não tenho impulsos suicidas, então não tenho nenhum motivo pra continuar tomando aquilo. 
Ela balança a cabeça e cruza os braços sobre o peito.
 — Você acha que eles receitam esse negócio só pra quem tem impulsos suicidas? 
— Não, não é bem assim - ela aponta para mim rapidamente e volta a cruzar os braços. — É um lance de desequilíbrio químico, alguma porra dessas. 
Eu abro um sorrisinho.
 — Ah, é? Desde quando você entende tanto de saúde mental e dos remédios usados pra tratar as centenas de transtornos? - ergo as sobrancelhas só um pouco, o bastante para mostrar o quanto sei que ela não faz ideia do que está dizendo.
Quando Selena franze o nariz para mim em vez de responder, eu continuo: — Vou me curar no meu ritmo, e não preciso de um comprimido pra consertar as coisas. - Minha explicação começou delicada, mas inesperadamente ficou amarga antes que eu conseguisse acabar de dizer a última frase. Isso acontece muito. 
Selena suspira, e o sorriso desaparece completamente de seu rosto. 
— Desculpa - digo, com remorso pela resposta atravessada. — Olha, eu sei que você tá certa. Não posso negar que tenho uns problemas emocionais bem complicados e que às vezes sou meio grossa... 
— Às vezes? - ela resmunga, mas está sorrindo de novo e já me perdoou. 
Isso também acontece muito. 
Abro um meio sorriso também. 
— Só quero encontrar as respostas por conta própria, sabe? 
— Encontrar que respostas? - Selena está chateada comigo. — Demi - diz ela, inclinando a cabeça para o lado para parecer pensativa. — Detesto te dizer isso, mas na vida as merdas acontecem mesmo. Você precisa superar. Derrotar isso fazendo coisas que te deixam feliz. Tudo bem, talvez ela não seja tão péssima terapeuta, no fim das contas. 
— Eu sei, você tem razão - admito. — Mas...
Selena ergue uma sobrancelha, esperando. 
— O quê? desembucha, vai! 
Dou uma olhada rápida para a parede, pensando a respeito. É tão comum eu ficar pensando na vida, ponderando cada aspecto possível dela. Quero saber que diabos estou fazendo aqui. Até agora mesmo. Neste café, com esta garota que conheço praticamente desde que nasci. Ontem me perguntei por que eu sentia necessidade de me levantar exatamente na mesma hora do dia anterior e fazer tudo como fiz no dia anterior. Por quê? O que motiva qualquer um de nós a fazer as coisas que fazemos, quando no fundo uma parte da gente só quer se libertar de tudo? 
Desvio o olhar da parede para a minha melhor amiga, que sei que não vai entender o que vou dizer, mas, como preciso botar isso para fora, digo da mesma forma. 
— Você já imaginou como seria viajar pelo mundo com uma mochila nas costas? 
Selena fica sem expressão. 
— Acho que não - foi a resposta. — Deve ser... um saco. 
— Bom, pensa nisso um momento - insisto, me apoiando na mesa e concentrando toda a atenção nela. — Só você e uma mochila com o indispensável. Nada de contas pra pagar. Nada de acordar na mesma hora todo dia pra ir pra um emprego que você detesta. Só você e o mundo à sua frente. Sem nunca saber o que o dia seguinte vai trazer, quem você vai conhecer, o que vai comer no almoço ou onde vai dormir - percebo que me perdi tanto nessas imagens que eu mesma devo ter parecido um pouco obcecada por um segundo. 
— Você tá começando a me assustar - Selena desconversa, me olhando do outro lado da mesinha com cara de incerteza. Sua sobrancelha erguida volta a se alinhar com a outra e ela diz: — E também tem que andar pra caramba, tem o risco de ser estuprada, morta e desovada numa estrada qualquer. Ah, e também tem que andar pra caramba... 
Ela claramente acha que estou à beira da loucura. 
— Enfim, de onde saiu isso? - Selena pergunta, tomando um gole rápido de sua bebida. 
— Parece algum tipo de crise de meia-idade, e você só tem 23 anos. - Ela aponta novamente, como que para salientar: — E nunca pagou uma conta na vida. 
Selena toma mais um gole; segue-se um barulho desagradável de aspiração.
 — Posso não ter pago - digo baixinho para mim mesma. — Mas vou pagar quando for morar com você.
— Pode crer que vai - concorda Selena, tamborilando em seu copo. — Tudo rachado ao meio... mas, você não está pensando em dar pra trás, está? - ela fica imóvel, me olhando com desconfiança. 
— Não, o trato continua de pé. Semana que vem, eu saio da casa da minha mãe e vou morar com uma vadia. 
— Sua vaca! - ela ri. 
Dou um sorrisinho e volto a ruminar as coisas de antes que ela não entendeu, mas eu já esperava isso. Mesmo antes que Wilmer morresse, sempre tive ideias meio não convencionais. Em vez de ficar o tempo todo imaginando novas posições sexuais, como Selena muitas vezes faz com Damon, o cara que ela está namorando há cinco anos, eu prefiro pensar em coisas que realmente importam. Ao menos no meu mundo, elas importam. Como é sentir o ar de outros países na minha pele, qual é o cheiro do oceano, por que o barulho da chuva me faz suspirar. “Você é muito cabeça”, foi isso que Damon me disse em mais de uma ocasião. 
— Ai, nossa! - Selena diz. — Você é muito deprê, sabia? - ela balança a cabeça com o canudo entre os lábios. — Vem! - exclama de repente, se levantando. — Não aguento mais esses lances filosóficos, e acho que lugares estranhos que nem este te deixam ainda pior. Hoje à noite a gente vai pro underground
— Quê? Não, eu não vou naquele lugar. 
— Você vai sim. - ela joga o copo vazio na lata de lixo a um metro de distância e me segura pelo pulso. — Vai comigo desta vez porque, até onde eu sei, você é minha melhor amiga e eu não vou aceitar não de novo como resposta. - seu sorriso de lábios cerrados se espalha por todo o seu rosto levemente bronzeado. 
Sei que Selena está falando sério. Ela sempre fala sério quando me olha com essa cara: cheia de empolgação e determinação. Provavelmente vai ser mais fácil ir com ela esta noite e dar um fim nisso, senão ela nunca mais vai me deixar em paz. São ossos do ofício para quem tem uma melhor amiga mandona. 
Eu me levanto e jogo a bolsa sobre o ombro. 
— São só duas da tarde - digo. 
Tomo o resto do meu latte e jogo o copo vazio na mesma lata de lixo que ela. 
— Sim, mas antes a gente precisa comprar um modelito novo pra você. 
— Hum, não - retruco decidida enquanto ela sai comigo pelas portas de vidro para o ar fresco do verão. — Eu já tô indo pro underground com você, já tô pagando meus pecados. Me recuso a sair pra fazer compras. Já tenho muita roupa. 
Selena me dá o braço enquanto andamos pela calçada, passando por uma longa fila de parquímetros. Ela sorri e olha para mim.
— Tudo bem. Então me deixa pelo menos te vestir com alguma coisa do meu closet. 
— E qual o problema com as minhas roupas? 
Ela estufa os lábios para mim e estica o queixo, como se estivesse debatendo em silêncio por que preciso fazer uma pergunta tão ridícula. 
— É o underground - é o que ela diz, como se não houvesse resposta mais óbvia. 
Tudo bem, até que Selena tem razão. Nós duas somos grandes amigas, mas no nosso caso, é aquele lance dos opostos que se atraem. Ela é uma mulher que está apaixonada por Leornado Dicaprio desde de Titanic. Eu sou mais uma garota sossegada que raramente usa roupa escura, a menos que seja para um velório. Não que Selena só use preto, mas ela jamais sairia em público vestindo alguma coisa do meu guarda-roupa porque, segundo ela, é tudo normal demais. Eu discordo. Sei como me vestir, e os meninos nunca reclamavam das roupas que eu escolhia, pelo menos na época em que eu ainda prestava atenção nos olhares que eles davam pra minha bunda quando eu usava meu jeans favorito. 
Mas o underground foi feito para gente como Selena, portanto, acho que vou ter que suportar me vestir como ela por uma noite, só para me enturmar. Não sou maria vai com as outras. Nunca fui. Mas com certeza topo me tornar alguém que não sou por algumas horas se isso vai ajudar a me misturar, em vez de parecer a esquisita e chamar a atenção. 
— Esta aqui vai ficar perfeita - decide Selena, segurando uma camiseta branca e fina estampada com o nome Scars on Broadway. — Fica colada ao corpo, e os seus peitos são perfeitos. - ela põe a camiseta sobre o meu peito e examina como fiquei. 
Rosno para ela, insatisfeita com a primeira escolha. 
Ela revira os olhos e seus ombros afundam. 
— Tudo bem - desiste, jogando a camiseta sobre a cama. Ela corre a mão pelo cabideiro e puxa outra, mostrando-a com um sorriso que é também uma de suas táticas de manipulação. Sorriso cheios de dentes me deixam com menos vontade de lhe dizer não.
— Que tal alguma coisa que não tenha o nome de uma banda qualquer escrito na frente? - digo. 
— É Brandon Boyd - Selena exclama, arregalando os olhos. — Como pode não gostar de Brandon Boyd? 
— Ele é legal - respondo. — Só não quero exibir uma propaganda dele no meu peito. 
— Eu queria era ter ele mesmo no meu peito - comenta Selena, admirando o top aderente com gola em v, praticamente igual ao primeiro que ela tentou me mostrar. 
— Usa você, então, ué. 
Ela me olha de lado, balançando a cabeça como se estivesse considerando a ideia. 
— Acho que vou usar mesmo. - ela tira o top que já está usando e o joga no cesto de roupas perto do closet, vestindo em seguida o rosto de Brandon Boyd sobre os peitões.
 — Ficou legal em você - elogio, observando-a enquanto ela se ajeita e admira o que vê no espelho por vários ângulos. 
— Ficou mesmo - Selena concorda. 
— O que Leornado Dicaprio vai achar disso? - brinco. 
Selena dá uma risadinha, joga o cabelo escuro para trás e pega a escova. 
— Ele sempre vai ser meu número um. 
— E Damon, sabe, aquele seu namorado nada imaginário? 
— Para com isso - ela reclama, me olhando pelo espelho. — Se continuar me pentelhando com Damon desse jeito... - ela para com a escova na mão e vira o corpo para me encarar. — Você por acaso tá a fim do Damon? 
Viro a cabeça e sinto meu cenho se franzir com força. 
— Claro que não, Selena! Que besteira é essa? 
Selena ri e volta a escovar o cabelo. 
— Vamos achar alguém pra você hoje. É disso que você precisa. Vai resolver tudo. 
Meu silêncio revela imediatamente que ela foi longe demais. Detesto quando Selena faz isso. Por que todo mundo precisa estar com alguém? É uma ilusão idiota e um jeito de pensar bem patético. 
Ela coloca a escova de volta na penteadeira e se vira completamente, deixando o ar de brincadeira desaparecer do rosto e suspirando profundamente.
— Sei que eu não devia dizer essas coisas... olha, prometo que não vou ficar dando uma de cupido, tá? - ela levanta as duas mãos num gesto de rendição.
 — Tá bom, eu acredito - digo, cedendo à sinceridade dela. Claro que sei que uma promessa nunca a detém completamente. Selena pode não tentar me arrumar alguém de forma descarada, mas só precisa piscar aqueles cílios escuros dela para Damon e depois olhar para qualquer cara que estiver por perto, e Damon saberá na hora o que ela quer que ele faça. Mas eu não preciso da ajuda deles. Não quero ficar com ninguém. 
— Ah! - Selena está com a cabeça enfiada no closet. — Este top é perfeito! - ela se vira, exibindo um top preto largo com aberturas nos ombros. Na parte da frente está escrito: PECADORA. — Comprei na Hot Topic - ela conta, tirando do cabide. 
Sem querer que a sessão de escolha de roupas se arraste por mais tempo, tiro minha camiseta e pego o top da mão dela. 
— Sutiã preto - Selena comenta. — Boa escolha. 
Enfio o top e me olho no espelho. 
— Então? fala aí - Selena pergunta, parada atrás de mim com um sorriso enorme. — Gostou, não gostou? 
Dou um sorrisinho e me viro para ver como a barra da camiseta mal cobre o alto da minha cintura. 
E então noto que nas costas está escrito SANTA
— Tá - admito. — Eu gostei. - Eu me viro e aponto para ela, séria. — Mas não o suficiente pra começar a atacar o seu closet, então não fique muito esperançosa. Tô satisfeita com minhas lindas blusinhas de abotoar, obrigada. 
— Eu nunca disse que as suas roupas não eram lindas, Demi. - Selena sorri, estica a mão e estala a alça do sutiã nas minhas costas. — Você é sexy pra caramba todo dia, garota. 
Balanço a cabeça para ela, sorrio e pego a escova da penteadeira.  Selena não é uma vadia de verdade, ela parte a cara de quem chamá-la assim, mas é a ninfomaníaca dos sonhos de qualquer namorado, com certeza.
 — Agora me deixa maquiar você - ela decide, me levando para o espelho.
 — Não! 
Selena põe as mãos na cintura de violão e arregala os olhos, como se fosse minha mãe e eu tivesse acabado de dar uma resposta malcriada.
 — Vai ser por bem ou por mal? - pergunta, me fuzilando com o olhar.
 Eu cedo e desabo na cadeira diante do espelho.
 — Tanto faz - resmungo, levantando o queixo para lhe dar total acesso ao meu rosto, que acaba de se tornar sua tela. — Mas nada de olhos de guaxinim, tá? 
Ela segura meu queixo com força. 
— Agora, quieta - ordena, tentando não rir e parecer séria. — Uma artista - ela diz, com um sotaque dramático e um floreio da outra mão — Precisa de silêncio para trabalhar! Onde acha que estar, num salón de Detroit? 
Quando Selena termina, estou igualzinha a ela. Exceto pelo o cabelo castanho e liso dela. Meu cabelo é o tipo de loiro que algumas garotas pagam uma fortuna no salão de beleza para conseguir, e vai até o meio das minhas costas.
Admito que tirei a sorte grande no quesito cabelo perfeito. Selena disse que fica melhor solto e eu obedeci. Não tive escolha. Ela foi bem ameaçadora... 
E ela não me deixou com cara de guaxinim, mas também não economizou na sombra escura para os olhos. 
— Olhos escuros com cabelo loiro - ela disse enquanto aplicava o rímel grosso e preto. — É sexy pra caramba. - e pelo jeito minhas sandálias peep toe também não serviam, porque ela me fez tirar e calçar um de seus pares de botas de salto fino, que aderem às pernas do meu jeans colado ao corpo. 
— Você tá muito sexy, sua cachorra - Selena declara, me olhando de alto a baixo. 
— E você me deve uma, por ter topado essa balada - digo. 
— O quê? Eu te devo uma? - ela inclina a cabeça. — Não, querida, acho que não. Você vai acabar é me devendo uma antes do fim da noite, porque vai se divertir pra cacete, e vai implorar pra eu te levar lá mais vezes. 
Eu brinco, fazendo uma careta, com os braços cruzados e o quadril virado para o lado.
 — Duvido - respondo. — Mas vou te dar o benefício da dúvida e torcer pra me
divertir pelo menos um pouco. 
— Ótimo - conclui Selena, calçando as botas. — Agora vamos nessa, Damon tá esperando a gente.

O que acharam do primeiro capítulo?
Comentem lindonas, bjs <3

29/05/2016

certain love: sinopse

Demi Lovato é uma jovem de 23 anos que desistiu do amor desde que Wilmer, seu namorado, morreu num acidente de carro há um ano. Sua melhor amiga, Selena, é a única capaz de animá-la. Mas a relação entre as duas fica abalada quando o namorado de Selena revela à Demi que está apaixonado por ela. Perdida, sem saber o que fazer, Demi vai para rodoviária e pega o primeiro ônibus interestadual, sem se importar com o destino.
Com uma carteira, um celular e uma pequena bolsa com alguns itens indispensáveis, Demi embarca para Idaho. Mas o que ela não esperava era conhecer Joseph Jonas, um cara sedutor e misterioso, a caminho para visitar o pai, que está morrendo de câncer. Joseph se aproxima da companheira de viagem, primeiro para protegê-la, mas logo uma conexão irresistível se forma entre os dois.
Demi tenta lutar contra o sentimento, já que jurou nunca mais se apaixonar desde a morte de Wilmer. Joseph também tenta resistir, motivado pelos próprios segredos.

Mas explorarão seus desejos e buscarão o caminho que os levará à felicidade.

Lindonas essa nova história é muito boa, é inspirada no livro entre o agora e o nunca da autora J.A. Redmerski.
Ela é totalmente diferente da primeira e espero muito que vocês gostem.
Comentem se vocês estiverem gostando ok? Preciso saber o que estão achando do conteúdo.


bjs lindonas <3

27/05/2016

sussurros na noite: epílogo


Todas as mesas no exclusivo restaurante de Palm Beach estavam ocupadas, e as pessoas que aguardavam sua vez aglomeravam-se no bar e no vestíbulo da frente.
O telefone tocou na mesa do maítre e ele atendeu. Ouviu seu interlocutor, franzindo a testa porque não conseguia escutar direito.
— Desculpe, com quem deseja falar? - perguntou, tampando o outro ouvido com a mão, numa tentativa de bloquear o barulho. — Sim, o grupo da Sra. Jonas está aqui. Está bem, vou chamá-la. 
O maítre, cujo nome era Roland, trabalhava havia pouco tempo no Remington Grill. Localizou a mesa reservada para o grupo de Jonas em seu mapa do salão, e depois foi abrindo caminho por todo o restaurante, até a mesa nos fundos.
Três mulheres estavam sentadas ali: uma delas era uma morena estonteante de cerca de trinta três anos; outra era uma loira elegantemente vestida, já no final dos quarenta, parecida o bastante com a mais jovem para ser sua mãe; e a terceira era uma adolescente usando um traje deplorável, que não parecia pertencer à mesma família das outras duas, e nem tampouco à exclusiva clientela do Remington Grill. 
Desde que Roland não tinha certeza se a pessoa que ligara havia pedido para falar com a Sra. ou com a Srta. Jonas, achou melhor seguir o rumo mais seguro.
— Com licença, Sra. Jonas - disse, olhando para as três mulheres sorridentes. — Há um telefonema para a senhora na recepção. 
As três fitaram-no com o mesmo olhar de interrogação. 
— Para qual de nós? - a adolescente perguntou.
— Para a Sra. Jonas - Roland enfatizou, um tanto irritado com o apuro em que se metera. 
— Você é novo aqui, por isso deixe-me explicar - a garota falou com animação, obviamente divertindo-se com o seu sofrimento. — Veja bem, eu sou a Srta. Jonas, e esta - indicou a morena mais jovem. — É a minha cunhada, Sra. Joseph Jonas. E esta - indicou a loira mais velha. — além de ser a mãe da minha cunhada, é também a Sra. Paul Jonas. No entanto - acrescentou, dando a última cartada com um misto de prazer e orgulho. — Ela também é a minha mãe. 
As sobrancelhas de Roland ergueram-se com a ira reprimida.
— Muito interessante... 
Demi empurrou a cadeira para trás, apiedando-se do pobre homem. 
— O telefonema deve ser para mim. Joseph ligou de Roma e disse que talvez conseguisse chegar hoje à noite, em vez de amanhã. 

Joseph subiu as escadas em silêncio e, deliberadamente, surpreendeu a filha de três anos em seu quarto. 
— Papai! - ela exclamou, correndo para os braços dele com seu pijama, enquanto a arrumadeira desaparecia no quarto ao lado. — Você voltou antes! 
Normalmente Joseph a prenderia nos braços no mesmo instante, mas estava escondendo um presente atrás das costas, então limitou-se a sorrir para ela. 
— A tia Courtney veio aqui, hoje! 
— Eu já adivinhei - ele disse, com carinho. 
A menina inclinou a cabeça para o lado, um movimento que fez com que seus longos cabelos balançassem.
— Como podia adivinhar? 
— Por que estou vendo as suas trancinhas.
Demi encontrou Joseph no terraço, com a filha. Estavam sentados sob o luar, sussurrando alguma coisa. 
— Papai está em casa! - Ashley exclamou. 
Joseph levantou a cabeça e, ao fitar a esposa, seus olhos aqueceram-se de amor, numa saudação silenciosa.
— Nós estávamos contando segredos - Ashley confidenciou. Com o rostinho iluminado de alegria, inclinou-se para que Joseph lhe sussurrasse mais um segredo. Depois, olhou para ele e perguntou: — Posso contar este para mamãe? 
— Pode, sim - ele respondeu, solene. Ashley imitou seu tom de voz.
— Papai disse que ama você muito, muito, muito, muito!

Gente acabou :(
Espero muito que vocês tenham gostando dessa história, eu definitivamente amei escrever! 
E logo logo estarei postando a nova história.
Aguardem, um beijo <3 

26/05/2016

sussurros na noite: capítulo 37



As hélices do helicóptero ainda estavam girando quando Joseph desceu no convés principal, procurando por Demi. Passou por um dos tripulantes que estava prendendo a mobília do convés, como parte dos preparativos para saírem ao mar, e em vez de perder tempo procurando, Joseph perguntou-lhe abruptamente: 
— A Srta. Lovato está a bordo? 
O tripulante sabia apenas de três coisas importantes sobre a Srta. Lovato: os rumores entre a tripulação de que ela fora uma amiga íntima do agente do FBI que provocara a apreensão dos iates do seu patrão; que ela havia sido acusada de assassinato; e que fora trazida a bordo pela irmã mais nova do patrão, que dera ordens à tripulação para manter a presença dela em segredo. Assim sendo, decidiu que o caminho mais seguro seria demonstrar total ignorância.
 —  Não, senhor. Que eu saiba, não. 
Joseph assentiu e, com o cenho franzido, subiu as escadas externas que davam para sua cabine. Teria sido impossível que a lancha ou o helicóptero chegassem sem que o tripulante que estava no convés percebesse. Ao que parecia, Demi mudara de ideia quanto a vir falar com ele, e isso lhe pareceu muito estranho.
Enfiando as mãos nos bolsos, ficou olhando para a enorme cama de casal onde haviam compartilhado tantas horas de paixão tempestuosa e tranquilas conversas, e começou a imaginar o quanto de verdade realmente teria havido na defesa que Parker fizera de Demi. A mulher que ele vira naquele video não teria medo de confrontá-lo, se fosse inocente. 
Demi parou na porta atrás dele, tentando reunir sua coragem. Tivera algumas horas para pensar sobre a realidade do que acontecera entre eles e, apesar da crença de Courtney de que Joseph estava disposto a perdoar e esquecer, e de que tudo ficaria bem assim que ele a visse, Demi não acreditava que isso pudesse ser verdade. Aquilo não era um conto de fadas. A realidade era que ela o amava de todo coração, mas tudo o que dera a ele fora a humilhação pública. A realidade era que Joseph jamais dissera que a amava, que ele não acreditava no casamento, e que não queria ter filhos. Além disso, eles viviam em mundos completamente diferentes. O máximo que poderia esperar, agora, era a honestidade durante aquela última visita e, talvez, algum dia, o perdão dele. 
Deu um passo para dentro, tremendo de nervoso, fortalecido pela determinação. Joseph estava de costas para ela, com as mãos nos bolsos, a cabeça levemente inclinada, como se estivesse perdido em pensamentos. 
— Eu vim dizer adeus - ela falou, num tom suave. 
Os ombros dele ficaram tensos, e ele virou-se devagar, com uma expressão impassível.
— Vim lhe pedir que me perdoe, e sei que você vai precisar de um bom tempo para isso. - Demi fez uma pausa para firmar a voz, os olhos implorando para que ele acreditasse e compreendesse. — Não o culpo pela maneira como se sentiu a meu respeito. Eu quis lhe contar a verdade tantas vezes, mas Nicholas temia que você dissesse alguma coisa a Patrick. - tentando evitar que a voz tremesse com o amor e a tristeza que sentia, ela respirou fundo e continuou: — Mas devia ter lhe contado tudo, assim mesmo, porque no fundo do meu coração eu sabia que você jamais diria nada a ninguém. Mas, de certa forma, foi bom que tudo isso acontecesse, precipitando um final mais rápido para nós. Nunca teria dado certo. Joseph falou pela primeira vez. 
— Não?
— Não - Demi fez um gesto indicando a elegante cabine. — Você é você... e eu... sou eu. 
—Isso sempre foi um enorme obstáculo entre nós - ele disse, com a expressão séria. 
Demi estava tão abalada que não percebeu o leve divertimento na voz dele.
— Sim, eu sei, só que isso não impediu que, a cada dia que passava, eu me apaixonasse mais por você. Porem, você nunca esteve interessado em casamento, e eu acabaria querendo ser sua esposa.
— Entendo. 
— E adoro crianças - ela acrescentou, penosamente. As lágrimas invadiram seus olhos e teve dificuldade em vê-lo. 
Com os olhos fixos nos dela, Joseph abaixou-se e puxou a colcha da cama, num movimento rápido.
— Você não quer filhos... 
Ele abriu o primeiro botão da camisa.
— E eu acabaria querendo ter um filho seu.  
Ele abriu o botão seguinte... 

Último gente :(
Logo logo postarei o epílogo! 
Bjs lindonas <3

25/05/2016

sussurros na noite: capítulo 36


Joseph guardou o último maço de papéis dentro da pasta e levou-a para baixo até o vestíbulo, onde suas malas esperavam para ser guardadas no carro pelo motorista. 
Ficou parado no vestíbulo, com as mãos nos bolsos, dando uma última olhada em volta. Ele mesmo havia projetado aquela casa. Adorava as formas e espaços dos cômodos, os tetos altos e as vistas panorâmicas. Agora, estava contente por ficar longe dali por algum tempo. Para onde quer que se virasse, surgiam as lembranças de Demi e de sua crédula obsessão por ela. Tais emoções recebiam-no em todos os cômodos, e seguiam-no pelos corredores. Olhou de relance na sala de estar, e viu Demi sentada no sofá, preocupada com a possibilidade de ser presa. 
Os passos de Joseph ecoaram no piso de madeira envernizada, enquanto andava de um 
cômodo para outro. 
Passou pela porta da cozinha, e ali estava ela, preparando uma omelete no meio da noite. Quem não ajuda a cozinhar, não ajuda a comer, ela avisara. 
Então me dê uma tarefa. 
E que seja bem difícil.
Ela havia lhe dado uma faca e um pimentão verde. 
Eu estava pensando em algo mais ”másculo
E ela lhe entregara uma cebola. 
Joseph abriu a porta dos fundos e foi para o terraço, onde parou por um momento. À sua esquerda, estava a mesa onde ela havia compartilhado o desjejum com Courtney, Paul e ele, pela primeira vez. Courtney estivera exigindo os detalhes da noite anterior, quando Joseph levara um belo ”fora”, e Demi caíra numa risada contagiante. Não sei nada sobre flertes... Se eu tivesse um telefone, teria ligado para minha amiga Sara ali mesmo na pista de dança, e lhe perguntaria o que deveria dizer... 
Joseph desviou os olhos da mesa e fixou-os à sua frente. Ela o encontrara ali mesmo, no gramado perto do terraço, naquela noite depois da festa em sua homenagem, parecendo um anjo descalço levando as sandálias na mão. Quanto a este tipo de... relacionamento... Não tive o que você... o que algumas pessoas considerariam como muita experiência. Na verdade, tive apenas dois destes relacionamentos. 
Só dois? Que pena... Seria muito eu esperar que ambos fossem baixinhos e sem nenhuma importância? 
Sim, ela havia sussurrado, pousando a mão em seu rosto. Eles eram, sim
Acabaram indo para aquela espreguiçadeira à sua direita, naquela noite, onde ele se comportara como um adolescente ansioso, beijando-a e apalpando todo seu corpo. 
A praia estendia-se à sua frente. Ele a encontrara na praia, na noite em que Marie morrera. Havia voltado mais cedo de Miami, porque não suportara ficar longe de Demi. Quando a acompanhara de volta para casa, depois que ela o obrigara a ajudá-la a cozinhar, ele dissera: Estou louco por você. Queria ter dito ”Eu amo você” mas, graças a Deus, havia se contido. Caso contrário, esta seria mais uma coisa idiota que teria para se arrepender, agora. 
Joseph virou-se e voltou para a casa. De todas as mulheres que conhecera, perguntava-se que acesso de instabilidade mental, que acaso da química humana teriam feito dela a única que realmente queria, acima de todas as outras. 
Joseph não conseguia entender como pudera ser tão malditamente ingênuo. Teria apostado qualquer coisa que Demi estava tão apaixonada por ele, quanto ele estava por ela. Na verdade, ele tinha apostado nela e, no final, isso lhe custara uma fortuna. A ofensiva publicidade resultante da busca do FBI em seus iates havia causado sérios danos à sua reputação, e embora o FBI não tivesse encontrado nada, o simples fato de ele ter estado sob suspeita iria permanecer na memória das pessoas por muito tempo. 
Demi Lovato era tão linda e delicada quanto uma orquídea de rabo-de-cavalo. 
Joseph parou na porta da sala íntima da família e olhou para o cd inserido no aparelho de dvd. Durante dias, depois daquele em que Selena e Demi quase foram mortas, os noticiários da tv exibiram extensas reportagens, mostrando imagens de Demi cumprindo suas funções como policial. Mesmo considerando Demi como uma completa traidora, Courtney havia ficado fascinada com o que vira na televisão e, com uma inocente insensibilidade, tão típica dos adolescentes, gravava tudo o que via e, depois, atormentava Joseph para que ele também assistisse. 
Segundo Courtney, o Departamento de Polícia de Bell Harbor havia aparecido num episódio de uma série sobre a ”verdadeira polícia em Ação”, ou algo assim. Demi participara de uma blitz num ponto de venda de drogas, que fora filmada do começo ao fim. 
A cd de vídeo parecia acenar para Joseph. Aquela era sua última chance de ver Demi, antes de partir. Courtney e Paul tinham ido visitar Selena, e ele estava sozinho em casa. Encaminhou-se para o televisor, ligou o aparelho e inseriu o cd. 
A tela iluminou-se, o cd começou a rodar, e Joseph sentiu um fluxo renovado de fúria ao lembrar-se de que havia se oferecido para ensinar Demi a atirar, para que o ”anjo delicado” perdesse o medo de armas!
Na tela da tv, o ”anjo” usava uma jaqueta com a palavra polícia estampada nas costas, e estava abaixada ao lado de um carro-patrulha, com uma arma presa entre as mãos, dando cobertura aos colegas que se posicionavam num extenso gramado. 
Numa outra cena, Demi não se limitava a simplesmente dar cobertura aos companheiros, mas liderava o grupo, correndo na direção de um prédio e atocaiando-se perto da porta de entrada, segurando firmemente a arma nas mãos. 
Joseph apertou o botão de desliga. Ele a odiara naquele video.
Porem, se ela não o tivesse traído, ele a teria achado absolutamente magnífica. 
Lembrou-se de que deixara um dos documentos no andar de cima, e subiu para o escritório a fim de pegá-lo. Estava procurando o papel entre as pastas sobre a escrivaninha, quando ouviu vozes vindas do corredor. No instante em que ergueu os olhos, deparou com Nicholas Parker parado na porta, com Courtney de um lado e Paul do outro.
Paul logo percebeu o brilho ameaçador nos olhos do filho. 
— Joseph, será que poderia ao menos ouvir o que Nicholas tem a dizer? 
Em resposta, Joseph pegou o telefone e pressionou a tecla do interfone. 
— Martin - disse ao seu motorista/guarda-costas. — Há um intruso em meu escritório. Livre-se dele. - Voltou os olhos para a mesa, encontrou o documento que estava procurando e levantou-se, fazendo a volta pela escrivaninha. — Quando eu passar por você, Parker - disse, enquanto seu pai e sua irmã sabiamente se afastavam e lhe abriam caminho para o corredor. — Se der uma piscadinha que seja, vou considerar como uma agressão e ficarei encantado em poder chutar sua bunda para fora daqui. Estamos nos entendendo? 
Sem nada dizer, o agente do FBI deu um passo para dentro da sala, fechou a porta com um safanão e trancou-a, bloqueando a entrada de Paul, Courtney e principalmente a de Martin, que corria escada acima. Apoiando os ombros na porta, a fim de evitar que alguém tentasse abri-la, Parker cruzou os braços e fitou Joseph por um instante, impassível.
Do outro lado da porta, Courtney e Paul podiam ser ouvidos assegurando a Martin que ele não era necessário. Nicholas não tinha dúvida de que Joseph estava furioso o bastante para expulsá-lo pessoalmente naquele exato momento, mas contava com o fato de que Joseph não iria querer expor uma menina de quinze anos a uma cena de violência envolvendo a si próprio, mesmo se ela só pudesse ouvir, e não presenciar. Nicholas também contava com sua habilidade de disseminar a ira de Joseph antes que ele decidisse que, já que fora Courtney quem precipitara toda a cena, bem que poderia pagar o preço de ouvir uma briga de socos.
— Joseph - Nicholas falou finalmente, num tranquilo tom de conversa. — Eu passei duas semanas infernais. Na verdade, não passo por algo assim há uns cinco anos. 
Joseph recostou o quadril na escrivaninha, um músculo latejando na mandíbula cerrada, a atenção voltada para a porta, tentando descobrir se Courtney continuava ali, ou se teria se afastado. 
Nicholas sabia disso, e portanto falou um pouco mais depressa, e num tom mais amigável. 
— Você se lembra do caso Zachary Benedict, cinco anos atrás? 
O olhar de Jonas voltou-se para ele, cheio de desprezo. Era pouco provável que alguém tivesse esquecido o furor mundial que envolvera o famoso ator e diretor, vencedor do Oscar, que fora vítima de um erro de julgamento e acusado de ter matado a esposa. Benedict escapara da prisão e fizera uma refém chamada Julie Mathison, que acabara se apaixonando por ele. Nicholas havia capturado os dois no México, quando Benedict arriscara sua liberdade para reunir-se a Julie, e a cena violenta que se desenrolou no aeroporto da Cidade do México fora transmitida pelos canais de tv do mundo inteiro. 
— Posso concluir, pela sua expressão, que você se lembra deste incidente. Eu era o agente encarregado de prender Benedict. Fui eu quem levou Julie Mathison ao México e usou-a como isca no aeroporto.
 — Diga-me uma coisa - Joseph disparou. — Alguma vez você já foi atrás de alguém que realmente era culpado?
— Não no seu caso, obviamente. E tampouco no caso de Benedict. Mas fui ver Benedict, quando ele finalmente foi absolvido e libertado da prisão, depois do ocorrido no México, e tive sucesso ao pleitear com ele em favor de Julie. Ele a perdoou.
— E o que isso tem a ver comigo? 
— Já chego lá. Veja bem, existem duas grandes diferenças entre a situação de Julie com Benedict, e a situação de Demi com você neste momento: Julie foi para o México para ajudar-me a capturar Benedict, porque eu a convenci de que ele era culpado. Porem, nunca consegui convencer Demi de que você fosse culpado. 
Nicholas captou um brilho de relutante interesse nos olhos de Joseph, e voltou à carga: 
— Na verdade, nem me dei ao trabalho de tentar. Demi veio para Palm Beach apenas para ajudar-me a investigar Patrick Lovato. Ela não sabia que eu pensei que você estivesse trazendo o dinheiro que Lovato lavava para o cartel. Eu a mantive no escuro por diversos motivos e, um deles, foi porque Demi é uma idealista. Ela é leal, e muito esperta. Se tivesse suspeitado por um instante que eu a usava para obter informações que poderiam ser usadas contra você, acho que teria acabado com o próprio disfarce, e com o meu também, somente para protegê-lo. 
— Você acha mesmo que vou acreditar nisso? 
— Por que eu mentiria? 
— Porque você não passa de um filho da puta conivente. 
— Courtney compartilha da sua opinião - Nicholas falou, irônico. — É claro que ela expressou-se com um pouco mais de educação, mas o tom e o sentido eram os mesmos. No entanto - continuou, ríspido. — Isso não interessa. Eu disse que existem duas grandes diferenças entre as situações de Julie Mathison e Demi Lovato. E a segunda é esta: Julie sentiu-se culpada por ter traído Benedict, depois de tudo. Ela estava disposta a enfrentar a fúria de Benedict e sua recusa em vê-la, ou em deixá-la se explicar. Demi, por outro lado, não tinha nenhum motivo para se sentir culpada. E é tão orgulhosa quanto você, por isso pense bem antes de afastar-se dela para sempre. 
Nicholas saiu de perto da porta.
— Sei que lhe dei muito em que pensar. - Olhou no relógio.
— Você tem meia hora para decidir se quer ou não estragar sua vida e a de Demi. 
— O que diabos está querendo dizer com isso?
— Quero dizer que ela está à sua espera no Apparition. Portanto, pense um pouco. Mas lembre-se de que ela não está lá para implorar seu perdão. Ela nunca implora nada a ninguém. Quer apenas lhe dizer que sente muito tudo o que aconteceu, e despedir-se de maneira adequada. 
Nicholas virou-se para abrir a porta, mas parou e fez meia-volta. 
— Mais uma coisa - disse, sorrindo. — Eu vou me casar com Selena e, conforme descobri da pior maneira possível, ela tem um braço direito surpreendentemente forte. 
Joseph captou a indireta. 
— Ela lhe deu um tapa? - concluiu, sem emoção.
— Exatamente. 
— Por quê? 
— Eu acusei-a de ter matado Marie.
— Pois me parece um bom motivo - Joseph comentou, com irônico divertimento. 
— E uma hora depois disso, também descobri que Demi tem uma direita bem mais poderosa, e é ainda mais rápida do que Selena. 
O interesse reluziu nos olhos de Jonas.
— Demi também o esbofeteou?
— Não. Ela deu-me um soco de direita que quase me derruba no chão. 
— Por quê?  
Nicholas ficou sério. 
— Porque ela acabara de descobrir que eu a havia usado para atingir você. 
Nicholas havia dito tudo o que pudera pensar em dizer a fim de inocentar Demi, mas quando observou a expressão de Joseph, em busca de uma pista sobre como ele se sentia, percebeu que era completamente impassível. 
Joseph ficou sentado ali, depois que  Nicholas se retirou, pensando em tudo o que ele dissera. Não havia como ter certeza de que o agente do FBI lhe falara a verdade sobre Demi. Nunca haveria nenhuma prova. Ainda assim, ele tinha uma prova. Sempre tivera. A prova estava nos olhos de Demi quando o fitavam, em seus braços quando agarravam-se a ele, em seu coração, quando faziam amor. 
  
E era o bastante, Joseph decidiu. Levantou-se, ansioso em vê-la, até que um pensamento lhe ocorreu, e ele começou a rir. Parker não iria sair ileso de tudo aquilo. Depois de arruinar a integridade de Joseph, e espalhar dúvidas a respeito de seu caráter, Parker estaria ligado a ele para sempre, como co-cunhado! 
Joseph ainda estava sorrindo quando passou pelo vestíbulo, e foi interceptado por Courtney na porta da frente. 
— Acho que está na hora de nos despedirmos, não é? - a menina falou, um tanto deprimida demais para alguém como ela. — Nicholas disse que acha que nada do que falou fez a menor diferença para você. Não fique zangado comigo por tê-lo trazido aqui, está bem? Não quero que você vá embora com raiva de mim. - Ficou na ponta dos pés, enlaçou-lhe o pescoço e deu-lhe um beijo de despedida.
— Se não a conhecesse, seria capaz de pensar que você vai realmente sentir minha falta - ele brincou. 
Courtney encolheu os ombros.
— Vou, mesmo.
— Verdade? Pois eu pensei que você nem gostasse de mim.  
As malas já estavam no carro, e Joseph abaixou-se para pegar a pasta. A menina o observava, tentando detectar algo que pudesse lhe dar uma esperança.
— Eu gostaria muito mais de você, se perdoasse Demi
Por sobre o ombro dela, Joseph viu Paul parado na sala, olhando-o com a mesma expressão esperançosa que Joseph ouvira na voz da irmã. Ansioso em sair para encontrar-se com Demi, ele piscou para o pai e virou-se na direção da porta.
— Tudo bem, se for para fazer com que vocês gostem mais de mim... 
Aquilo era tudo que Courtney precisava ouvir. E não hesitou em levar a recém-descoberta vantagem até o seu limite máximo. 
— Sabe de uma coisa - acrescentou, enquanto abria a porta. — O que eu realmente gostaria, mais do que tudo, era que você casasse com Demi e ficasse morando aqui em Palm Beach!
Joseph riu e, abraçando a irmã, deu um beijo nos seus cabelos loiros. Ela tomou isso como um ”sim”, e seguiu-o até a varanda. 
— Joseph - chamou ansiosa, enquanto ele entrava no assalto traseiro do carro. — Sabe que eu daria uma tia sensacional? 
Com os ombros sacudindo-se de riso, Joseph fechou a porta do carro. 

Ta acabando amores :(
Comentem lindonas, bjs <3

24/05/2016

sussurros na noite: capítulo 35


Selena saiu do hospital no final da semana e foi para a casa da mãe, onde ficaria até recuperar-se totalmente. Nicholas tirou uns dias de férias para ficar com ela, Dianna a cobria de mimos, e Demi ia visitá-la todos os dias.
Dianna e Selena vicejavam, mas Demi parecia mais pálida e magra a cada dia, e Nicholas sabia que era por causa de Jonas. 
Tendo consciência de que o rompimento entre eles havia sido por sua culpa, estava mais do que disposto a tentar aproximá-los novamente, a despeito do fato de ter recebido ordens para ficar longe de Jonas. O que o impedia de fazer isso, no entanto, era que Jonas se recusava a vê-lo. Nicholas ligara duas vezes para marcar um encontro, mas Joseph não recebia suas chamadas, nem retornava as ligações. 
Nicholas estava pensando nisso enquanto Selena, Demi e Dianna conversavam na sala de estar da casa de Dianna numa tarde ensolarada, duas semanas depois da morte de Marie. 
A campainha tocou e, desde que ninguém parecera ter ouvido, Nicholas levantou-se e foi abrir a porta. Encarando-o com os olhos apertados, estava Courtney Jonas.
— Nós viemos visitar Selena - disse. — O que está fazendo aqui? Tentando confiscar a prataria? 
Nicholas olhou por cima do ombro dela e viu Paul saindo do carro, e uma frágil ideia começou a tomar forma em sua mente.
— Gostaria de conversar com vocês dois em particular, antes que entrem para ver Selena - ele disse, saindo para a varanda e forçando Courtney a recuar. Fechou a porta atrás de si, para que não tentassem passar por ele. Enquanto Courtney continuava encarando-o com surpresa, e Paul com raiva, ele falou simplesmente: — Sei que cometi uma grave injustiça com sua família, e fiz o mesmo a Demi. Gostaria de tentar acertar tudo, se vocês puderem me ajudar. Courtney fez um muxoxo de desprezo. 
— Por que não acena com sua insígnia do FBI e fala as suas palavras mágicas? Não é assim que você faz com que as coisas aconteçam? 
Mais uma vez Nicholas ignorou-a, dirigindo-se a Paul. 
— Demi não sabia de absolutamente nada do que eu pretendia fazer naqueles iates, Paul. Ela não fazia nenhuma ideia de qual era o meu interesse em Joseph, e nem quais eram os meus motivos. Quando concordou em ir para Palm Beach comigo, Demi sabia apenas que suspeitávamos das atividades ilegais de Patrick Lovato. Você leu os jornais. Sabe que ele confessou tudo, e que temos Dishler sob custódia. Dishler está pondo a boca no mundo. 
Fez uma pausa tentando captar a reação deles, mas sem saber o que sentiam, pressionou:
— Eu estava certo sobre Patrick. E me enganei sobre Joseph. O que importa, agora, é que vocês não se enganaram a respeito de Demi, quando pensaram que ela gostava de todos vocês. Devem ter ouvido tudo o que ela fez... arriscou a vida para salvar a de Selena. Ela confiou em mim, e eu traí esta confiança, mas o que fiz foi tentando cumprir o meu dever, na crença de que ela estava errada sobre Joseph, e eu estava certo. 
Parou de falar novamente, e Paul olhou para Courtney, como se quisesse ler seus pensamentos. 
— Courtney - Nicholas continuou. — Ela fala de você o tempo todo, para Selena e para a mãe. Ela está com saudades. 
— Por que deveríamos acreditar no que você diz? - Courtney indagou, teimosa. 
Nicholas enfiou as mãos nos bolsos. 
— E por que eu mentiria sobre isso? 
— Porque é um idiota? - Courtney sugeriu, mas sem muita convicção
— É óbvio que estou perdendo meu tempo com tudo isso - Nicholas falou, virando-se para abrir a porta. — Nenhum de vocês se importa realmente com Demi. Esqueçam. Estou cansado de tentar dar satisfações a pessoas que não estão interessadas. 
Ele abriu a porta e fez menção de entrar, mas Courtney segurou-o pela manga da camisa. 
— Demi está mesmo com saudades? 
Nicholas virou-se. — Está sim, de um jeito inacreditável. E seu irmão, não está com saudades também? 
Courtney baixou os olhos, enquanto suas lealdades empreendiam uma batalha interna; depois tornou a encará-lo.
— Ele sente tanta saudade que ainda hoje vai viajar para Saint Martin, um lugar que ele detesta, e quando estiver lá irá reunir-se com um bando de pessoas a quem detesta. Depois, vai voltar para San Francisco de vez. 
— Se você conseguir que eu fale com ele, posso tentar fazê-lo escutar. 
— Ele irá chutá-lo para o meio da rua - Courtney previu, encantada. — Não está exatamente apaixonado por você, se é que me entende. O que precisamos é fazer com que ele se encontre com Demi, e tem de ser num lugar onde ele não possa chutá-la para o meio da rua. 
Olharam um para o outro, chegaram à mesma conclusão, e entraram na casa. 
— Olá, todo mundo! - Courtney chamou. 
A voz da menina fez com que Demi se virasse, incrédula. 
— Não podemos ficar muito tempo - Courtney continuou, apressando-se para dar um beijo em Selena. — Que belo curativo, Selena. 
Os olhos de Demi voltaram-se para Paul, que abriu os braços para ela. Abraçando-a com força, disse, baixinho: 
— Courtney irá levar você e Nicholas até Joseph. Vá com ela. Se não for agora, Joseph terá partido, pois deverá sair em poucas horas. - Calou-se, olhando por cima do ombro dela, e deixou cair os braços. — Quem é aquela? 
Demi estava ansiosa em sair, e com tanto medo do que poderia acontecer, que precisou olhar para a mãe antes de responder: 
— Ah, é a minha mãe. Gostaria de conhecê-la? 
— Minha cara Demi - Paul respondeu, com um sorriso lento. — Nada me daria mais prazer.

O que acham que vai acontecer no encontro Jemi? 
Comentem lindonas, bjs <3

23/05/2016

sussurros na noite: capítulo 34


A atmosfera no Hospital Geral de Bell Harbor era nitidamente festiva, a despeito do fato de que o pequeno hospital estava todo cercado pela mesma imprensa enlouquecida que invadira Palm Beach para cobrir o assassinato de Marie Lovato. A tentativa de assassinato de Demi e Selena Lovato, na noite anterior, causara um verdadeiro tumulto, provocando desde sombrias conjecturas até as mais loucas teorias. 
As estações de tv locais preferiam dar o crédito à detetive Demi Lovato e ao oficial Jess Smith por todos os atos de bravura e iniciativa da noite, e fazer vista grossa ao heroísmo dos dois agentes do FBI que participaram do ataque de surpresa. 
A mídia em nível nacional achou muito curioso, e muito excitante, que um destes agentes do FBI havia sido manchete dos noticiários apenas dois dias antes, durante a busca e apreensão dos iates de Joseph Jonas.
O anúncio feito minutos atrás, um pouco depois do amanhecer, de que Selena Lovato recobrara a consciência havia assinalado o início de um clima mais festivo. E, conforme esperavam os funcionários do hospital, a saída da multidão de repórteres das suas portas.
— Sr. Parker? - Uma enfermeira sorridente entrou na sala de espera do terceiro andar. Baixando a voz para não despertar Dianna e Demi, disse: — A Srta. Lovato está acordada. Se o senhor quiser vê-la a sós por alguns minutos, esta é a sua chance. 
Nicholas levantou-se. Depois de esperar ali no hospital, hora após hora, que Selena recobrasse a consciência, ele subitamente não tinha ideia do que diria a ela. 
Sentiu um ligeiro pânico quando entrou no quarto e viu que os olhos dela estavam fechados, mas quando sentou ao lado da cama percebeu que a respiração era normal e estável, e que a cor em seu rosto havia melhorado bastante. 
Segurou a mão dela entre as suas. Selena abriu os olhos, e ele observou-a registrar a sua presença. Agora, esperou que ela se lembrasse do que ele era, o bastardo que duvidara de todas as coisas decentes e honestas que ela fizera, e depois cometera a injustiça final e terrível de acusá-la de ter matado a bisavó a quem tanto amava. Nicholas sentia que merecia o mesmo tratamento que recebera naquela noite em que ela lhe dera um tapa e batera a porta em seu rosto. 
Selena olhou para ele, e toda sua confusão desapareceu completamente. Engoliu em seco, fazendo o primeiro esforço para falar em dois dias, e Nicholas preparou-se para ouvir. A voz dela era menos que um sussurro. 
— Por que demorou tanto? - ela perguntou, com a leve sombra de um sorriso. 
Ele emitiu um riso nervoso, e apertou-lhe a mão entre as suas. 
— Eu fui atingida?
Nicholas assentiu, lembrando-se do pavor que sentira quando uma bala perdida ricocheteou e atingiu-a na cabeça. 
— Quem atirou em mim? 
Nicholas recostou a testa em suas mãos entrelaçadas, fechou os olhos e respondeu a verdade: 
— Acho que fui eu. 
Selena ficou imóvel por um instante, mas depois seu corpo sacudiu-se de riso. 
— Eu devia ter adivinhado. 
Nicholas fitou-a nos olhos e tentou sorrir.
— Eu amo você - disse.   

Ai gente que lindos Nelena! 
Espero que tenham gostado...ta acabando a história já gente :(
Comentem, bjs lindonas <3

22/05/2016

sussurros na noite: capítulo 33


A ameaça de chuva que fizera com que Demi começasse a correr acabou se transformando em apenas uns poucos pingos, e ela retomou a lenta caminhada. Normalmente o mar a tranquilizava, era como se cantasse para ela. Porem, desde que voltara de Palm Beach não conseguira mais encontrar consolo ali na praia. Antes de ir para Palm Beach, adorava as horas de silêncio e solidão em sua casa. Agora, também não conseguia mais ficar ali fechada. Abaixando-se, pegou uma pedra redonda e macia; depois caminhou devagar na direção das ondas e, com um meneio do pulso, tentou fazer com que ela pulasse na água. A pedra deveria ter saltado, mas em vez disso, bateu na água e afundou. Pensando no dia que tivera, Demi concluiu que aquilo encaixava-se perfeitamente. 
Havia chegado em casa um pouco depois das três horas e, até agora, passara a maior parte do tempo sentada numa pedra perto da área reservada para os churrascos e piqueniques. Ficara observando as nuvens indo e vindo no céu e obscurecendo o sol poente, enquanto tentava ouvir a música do mar. Nas tardes calmas, o mar tocava sonatas de Brahms para ela; nas noites de tempestade, era Mozart. Porem, desde que voltara de Palm Beach, a música desaparecera; agora o mar parecia apenas lastimar-se, às vezes com sons lamentosos e murmúrios tristes que a atormentavam até mesmo durante o sono.
O mar queixava-se a ela porque sua bisavó estava morta, mas o assassino ainda estava livre. Murmurava que ela havia amado e perdido este amor porque desapontara a todos. Enumerava suas perdas em cada subir e descer das ondas. Marie... Joseph... Selena... Paul. Demi ficou parada diante do mar, com as mãos nos bolsos, ouvindo o surdo refrão, e isso fez com que quisesse voltar para casa, mesmo sabendo que nem ali seria capaz de encontrar refúgio.
Atravessou a rua na esquina, com a cabeça baixa, torturada pelas lembranças e sendo seguida pelos murmúrios tristes, insistentes. Estava tão absorvida em pensamentos que, somente quando estava chegando à porta que dava para a cozinha, levantou a cabeça e percebeu que os fundos da casa estavam às escuras. Desde que voltara de Palm Beach ela passara a deixar uma luz acesa na cozinha e outra na sala, para que não encontrasse a casa escura quando chegasse. E tinha certeza de que deixara a luz da cozinha acesa. 
Imaginando como poderia estar se lembrando tão bem de algo que, obviamente, não fizera, Demi aproximou-se da porta. Então, viu que uma parte do vidro da porta estava quebrada, e tirou a mão do trinco rapidamente. Fez um giro, recostando na parede da casa e, em seguida, abaixou-se de cócoras. 
Mantendo-se abaixo do nível das janelas, fez o contorno da casa até chegar na parte da frente, notando que a luz da sala continuava acesa. Fez um rápido cálculo das probabilidades e das respostas mais apropriadas: não tinha como saber se ainda havia alguém ali dentro, ou por que haviam entrado na casa. Os ladrões costumavam entrar e sair bem depressa, mas normalmente não apagariam uma luz que já estivesse acesa. 
Demi estava com a chave da casa, mas sem a chave do carro, e sem a sua arma. A Glock continuava sob custódia da polícia de Palm Beach, e a arma que lhe foi entregue em substituição encontrava-se na sua bolsa, no quarto. Havia também um trinta-e-oito na escrivaninha da sala. Se houvesse alguém dentro da casa, a coisa mais sensata a fazer seria sair dali, ir para a casa de um vizinho e ligar pedindo ajuda.
E este era o seu plano, até que alcançou a parte da frente da casa e viu o conhecido Jaguar conversível parado na rua. O carro de Selena. Será que ela havia arrombado a porta da casa e deixado o carro ali, bem às suas vistas? A ideia era tão estranha que parecia sinistra. 
Com todo cuidado, Demi recuou novamente para os fundos da casa e, em silêncio, girou a maçaneta da porta enquanto, automaticamente, posicionava-se para o lado, fora da linha de fogo. Então, ouviu algo lá dentro. Um movimento? Um gemido? Uma palavra? 
Através do vidro quebrado, fez um rápido exame do interior da cozinha escura, certificando-se de que estava vazia, e verificando que a porta que ligava este comodo com a sala estava fechada. 
Todos os seus sentidos estavam em alerta, agora, sintonizados em quaisquer nuances de som, enquanto esgueirava-se para dentro da cozinha e, cautelosamente, entreabria a porta vai vem com a ponta do dedo. 
Selena estava sentada na escrivaninha da sala, de frente para a cozinha, pálida de terror, enquanto um homem às suas costas lhe apontava uma arma. Rezando para que houvesse apenas um homem, Demi abriu um pouco mais a porta. 
Selena a avistou e, num impulso desesperado, começou a falar, tentando distrair seu agressor e dar uma pista a Demi. 
— Demi não vai escrever uma confissão dizendo que matou minha bisavó somente para ”livrar a cara” do meu pai. Ela irá saber que vocês pretendem matá-la assim que fizer isso. 
— Cale a boca! - o homem sibilou. — Ou não viverá o bastante para descobrir se estava certa! 
— Não sei por que são necessários três homens armados para matar uma mulher! - Selena soube, naquele momento, que ela e Demi iriam morrer. Pressentiu isso com uma terrível sensação de fatalidade. 
— Agora que você apareceu - um homem postado à esquerda da porta da cozinha falou, num tom suave. — Serão duas mulheres.
Selena presumiu que Demi iria recuar, mas o que ela fez em seguida foi tão espantoso quanto impensável. Demi abriu a porta de todo, levantou as mãos abertas a fim de mostrar que não estava armada, e entrou na sala.
— Deixem-na em paz - disse, muito calma. — É a mim que vocês estão querendo. 
Selena gritou, o homem perto da escrivaninha fez um rodopio, e os outros dois agarraram os braços de Demi e jogaram-na de encontro à parede, cada um apontando uma arma em sua cabeça. 
— Ora, ora, bem-vinda ao lar! - um deles falou. 
— Deixe-a ir embora, e eu farei o que vocês quiserem - Demi disse, com tanta tranquilidade que Selena nem conseguia acreditar.
— Você vai fazer o que quisermos, ou iremos matar a sua irmãzinha bem diante dos seus olhos - o homem que estava perto de Selena falou, enquanto fazia a volta pela escrivaninha. Segurou Selena pela gola da blusa e puxou-a para fora da cadeira, atirando-a na direção do homem que rendia Demi. — Você - disse, apontando a arma para Demi. — Venha até aqui. Vai escrever uma carta.
— Tudo bem, eu escrevo - ela disse, sendo empurrada para a frente com tanta força que tropeçou. — Mas vocês estão cometendo um erro. 
— Você cometeu um erro quando entrou por aquela porta - disse o homem junto à escrivaninha, enquanto a segurava e empurrava-a para a cadeira. 
— Se quiserem continuar vivendo depois que saírem daqui - Demi avisou. — É melhor você pegar aquele telefone e ligar para a pessoa que os enviou. 
O homem pressionou o cano da arma na cabeça de Demi.
— Cale a boca, merda, e comece a escrever! 
—  Está bem. Deixe-me pegar o papel na gaveta, mas estou avisando... minha irmã não tem nada a ver com isso. Não... não precisa empurrar esta arma com mais força na minha cabeça. Eu sei que você vai me matar. Mas não deve matar Selena. Ligue para seu patrão e pergunte. 
À sua esquerda, Demi reparou numa sombra movendo-se no corredor que dava para seu quarto, e sentiu o suor brotando em sua testa, enquanto o fluxo de adrenalina aumentava. Começou a falar mais depressa, mais intensamente, tentando distrair seu agressor para que ele não percebesse o movimento.
— É a ela que estão tentando proteger, com a minha morte. Diga ao seu patrão que... 
O bandido agarrou-a pelos cabelos e puxou-lhe a cabeça para trás. Enfiou o cano da arma em sua boca.
— Se você falar mais uma palavra, eu aperto o gatilho.  
Ela assentiu devagar, e ele afastou a arma e soltou-lhe os cabelos.
— O que você quer que eu escreva na carta? - perguntou, abrindo a gaveta lentamente. Com a mão direita, retirou uma folha de papel, enquanto a mão esquerda fechava-se em torno do coldre do revólver trinta-e-oito. Usando a folha de papel como cobertura, deixou a arma no colo e aproximou-se mais da escrivaninha a fim de escondê-la. — O que vou escrever? - repetiu. 
O homem tirou um pedaço de papel do bolso e bateu-o sobre a mesa, na frente dela. 
Na mente de Selena, poucos instantes antes que tudo se apagasse, o barulho do papel sendo deixado na mesa coincidiu com as explosões simultâneas, vindas de todas as direções, e uma dor aguda e súbita em sua cabeça. A última coisa que viu, antes de mergulhar num poço de escuridão, foi o rosto de Nicholas Parker, contorcido de fúria. 

O que acharam gente? 
Achei essa capítulo muito bom, a demi super corajosa! 
Comentem, bjs lindonas <3